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Lilia Guerra: As periferias brasileiras em “O Céu Para Os Bastardos”

Autora negra da periferia de São Paulo tem sido um dos novos destaques da literatura brasileira

Vito Gemaque
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Uma periferia rica e pulsante com personagens singulares com dramas e alegrias é o objeto de Lilia Guerra em “O Céu Para Os Bastardos” (2023), livro lançado pela editora Todavia. A escritora de 47 anos, natural de São Paulo, tem se destacado como um dos novos nomes da literatura brasileira. Autora de oito livros, dentre eles “Amor Avenida”, “Perifobia”, “Rua do Larguinho” e “Crônicas para colorir a cidade” traz a periferia das cidades com sua riqueza de vivências.

O novo livro de Lilia traz com sensibilidade o cotidiano das periferias brasileiras. Em “O Céu Para Os Bastardos”, a narradora Sá Narinha narra a sua história e de outros personagens na comunidade de Fim-do-Mundo. Sem nomear a cidade ou Estado em que a história se passa, o livro pode refletir qualquer periferia urbana brasileira, do Sul ao Norte. Lilia, que divide seu tempo entre o trabalho como auxiliar de enfermagem da saúde pública da capital paulista e a literatura, cria personagens únicos que nas 171 páginas permitem aos leitores rir e chorar com a vida dessa gente esquecida.

“O Fim-do-Mundo se ambienta em variados lugares. Logicamente, em muitos mais lugares onde eu vivi minhas experiências efetivamente, mas também de observação, de passagem, de memória, ou mesmo de compartilhar depoimentos e conversar com pessoas. Pode ser qualquer lugar onde coisas semelhantes acontecem com a falta de investimento, de estrutura, condições precárias, mas não só isso. Nos fins de mundo, coisas bonitas também acontecem, coisas alegres, especiais e importantes. Eu também gosto de registrá-las. Eu não quis apontar determinado local, porque queria que as pessoas as pensassem nos seus próprios lugares também”, detalha a escritora.

“O Céu Para Os Bastardos” aborda temas sensíveis como preconceito, pobreza, uso de drogas, exclusão e morte, assim como também fala de amor, solidariedade, maternidade, amizade e vida, sem pieguismo. Como tudo na periferia de Fim-do-Mundo é uma profusão de pessoas e sentimentos.

A inspiração para criação dos personagens veio da própria realidade da pequena Lilia, que lia e observava muito o mundo a sua volta. Com a avó, via e ouvia o cotidiano dos amigos, vizinhos e parentes da periferia de São Paulo. Ela se incomodava com a ausência daquelas pessoas na literatura. “Eu não via aquelas pessoas nos livros que eu lia. Nem encontrava aquelas histórias, do tintureiro, do vendedor de alho, da costureira, eu encontrava temas mais fantasiosos nos livros. Buscas de tesouros perdidos, brigas por heranças gigantescas, dinastias, histórias fantásticas e fabulosas. E para mim, os acontecimentos do meu cotidiano eram os grandes conflitos, aquilo que era importante. Eu queria ver o desfecho daquelas histórias”, destaca.

A obra começa com um versículo do livro de Deuteronômio que fala sobre a exclusão das crianças bastadas (não registradas e fora do casamento), algo ainda comum no Brasil. Lilia começa refletindo já sobre essas crianças que ao nascerem eram-lhes negado o direito ao “ceú”.

“Na época que a história se desenvolve uma criança sem o nome do pai não poderia ser batizada em uma igreja católica apostólica romana. Muito se falava sobre o paganismo, as pessoas tinham medo, elas procuravam batizar os filhos bebês, porque acreditavam que mesmo uma criança, que supostamente não cometeu nenhum pecado, se morresse sem o batismo não poderia entrar no céu. Então, essa recusa da igreja em batizar as crianças apenas no nome da mãe já condenava ao inferno. Daí o título ‘O Céu para os Bastardos’”, explica.

O sucesso de crítica e público de “O Céu Para Os Bastardos” tem feito de Lilia uma escritora cada vez mais ocupada. Ela tem sido convidada para várias entrevistas e atividades. “O livro tem fomentado discussões, reflexões e tem sido bem distribuído. Eu sigo com a função que exerço na saúde, como auxiliar de enfermagem, mas já tenho a literatura como ofício, como atividade profissional, independentemente de viver financeiramente, importa que a remuneração do autor seja efetiva e justa”, atesta.

Livro “O Céu Para Os Bastardos”

Autora: Lilia Guerra

Gênero: Ficção brasileira

Categoria: Romance

Capa: Paula Carvalho

Páginas 176

Preço R$ 54,90

E-book R$ 36,90

Editora Todavia

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