Festival Choro Jazz abre edição 2025 em Soure com Egberto Gismonti, carimbó e Nilson Chaves
Com programação gratuita até domingo (13), evento reúne mestres da música brasileira, artistas marajoaras e atrações nacionais no coração do arquipélago do Marajó
Soure, no arquipélago do Marajó, abriu as portas na noite desta sexta-feira (11) para a segunda edição do Festival Choro Jazz no Pará. Com entrada gratuita e programação no Parque de Exposições, no centro da cidade, o evento segue até domingo (13), reunindo grandes nomes da música instrumental brasileira, artistas amazônicos e grupos tradicionais marajoaras em um encontro que celebra a diversidade sonora e cultural da região.
A primeira noite do festival começou com um momento de pura reverência à música instrumental brasileira: o consagrado multi-instrumentista Egberto Gismonti, referência no cenário nacional e internacional, subiu ao palco ao lado do violonista Daniel Murray, conduzindo o público por um espetáculo repleto de atmosferas sonoras, improvisos e composições que transitam entre o erudito e o popular com liberdade criativa.
Na sequência, o grupo de carimbó Nativos Marajoaras ocupou o palco. O show foi realizado a pedido do mestre Damasceno, que, por motivos de saúde, precisou cancelar sua participação nesta edição. A apresentação contou com a presença do mestre Eliezer, levando ao público o ritmo e a tradição do carimbó com a energia das raízes marajoaras.
O terceiro show da noite foi do cantor e compositor Nilson Chaves, um dos grandes nomes da música paraense, que dividiu o palco com o paulista Celso Viáfora em um espetáculo intimista, repleto de poesia, identidade amazônica e afeto. Fechando a sexta-feira, o grupo Choro na Rua, do Rio de Janeiro, trouxe clássicos do gênero com arranjos modernos e muita interação com o público, encerrando a primeira noite em clima de celebração e leveza.
A diretora da Iracema Cultural e sócia do Choro Jazz, Aline Moraes, reforça que o compromisso com o território e com o acesso democrático à música são pilares do festival desde sua concepção.
“A democratização do acesso à música instrumental, que historicamente foi colocada em espaços elitizados, é uma bandeira que carrego com muito compromisso. Toda a programação é gratuita, feita em um espaço acessível, e buscamos sempre garantir que a comunidade local se reconheça, tanto na plateia quanto no palco e nas oficinas. A nossa equipe é majoritariamente marajoara, e a coordenação local é feita por Manuela Paixão, uma mulher do território, o que pra mim é um orgulho enorme. Isso nos garante escuta, conexão e presença real”, destaca Aline.
Neste sábado (12), a programação segue a partir das 20h30 com uma nova rodada de atrações. O início da noite será com o Grupo Cultural e Parafolclórico Eco Marajoara, que representa a riqueza das danças e cantos tradicionais da região. Na sequência, a cantora amapaense Patrícia Bastos se apresenta ao lado do paulista Renato Braz e do pianista carioca Cristovão Bastos, em um espetáculo que promete unir tradição amazônica e refinamento harmônico.
Outro destaque da noite será o show “Encontro Norte e Nordeste”, que reúne o Grupo Gaponga (AM) e os músicos Tâmara Lacerda e Ranier Oliveira, do Ceará. A proposta da apresentação é dialogar com os ritmos de ambas as regiões, promovendo uma fusão entre carimbó, maracatu, baião e outras sonoridades populares. Encerrando o sábado, sobe ao palco a banda Tocaia, formada por músicos do Rio de Janeiro, trazendo uma leitura contemporânea da música brasileira com pitadas de jazz, rock e groove.
O encerramento do Festival Choro Jazz será no domingo (13), a partir das 20h, com mais quatro atrações que reafirmam o diálogo entre tradição e inovação. A noite começa com o Grupo de Tradições Folclóricas Os Aruãs, um dos mais representativos do Marajó, seguido pela cantora paraense Jane Duboc, que divide o palco com o pianista Gilson Peranzzetta, em um encontro de vozes e acordes refinados.
O ponto alto do domingo será a apresentação de um supergrupo formado por Arismar do Espírito Santo, Filó Machado, Gabriel Grossi e Michael Pipoquinha, músicos reconhecidos internacionalmente por sua habilidade e criatividade na música instrumental. Fechando a programação, o guitarrista paraense Manoel Cordeiro, símbolo da musicalidade amazônica, traz ao palco sua energia característica e um repertório que transita entre o guitarrada, o carimbó e o brega-pop.
O idealizador do festival, Ivan Capucho, reforça que o Choro Jazz vai além da música e aposta na força transformadora da cultura.
“Cultura e turismo caminham lado a lado e, quando fortalecidos juntos, transformam territórios. O festival movimentou a cena local, abriu espaço para as culturas regionais se misturarem com grandes nomes nacionais. Teve um impacto bem interessante. Desde que o Choro Jazz chegou ao Marajó, meu desejo sempre foi que ele se tornasse um vetor de valorização cultural e também de desenvolvimento local. Soure tem uma beleza única e uma riqueza simbólica que merecem ser reconhecidas para além do turismo convencional”, disse.
A visão de Capucho se concretiza em cada detalhe da curadoria e da ocupação dos espaços públicos. Durante os dias de festival, pousadas, restaurantes, barcos e feiras ganham novo fôlego com o aumento da circulação de pessoas, impulsionando a economia local. “A cultura, quando enraizada e compartilhada com respeito, tem esse poder de ativar territórios de forma profunda”, completa.
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