Fotojornalistas em Belém lamentam a morte de Sebastião Salgado nesta sexta (23)
Admiradores do trabalho de Salgado relatam o impacto causado pelo falecimento e comentam o legado dele para a fotografia e fotojornalismo

Se de imagens se faz um homem, o fotojornalista Sebastião Salgado, que faleceu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, deixa uma legião de admiradores de sua arte, incluindo profissionais da fotografia atuantes em Belém do Pará. "Fiquei impactada, sou uma admiradora do trabalho dele", declarou a fotojornalista Paula Sampaio ao tomar conhecimento da morte de Salgado. Semelhante a ele, Paula desenvolveu um trabalho de registro fotográfico sobre temas da Amazônia, especialmente na região da rodovia Transamazônica.
Reconhecimento e inspiração pessoal
Paula Sampaio relembra que Sebastião Salgado fez parte do júri que concedeu a ela um dos prêmios Mother Jones International Fund for Documentary Photography (1997), uma premiação dedicada ao documentarismo mundial. No caso de Paula, a premiação abrange o projeto "Fronteiras", que ela desenvolve até hoje sobre o cotidiano nas margens das rodovias Belém-Brasília e Transamazônica. "E ele deixou um recado para mim, por meio da coordenadora do projeto, dizendo que tinha ficado muito feliz de ver alguém trabalhando com humanidade na Amazônia, fazendo uma fotografia que era humana. Desejou sorte e disse para eu nunca desistir", afirma Paula.
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Emocionada, Paula Sampaio ressalta: "Para todos nós que trabalhamos com jornalismo, fotojornalismo, documentação, ele foi uma grande referência de um tempo, de uma abordagem e de como é importante lidar com as pessoas e com aquilo que você fotografa de forma honesta, direta, humana. Ele fez isso".
O último trabalho: uma profecia sobre a natureza
Em especial, o último trabalho de Sebastião Salgado, como frisa Paula, foi quase uma profecia. "Ele eliminou o ser humano das imagens e fotografou a natureza. Isso, para mim, é profético. As imagens dão conta desse mundo que a gente tem nas mãos, no nosso corpo, na nossa vida, e que a gente mesmo está destruindo, né? Acho que esse último trabalho dele foi um fechamento de ciclo e uma reflexão sobre a nossa existência", finaliza Paula.
Um encontro inesperado com Ary Souza
O saudoso fotojornalista paraense Ary Souza foi protagonista de diversas histórias durante sua atuação no jornal O Liberal. Uma delas envolveu Sebastião Salgado. Ary, referência no fotojornalismo do Pará, estava em cobertura jornalística no município de Eldorado do Carajás, no sudeste do Pará, no caso conhecido como Massacre de Eldorado de Carajás, em que 19 trabalhadores rurais foram mortos em confronto com policiais militares. Em dado momento, sentou-se para descansar e, perto dele, estava Sebastião.
Sem saber que se tratava de um dos mais respeitados fotógrafos do mundo, Ary Souza e o homem começaram a conversar. Então, Ary acabou ministrando uma espécie de "workshop sobre fotografia" para Salgado. Quando os outros repórteres fotográficos souberam do bate-papo, vieram correndo até Ary para saber do que tinham falado e disseram que se tratava de Sebastião Salgado.
Naquele dia, pode-se dizer que Salgado ganhou macetes sobre como fotografar a Amazônia. Como foi divulgado recentemente na imprensa, Sebastião Salgado pretendia mostrar trabalhos sobre a região durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), em Belém, no próximo mês de novembro.
Luto na fotografia mundial
Para o fotojornalista Tarso Sarraf, coordenador de Fotografia e Audiovisual do Grupo Liberal, a morte de Sebastião Salgado é uma perda para a fotografia mundial. "A fotografia está de luto hoje por esse fato. Sebastião Salgado deixou um legado muito grande, em particular o trabalho que fazia com relação à Amazônia, à natureza, com a qual ele tinha uma ligação muito forte", enfatiza.
Tarso ressalta os trabalhos de Salgado em preto e branco e a capacidade que ele tinha de sempre contar uma história. Ele diz que leva para a vida o que assimilou em palestras proferidas por Sebastião Salgado.
Militante da vida e da informação
A fotógrafa e jornalista Maria Christina se manifesta sobre o falecimento de Sebastião Salgado: "Perdemos um profissional que usou o talento e o trabalho para chamar a atenção do mundo para questões sociais e ambientais, unindo sua voz às problemáticas contemporâneas e atuais". Para ela, a obra de Salgado "é um acervo do mundo contemporâneo, de importância inquestionável".
Sobre a relação de Sebastião Salgado com a Amazônia, Christina diz que "ele ouviu o chamado da floresta, e dos povos, e a registrou, mostrou-a ao mundo". Para ela, o legado de Salgado é o da "militância pela vida, pela informação, a que todos têm direito".
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