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Designer nortista reforça representatividade da mulher negra através de coleção de moda

No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a designer Rejane Soares leva amor e aceitação através da moda

Thainá Dias

Hoje é celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Mas essa data não é apenas uma homenagem. É um símbolo, um marco e momento em que as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais podem refletir, discutir e fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras e suas diversas lutas. E para ilustrar com boas histórias, datas marcantes e significativas, hoje vamos falar sobre a designer de moda amapaense, Rejane Soares, dona da marca Zwanga.

Após uma lembrança da infância marcada pelo preconceito, Rejane decidiu criar a marca. “Zwanga significa o que é meu, aquilo que me pertence! Ou seja, pertencimento histórico das mulheres negras que fazem moda e quase não são notadas por viverem em um mundo dito padrão”, explicou. Ao lembrar do passado, ela conta que o empurrão para o sucesso da marca veio depois de uma dor. “Uma vez minha professora perguntou o que eu queria fazer quando crescer, e eu fui direta: quero vestir as pessoas. Ela me olhou e disse que pessoas como eu nunca fariam esse tipo de trabalho”, recordou.

“Então cresci com isso, com esse incomodo em lutar pelo meu sonho. Até que um dia larguei tudo e fui atrás do meu objetivo. Eu queria vestir corpos reais. O mais importante é que não se trata apenas de vestir, mas de ouvir, observar, sentir, compreender e entender que a moda também traz um propósito de vida”, afirmou. Rejane explica que nem sempre é fácil fazer moda em estados que carregam a cultura de desvalorizar produtos artesanais, autorais.

Segundo a artista, a “produção autoral, artesanal e em pequena escala, agora que com muita luta vem entrando no gosto de alguns que buscam identidade própria. A pandemia foi um desafio daqueles que você não espera e precisa se reinventar na marra. Como mulher negra eu sei o quanto é necessário ter estratégias como essa, nossa arma contra racismo e machismo é o nosso conhecimento!”, destacou.

Rejana ressalta que a marca própria foi uma forma que encontrou de resgatar sua essência. “A Zwanga busca resgatar a identidade e a autoestima das mulheres negras e mulheres que sabem a importância de compreender nossa história real. Dia 25 de julho é resultado de luta. E há muitos motivos para celebrar. Precisamos da representatividade na moda, é o que levo para as passarelas. Sempre tem um pedacinho de mim em cada peça”, comentou.

A coleção nova que será lançada no dia 25/07, traz uma importância ainda maior para a designer. “A coleção “AYA: vestindo mulheres com nossas histórias” irá trazer quarenta mulheres negras, que não são modelos profissionais, são mulheres reais. Nunca estiveram na passarela nem estariam no casting de outro estilista padrão. Selecionei mulheres que trazem história de luta igual a minha. Mulheres negras, pobres, da periferia. Assim as pessoas se sentem mais pertencentes dessa realidade”, reforçou.

 

Além da moda: marca inspira superação

 

A artista destaca que a moda autoral do próprio estado vai além do símbolo. “Eu faço a Zwanga com um amor muito grande, porque eu sei que muitas mulheres precisam disso. A moda precisa ser política, vestir todos os corpos, atender a todas as pessoas. Eu  mostrei que é possível empreender na moda, principalmente com materiais artesanais. É um trabalho de pequena escala que faz parte da identidade do nosso trabalho”, concluiu orgulhosa.

Rejane explica que esse ano, a nova coleção da marca vai além da moda, da representatividade e reflete em uma superação pessoal. “Eu tive um acidente vascular cerebral (AVC)em 2020. Fiquei de cadeira de rodas e com o corpo paralisado do lado direito. Recebi muitas mensagens de pessoas que acreditavam que tinha acabado, que meu trabalho não iria mais existir. Então poder estar de pé hoje, mesmo com muletas é uma vitória. Hoje em dia ainda estou fazendo fisioterapia. Mas fiz questão de desenhar toda a coleção”, relatou.

“Eu olho para alguns desenhos que fiz nesse período, e apesar de toda imperfeição, percebo que são cheios de identidade. Eu sei o que cada um presenta. E é isso que eu busco levar sempre para a passarela, essa identidade real. Essa mostra da arte mesmo com tantas lutas e dificuldades. Dia 25/07 já era uma data de extrema importância pra mim e agora, vai ser mais especial ainda”, destacou Rejane.

E não é só para a fundadora da marca que a Zwanga representa vitória e sonhos concretizados. Uma das modelos da marca, Elizangela Pereira, de 43 anos, destaca o que sente ao subir na passarela. “Sou uma mulher de 43 anos, mãe de três filhos, fujo de todos os padrões. Desfilar pela Zwanga é um mix de emoções. Eu sempre digo para minhas amigas que não é só uma marca, são realizações de sonhos  são vidas reais. São pequenas vitórias de uma grande luta. A marca veio resgatar nossa essência, para nos devolver a vida”, enfatizou.

Outra mulher forte que teve a vida transformada pela Zwanga foi a Regianne Susarte, de 45 anos, que também já desfilou para a marca. “Sou militante dos direitos humanos há mais de vinte anos. E falar da Zwanga é falar de pertencimento, renascimento, reconstrução. A Rejane não fundou apenas uma marca afro, é muito mais do que isso. Ela constrói vidas, laços, tira mulheres da depressão. Já nas reuniões o nosso astral levantava, porque além de falar da moda em si, dos desfiles, podíamos falar sobre nossos problemas pessoais, sociais e até financeiros. Então ela resgata vidas através da arte dela”, reforçou a modelo.

Rejane destaca a importância da visibilidade a eventos como esse, pois reforça a arte dentro da Amazônia. “Ainda sofremos bastante preconceito na nossa região, as pessoas olham o Norte como um lugar onde não há arte. Então precisamos ser notadas e fico muito feliz de poder mostrar meu projeto e minha arte. Só reforça que a arte pode estar em qualquer lugar”, finalizou.

 

Agende-se!

Lançamento da coleção Aya: Vestindo mulheres com nossas histórias!

Data: 25/07 (domingo)

Hora: 18h

Local: @zwanga_oficial

 

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Cultura
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