Coluna do Estadão: INSS recebeu 277 pedidos por hora para excluir benefícios indevidos
Por Eduardo Barretto, do Estadão
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) recebeu 277 pedidos por hora de beneficiários para excluir descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Os dados são relativos a abril de 2024, o recorde identificado por uma auditoria interna do INSS de setembro passado que embasou a megaoperação da Polícia Federal (PF) na última semana. Segundo a PF, a fraude totalizou R$ 6,3 bilhões e afetou 6 milhões de beneficiários entre 2019 e 2023, período que abrange os governos Bolsonaro e Lula.
De janeiro de 2023 a maio de 2024, o relatório identificou 1,2 milhão de pedidos de beneficiários para a exclusão de descontos indevidos, o que dá uma média de 68,4 mil pedidos por mês no período. Se em janeiro de 2023 o INSS recebeu 22.935 pedidos de exclusão de descontos, em abril de 2024 o número cresceu 790% e foi para 199,4 mil, sendo o recorde da série.
Em média, em abril do ano passado foram feitos 6,6 mil pedidos de exclusão por dia, ou 277 por hora. Na prática, contudo, o contingente provavelmente foi maior, uma vez que nem todos os beneficiários identificaram descontos indevidos ou conseguiram formalizar a reclamação.
A investigação interna do INSS foi solicitada pelo presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, em maio do ano passado. Na última quarta-feira, 23, Stefanutto pediu demissão do cargo, horas após ser um dos alvos da Operação Sem Desconto.
A solicitação para questionar descontos no pagamento de pensões e aposentadorias pode ser feita de três formas por qualquer beneficiário: no aplicativo Meu INSS, na central telefônica 135 ou nas Agências da Previdência Social.
Além do próprio INSS, pelo menos 11 entidades são investigadas na PF pela suposta fraude. Como mostrou a Coluna do Estadão, uma delas é a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), que tem bom trânsito no governo e se reuniu com o presidente Lula e ao menos seis ministros no último ano.
Outra é o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), cujo vice-presidente é o sindicalista José Ferreira da Silva, conhecido como "Frei Chico", irmão de Lula. As duas organizações e Frei Chico negaram irregularidades. "Eu espero que a PF investigue de fato toda a sacanagem que tem. Agora, o nosso sindicato, eu tenho que certeza que nós não temos nada", disse o sindicalista ao Estadão.
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA