Mãe e filho Drag Queen celebram Dia das Mães; conheça a história de Sol e Lucas Espíndola
Sol Espíndola é mãe de Lucas Espíndola, de 15 anos e também da sua versão Drag Queen, Espíndola Brotero e contam sobre a relação de afeto e respeito construída e como a arte Drag chega a toda a família
Sol Espíndola, 49 anos, é mãe da Letícia Espíndola, de 18 anos, de Lucas Espíndola, de 15 anos e também da sua versão Drag Queen, Espíndola Brotero. Em entrevista, eles contam sobre a relação de afeto e respeito construída e como a arte Drag chega a toda a família, já que até a avó Maria Eremita, 75 anos, matriarca da família, participa deste processo. Para a família Espíndola, o Dia das Mães será ainda mais especial.
Com o espelho posicionado na mesa da cozinha, apoiado em alguns livros, e os produtos de maquiagem sendo retirados da caixinha de sapatos, Lucas começa a dar vida a Espíndola, enquanto a sua mãe fala orgulhosa a reportagem de O Liberal sobre como percebeu que a filha tinha talento para as artes e como entrou nesse universo. "A Espindola sempre procurou assistir vídeos referentes à arte Drag e imitava as dublagens em frente ao espelho, assim eu notei seu talento. Eu já conhecia a arte, mas apenas pela TV. A Espindola hoje é quem me mostra o quanto essa arte é bonita", disse Sol.
Para Espíndola Brotero, a arte Drag surgiu em 2018, a partir do movimento das Themônias e em 2021 assistiu a um espetáculo com várias Drags. Mas foi conhecendo a performance de "bate cabelo", criada pela Drag brasileira Marcia Pantera, que resolveu se montar. "Me despertou muita vontade de querer fazer aquilo, e como eu sempre via muitas Drags, minha mãe sempre estava comigo. Então ela também gostava de assistir, então falar pra ela foi muito natural, aos poucos ela foi gostando da ideia", relembrou.
"Bate cabelo foi o que fez eu querer de fato fazer Drag, querer colocar tudo isso pra fora, começou quando conheci as queens de bate cabelo como Leona Top Flúor, Natasha Princess, Márcia Pantera e conhecendo elas, em menos de um mês, eu já queria fazer minha primeira performance de bate cabelo. E fui aprendendo tudo sozinho, a bater cabelo, prender peruca, treinando muito", ponderou.
Os laços que unem três gerações
A família chefiada por mulheres, sempre prezou por um ambiente de diálogo e apoio mútuo. Sol contou que tanto a descoberta da homossexualidade de Lucas, quanto a vontade de se montar do filho são encaradas com naturalidade, pois nunca precisou ter "a conversa", porque o diálogo acontecia espontaneamente. "Lucas tinha 14 anos. Eu virava para a minha filha Letícia e dizia: 'o Lucas vai por esse caminho', e um dia íamos ao teatro e ele disse que queria ir 'assim', e eu perguntei: ''assim como?' Ele disse para irmos ao comércio comprar uma peruca. Compramos peruca, outras coisas. Ele se montou e disse: 'vou assim'", relembrou a mãe.
"Não foi surpresa que o Lucas fosse um dia criar a Espindola, pois sempre ficou bem claro que ele adorava a arte Drag, eu disse pra ele que queria fazer o figurino pra ela, e a cada roupa vamos melhorando e isso me gratifica, vestir a Espindola Brotero", completou Sol ao revelar que ela é quem idealiza e costura os figurinos de Espíndola.
A família participa da montação. Sol contou que a primeira vez que a filha Drag iria performar, pediu um salto, mas ao contrário do que as pessoas pensam que sua preocupação estaria em Lucas estar de salto por preconceito, ela revela que era medo do filho cair, disse entre risos. "Ele me pediu e eu fiquei com medo dele cair do salto, a minha mãe, avó dele disse: 'toma o dinheiro, vai comprar seu salto'. E eu fiquei feliz, porque é outra geração. Eu não quero esconder meu filho, eu quero proteger ele. Eu não quero que ele fique em casa. A arte dele é tão bonita, daqui a uns 10 anos ele vai estar brilhando ainda mais", contou orgulhosa.
As pessoas próximas questionaram a mãe de Lucas sobre as dificuldades de ser mãe de uma Drag Queen, no entanto, ela sempre diz que não há dificuldades, somente alegria. "As pessoas me perguntam se eu tenho dificuldades, porque eu tenho um filho negro, homossexual e Drag Queen? Não tenho dificuldade nenhuma. Tenho um filho negro, gay, e agora uma filha Drag. Meu filho é inteligente, estudioso [cursa o 2º ano do ensino médio], ele tem esse talento. Quando ele sobe no palco como Espíndola - ai eu vou me emocionar - eu acho lindo. Eu tenho que ajudar", arguiu.
"Eu não tenho dificuldades nenhuma de ver meu filho de batom e peruca. Quando ele bate cabelo, eu tenho medo da peruca cair, mas como ele diz 'no fim vai dar tudo certo'. Essa parte de levar ele aos lugares, sempre tem nervosismo, mas quando a gente chega parece que abre uma luz. Quando ele desce do carro, põe o salto, já é a Espindola Brotero, brotando. Aí já é alegria. Eu fico apreensiva na rua, mas quando chegamos nos espaços que sempre são espaços LGBTS as pessoas todas tem carinho, batem foto. Eu acho muito bacana o fato dele se apresentar", concluiu.
Para o Dia das Mães, Sol deseja que outras mães possam proporcionar esse acolhimento familiar, possam dialogar e ter respeito e o seu desejo e melhor presente enquanto mãe, seria uma performance de Espíndola. "É um presente de Dia das Mães. A Espíndola teve muitas realizações, e esta matéria hoje está sendo a realização do sonho do Lucas e da Espindola, de mostrar essa transformação. Realizando o sonho dele, para uma mãe é só isso que a gente deseja, a felicidade do filho. Vou adorar se o Lucas estiver no Dia das Mães de Espindola Brotero e apresentar algo para mim", finalizou.
"Com certeza, o Dia das Mães é um dia muito importante e merece ser comemorado, com muito amor e diversão entre mães e filhos", concordou Espíndola.
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