Música paraense completa seis anos sem Mestre Vieira

Mestre Vieira foi criador da guitarrada e um dos artistas vanguardistas da música paraense

Vito Gemaque
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Há seis anos a música paraense perdia o Mestre Vieira, o criador da guitarrada. Nascido em 29 de outubro de 1934, em Barcarena, nordeste paraense, Joaquim de Lima Vieira, se tornou um dos grandes guitarristas do Pará, vanguardista pertencente a um grupo de notáveis. Mestre Vieira deverá ganhar algumas homenagens quando completaria 90 anos de idade.

Com apoio da Lei Paulo Gustavo, o documentário "Coisa Maravilha, A Invenção da Guitarrada" está sendo finalizado. O filme mapeia a trajetória do Mestre Vieira, com imagens capturadas em 2011, em Barcarena e Belém, e posteriormente, em 2019, em Fortaleza (CE), revisitando o auge da carreira nos anos 1980. “Quero muito que o lançamento do documentário seja em outubro, quando ele estaria completando 90 anos. Além do documentário, obtivemos aprovação para a série de animação ‘Os Dinâmicos’, selecionada no edital da LPG pela Funtelpa, prometendo o retorno dos nossos heróis às telas da TV Cultura do Pará em breve”, adianta a documentarista e jornalista Luciana Medeiros.

A guitarrada que teve como um dos fundadores Mestre Vieira continua influenciando a música paraense e brasileira. “A influência de Mestre Vieira é imensurável, transcendendo gerações. Seu papel fundamental na música paraense e brasileira se reflete no legado que deixou. Reconhecido como o criador da Guitarrada, gênero musical consagrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Pará em 2011 e, mais recentemente, sua obra também se tornou patrimônio paraense por lei sancionada pelo governador em maio do ano passado”, declara Luciana.

Mestre Vieira tinha um jeito único de tocar. A Guitarrada incorpora elementos do choro, com influências da música brasileira, do ieieiê e da música caribenha. Gênero precursor da Lambada e que o guitarrista e vocalista do Paralamas do Sucesso - Hermano Vianna - afirmou ser uma escola de guitarra popular brasileira.

Vieira aprendeu a tocar banjo aos cinco anos idade. Depois foi a vez do bandolim, cavaquinho e violão. Somente na segunda metade dos anos 1960, que o artista encontraria com a guitarra para nunca mais largar após ver o instrumento em um filme no cinema. O músico inseriu a guitarra no seu conjunto regional e ganhou o nome de ‘Os Dinâmicos’ que, poucos anos depois, se tornaria ‘Vieira e Seu Conjunto’. A primeira gravação com a guitarra elétrica foi o LP “Lambadas das Quebradas”, em 1978, e o último, “40 Graus”, em 1991. No total foram 13 LPs gravados.

O pesquisador e musicólogo Bruno Rabelo que estudou a obra de Mestre Vieira ressalta a importância da obra do filho pródigo de Barcarena. “Mestre Vieira é um dos pilares da nossa música do Norte, porque quando ele grava o seu primeiro disco em 1978, ‘Lambada das Quebradas - volume I’, ele juntamente com Pinduca, Fafá de Belém, Verequete, Cupijó, mestre Lucindo, Tiapê, vai ser assim o chamado o grupo pioneiro, que finalmente vai registrar em LP a sonoridade da Amazônia feita por pessoas da Amazônia. É uma música produzida na Amazônia, principalmente pelo povo ribeirinho. Mestre Vieira é de Barcarena, cidade vizinha de Belém. Vai ser a primeira vez que artistas locais vão ter espaço nacionalmente através de gravadoras como Continental, RGE e Copacabana. Essas gravadoras finalmente entendem que havia aqui uma música nortista e precisaria ter essa visibilidade”, relata.

Segundo Bruno, antes deste grupo outros artistas paraenses gravaram discos, mas não sobre temas amazônicos. Mestre Vieira foi um dos vanguardistas daqueles novos artistas. “Ao fazermos uma análise musicológica do trabalho de Mestre Vieira, nós notamos primeiramente o choro brasileiro como a base de sua música. Ele nasceu em 1934. Então, na sua infância e adolescência, anos 40 e 50, o choro ainda era muito forte no Brasil, assim como o samba”, explica.

Caso Mestre Vieira estivesse vivo hoje, Luciana acredita que ele estaria tocando e conectado com a cena musical paraense que tem despontado pelo mundo. “É provável que continuasse sua exploração e inovação na música. Dada sua paixão pela Guitarrada, ele poderia estar colaborando com músicos mais jovens, transmitindo sua expertise e influenciando novos estilos, mantendo-se ativo e criativo”, reflete.

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