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Drag, o quê? Saiba o que são as Haus ou famílias Drags paraenses

Haus é um dos grandes símbolos da cultura Drag e na cena contemporânea Amazônica, intitulada Movimento das Themônias, esses laços se baseiam no afeto

Ellen Moon D'arc
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Dando continuidade a série de reportagens sobre "Famílias Drags" dentro da coluna, a segunda temática a ser abordada é: "Haus" ou em português, as "Casas" Drags e seus membros. Este é um dos grandes símbolos da cultura Drag e na cena contemporânea Amazônica - intitulada Movimento das Themônias -, com associações e laços que se baseiam no afeto, e vão além de um sobrenome Drag em comum.

Há inúmeras Casa Drags conhecidas mundialmente - será aprofundada na última matéria -, assim como na cena paraense. A Haus of Carão e a Haus of NoiteSuja são apenas duas, entre as grandes casas, conhecidas na cena Amazônica. Para aprofundar o assunto, o artista Juliano Bentes que performa na cena Themônia como o Skyyssime e o artiste Drag Themônia e fundadore do Coletivo NoiteSuja, Maruzo Costa performando Tristan Soledade conversaram sobre suas famílias e os laços de afeto construídos.

Juliano Bentes é um homem trans, artista e performa Skyyssime, desde 2016. A sua Haus of Carão atualmente conta com 18 integrantes. Para ele, quando falamos de pessoas LGBTQIAP+ e família consanguínea, as relações não são tão boas, devido ao preconceito enraizado, por isso o seu conceito de família é outro. "Acho que família, seja drag ou não, é um espaço metafísico de lar, quando a gente fala de pessoas LGBTs, muito frequentemente são indivíduos que não têm uma relação tão boa ou de confiança com sua família de criação e acabam procurando em outros espaços essas relações familiares", começou.

"As Haus são esses sistemas de família que vão unindo a gente, seja por precisar de suporte, ajuda com montação, no dia a dia mesmo, alguém pra te ouvir, te ensinar, debater coisas importantes, são espaços subjetivos de afeto. Então, dentro da minha Haus eu sempre tento deixar muito amarrado essa questão do afeto, de realmente sermos família uns pros outros, estarmos lá no suporte no dia a dia", completou.

A questão do afeto permeia o movimento das Themônias, e a preocupação umas com as outras transparece dentro e fora do núcleo familiar criado. Um exemplo sobre essa empatia e preocupação está no próprio "título" de Skyyssime dentro da cena, já que hoje quem é a Mãe Drag da Casa é a Coytada e ele é o "Pai" da Haus. "Esse é um título muito recente pra mim, que até pouco tempo atrás era a Mother né, e eu entendo que foi um título que veio de fora 'pra' dentro, de acordo com a minha transição de gênero, numa tentativa das pessoas normalizarem me chamar no masculino dentro do espaço da minha arte também, eu acho fofo inclusive (risos)", comentou em tom amistoso.

Skyyssime destaca que tanto na vida, quanto nas artes o papel de pai e mãe não tem diferença em sua opinião. "Existe todo um patriarcado a ser debatido por trás disso, mas no fundo a função das pessoas que estão postas nesse lugar é de cuidadoras e mantenedoras, né? A função de um cuidador de haus, é ser suporte. Claro que não indefinidamente, é preciso saber colocar limites, saber aonde se pode ir 'pra' não invadir a individualidade de ninguém", ponderou.

image Tristan Soledade em ensaio fotográfico de Tarcisio Gabriel. (Reprodução / Tarcisio Gabriel)

Haus e o movimento das Themônias

O Movimento das Themônias começou a surgir em Belém em 2015, junto com o NoiteSuja, que nasceu como produtora de festa e se tornou um Coletivo de artistas e Haus. Maruzo Costa, que também é Tristan Soledade, se monta há 11 anos e faz da sua Casa Drag também mecanismo político-cultural, diz. "Tendo criado o Coletivo NoiteSuja e desenvolvido a partir daí o Movimento das Themonias. Integro a Haus NoiteSuja que passamos a chamar assim quando começamos a dividir um espaço físico em 2019. Oficialmente a Haus NoiteSuja tem 7 pessoas atualmente, atuantes no coletivo (mas tem seus agregados)", comentou.

Questionade sobre a importância da haus para as pessoas LGBTQIAP+ da cena Themônia, o seu pensamento se aproxima ao de Skyssime. "Família drag é pensar na possibilidade de construção de afeto fora do núcleo sanguíneo. A Haus é uma rede de intimidade e afeto construída pelas nossas ligações e conexões na vida particular e artística. É o lugar onde nós pessoas LGBTs podemos estar à vontade para poder ser quem somos e exercer nossos fazeres artísticos com o apoio do outro", argumentou.

Explicando como funciona na sua família NoiteSuja, este apoio vai desde os afazeres do ambiente casa, até a divisão de trabalho na produção do Reality Show lançado este ano que traz a temática de famílias Drags, o "Dinastia". "A Haus NoiteSuja hoje faz parte da família sanguínea de todos os integrantes atualmente. Temos contatos com os irmãos, pais e mães de cada integrante e todos entendem nossas prioridades e respeitam as construções afetivas que consolidamos. Na vida prática estamos sempre juntos e ajudando, seja nos afazeres domésticos seja nas tomadas de decisões para os rumos da vida. A arte sempre foi o fio condutor das nossas reações afetivas", concluiu.

"Ser Mama Drag da Haus NoiteSuja me faz entender que não posso parar, que as relações construídas dentro da Haus precisam de um combustível e é essa energia que sou comprometido em fornecer e manter. Estar a frente se uma Haus é ser essa porta-voz, orientar, incentivar, instigar e estar disposta a ouvir, aprender e crescer com as trocas compartilhadas", finalizou.

Para acompanhar Skyssime e Tristan é só seguir no Instagram @skyyssime @hausofcarao e @tristansoledade @noitesuja. A iniciativa da coluna "Drag, o quê?", é do Grupo Liberal com Ellen Moon D'arc e tem o apoio do Coletivo NoiteSuja, La Falleg Condessa, Lenny Gusmão (Lenny Laces) e da designer de unhas, Rubi Coelho. Para ficar por dentro de outros conteúdos ou sugerir pautas, é só seguir no Instagram @dragdelua.

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