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Fé eternizada na arte: visões de Círio estimulam produção para o período

Homenagens para padroeira dos paraenses envolvem desde reinvenções da imagem até reproduções em pinceladas delicadas

Lucas Costa / O Liberal
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A aproximação do Círio de Nazaré cria movimentações nas mais diversas áreas, e nas artes não é diferente. O cartaz do Círio, por exemplo, é um dos símbolos máximos da festa religiosa dos paraenses, e vai para as casas de grande parte dos devotos como símbolo de proteção para todo o ano - é este mesmo cartaz que estampa diversas camisetas usadas por famílias inteiras no domingo do Círio. Mas a arte no Círio vai muito além do cartaz, pois é também o meio pelo qual muitos devotos expressam suas visões de fé: é o caso do artista visual Matinno e do publicitário Andrey Rodrigues.

Matinno escolheu criar um item que conversa com outro momento do Círio: o almoço. Com pinturas feitas à mão, o artista reproduz em louças de porcelana a imagem da padroeira dos paraenses envolta em flores e folhagens, assim como a berlinda. A coleção é composta de três itens: o prato principal (R$ 175), o de sobremesa (R$ 85), e a cumbuca (R$ 95). O kit com as três peças é vendido por R$ 330.

image Porcelanas pintadas por Matinno são enviadas para todo o país (Matinno/Divulgação)

Natural de Marabá, Matinno também é arquiteto formado pela UFPA e vive em Belém há sete anos. É esta conexão entre a Amazônia da capital e do interior a principal inspiração para as peças criadas por ele para o Círio.

“Quando vai se aproximando a temporada do Círio, eu pego todas essas minhas referências de uma criança que cresceu com toda a magia que é viver no interior da Amazônia, e uso pra fazer minha criação de porcelanas do Círio”, conta.

A memória afetiva com o Círio vem de família, e é desse apego que surge a vontade de Matinno homenagear a padroeira com a coleção de porcelanas. “Para a criação, começo com uma seleção de plantas da Amazônia para ornamentar a imagem de Nossa Senhora que vem ao centro. Uso tons fortes para colorir a peça, sempre mantendo as pinceladas bem marcadas e com texturas”, diz ele sobre o processo criativo, e aproveita para falar como se sente com o resultado do trabalho.

“Pra mim, já é como a ansiedade de esperar para ver como vai ser o cartaz do Círio deste ano, assim eu espero pela minha própria peça antes de sentar e pintá-la pela primeira vez”, descreve.

As vendas das porcelanas são feitas on-line pela loja de @m4tinno no Instagram, e podem ser enviadas para todo o país.

Marias e Nazarés

Andrey Rodrigues é criador da marca de camisetas Caboquisse, conhecida pela reinvenção da imagem de Nossa Senhora de Nazaré para estampas de camisetas todos os anos, e desta vez não foi diferente. A nova estampa da marca para homenagear a padroeira dos paraenses chama atenção para situações urgentes, que envolvem a preservação da Amazônia e povos originários.

Intitulada “Sawé Rainha”, a estampa criada pela ilustradora Ty Silva representa Nossa Senhora de Nazaré como uma mulher indígena, carregando um menino Jesus também indígena. A camiseta, vendida por R$ 65 no site caboquisse.com.br, traz a inscrição “Vidas indígenas importam” nas costas.

image Camisa Caboquisse homenageia Maria indígena (Divulgação)

Andrey defende que a concepção parte da ideia de representar nossas Marias e nossas Nazarés reais. “Quem foi a Maria bíblica? Alguém que enfrentou um império, enfrentou perigos diante do patriarcado. Ela viu o filho morrer pelas mãos do Estado”, diz.

"A gente tem acompanhado a luta indígena pelo seu território e também pelo direito à vida. Elas caminharam uma distância enorme até o prédio do STF. A Maria real fez isso pelo filho - e por nós -, não é? Eu vejo o meu estado como um estado indígena. As comidas do Círio tem base indígena: maniçoba, tucupi. Nossas Marias possuem traço indígena. A estampa busca essa auto-afirmação”, explica Andrey.

O conceito de “Sawé Rainha” faz referência a saudação “Salve Rainha”, usada para saudar a padroeira; unido ao “sawé”, saudação da etnia Munduruku.

Tanto para Andrey quanto para Matinno, a relação de devoção com a padroeira vai além das homenagens por meio da arte. “A relação com a santa é de muito respeito. A vejo como um símbolo familiar, a vejo nas Marias do povo. A minha esposa chama Maria Francisca, ela tem essa força da Mãe”, diz Andrey.

“Me sinto grato por isso, me sinto grato a Nossa Senhora. Poder decorar a sua mesa de jantar no almoço do Círio, saber que alguém presenteou um outro alguém que ama com uma arte sua é maravilhoso; é como se todos compartilhassem dessa mesma gratidão comigo quando cada homenagem dessa chega na casa dos paraenses. No fim, meu objetivo é ocupar meu espaço como artista no mundo mostrando a todos as referências que montam um artista do norte”, diz Matinno.

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