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Cleide Moraes, a rainha que vai deixar saudade

A cantora tinha planos para celebrar os 40 anos de carreira, este ano, com show e DVD

Enize Vidigal

Cleide Moraes, de 59 anos, ficou conhecida nas noites de Belém como a "Rainha da Saudade". Ela ia completar 40 anos de carreira com um show comemorativo na Assembleia Paraense, no próximo dia 14 de novembro. Mas o sonho foi interrompido na noite do domingo, 26, quando a kombi em que ela estava foi atingida por um automóvel particular na Estrada de Mosqueiro. A perda chocou a sociedade paraense. O corpo foi velado na segunda-feira, 27, na sede do Rancho Não Posso Me Amofiná, e será sepultado nesta terça-feira, 28, no Cemitério São Jorge, em Belém, às 9 horas da manhã.

Cleide Moraes tinha muitos sonhos, dos quais, ela conseguiu realizar boa parte deles. Queria cantar junto com Alcione, sua principal inspiração, o que realizou em 2010. Também quis dividir o palco com Roberta Miranda e José Augusto, e conseguiu em 2018 e 2019. Além do show de 40 anos que faria em novembro com a participação do cantor e multinstrumentista Tom Kleber, Cleide também ia gravar um DVD com lançamento no Theatro da Paz. O recurso foi alocado por emenda parlamentar do deputado federal Edmilson Rodrigues e estava sendo executado em parceria com a Faculdade de Música da UFPA. 

image Cleide Moraes e Roberta Miranda no palco. (Arquivo de Didi)

O tecladista Edson Magno, o Didi, que tocou 25 anos na banda de Cleide Moraes, conta que, ao longo da carreira, ela também dividiu palco com outros astros nacionais, como Reginaldo Rossi, Sandra de Sá, Elimar Santos, Jerri Adriani, Wanderley Cardoso, Fernando Mendes, Vanusa, Agnaldo Timóteo, Ângela Maria, Renato e seus Bluecaps, Lairton, Gilliard, Núbia Lafayette e Adilson Ramos.

A artista era conhecida como intérprete de bailes da saudade, como são chamadas as festas com repertório de sucessos antigos. Ela mantinha uma rotina de apresentações em casas de espetáculo como Bolero, Botequim, Subsar, Casa da Seresta e também na sede do Rancho, entre as sextas-feiras e finais de semana. Tinha um fã-clube chamado Cleide Mania, que marcava presença nos shows. Eclética, também cantava sucessos nacionais e paraenses em eventos diversos.

Ela também costumava reservar os dias de segunda a quinta-feiras para se apresentar gratuitamente em festas de arrecadação solidária de diversas paróquias da Região Metropolitana de Belém. Inclusive, há 12 anos cantava músicas nazarenas no barco do Rancho na Romaria Fluvial do Círio de Nazaré e também cantava no Círio de Nossa Senhora do Carmo, da qual era devota, em Benevides, todos os anos, no dia 14 de julho (porém, este ano, o evento não ocorreu devido à pandemia).

image Último show de Cleide Moraes em Icoaraci, na selfie de Miguel Marks, q dirigiu a kombi. (Reprodução)

Trajetória da artista

Cleide Moraes começou a cantar aos 19 anos de idade no grupo de seresta do pai dela, o Mestre Jacó, já falecido. "Ela contava que, no início, a mãe dela não queria deixar, tinha preconceito na época. Mas ela foi, foi até assumir o grupo do pai", conta o tecladista Edson Magno, o Didi, que tocou na banda dela por 25 anos. "Ela tinha um público fiel que ia atrás dela assistir onde ela fosse cantar. A Cleide costumava descer do palco e compartilhar com os clientes nas mesas. Botava todo mundo pra dançar e cantar", recorda Janilson Siqueira, dono do Bolero, onde ela se apresentou por mais de 20 anos.

Cleide lançou 10 CDs e um DVD ao longo da carreira. A maioria dos álbuns era de bolero, que ela vendia nos shows. Mas ela não vivia somente de músicas do passado: "Ela cantava em todos os lugares, ela cantava de tudo, não era só saudade, era merengue, quadra junina, reveillon, marchinha de carnaval, ela era muito versátil, merengue, samba... de tudo", conta Jango. "O forte dela era fazer baile da saudade, onde tocam sucessos de todos os ritmos, desde a Jovem Guarda, samba, carimbó, forró, sofrência, ela era bem eclética, tocava todos os estilos", acrescenta Didi. 

Talvez por herança do pai, ela mantinha acesa a tradição cultural da folia de reis com o grupo dela, chamado "Remanso do Boto". Todos os anos, no bairro do Jurunas, onde residia, Cleide iniciava o circuito de visitas a várias residências com seu grupo de músicos, na noite do dia 5 de janeiro e entrava pela madrugada do dia 6, quando se comemora o Dia de Reis. "Ela fazia a folia de reis na minha casa todo ano, porque é meu aniversário. Ela se apresentava nas casas dos amigos que convidavam, fazia cantoria e recebia arrecadação. É a única folia de reis que tenho conhecimento que ainda exista em Belém. A gente montava a mesa para recebê-la com os músicos. Inclusive o pai dela, Mestre Jacó, participava tocando no pente, ele colava um papel dobrado no pente e tocava como se fosse uma gaita", recorda o amigo Benedito Costa. 

A rainha tinha na música a única fonte de renda. Há cinco anos atrás, ela chegava a fazer seis shows entre as sextas-feiras e os finais de semana, mas, depois a frequência caiu para a média de três shows nesses dias, revela Didi. A rotina de shows foi suspensa com a pandemia. O tecladista diz que Cleide teve acesso ao auxílio emergencial do governo federal, contou com a ajuda de alguns amigos e chegou a fazer lives de arrecadação. 

A artista deixa um casal de filhos e um companheiro. Deixa também uma legião de fãs e amigos, que ainda não se conforma com o falecimento dela. "Ela era uma pessoa muito amiga, muito solidária com todos, tinha um coração enorme. Não caiu a ficha ainda. Eu tô incrédulo", conta Didi. "O projeto dela sempre foi fazer o bem, ajudar as pessoas que precisam. Ela dizia que faria enquanto tivesse saúde. Ela arrecadou cestas básicas que doava para músicos, dançarinos e Djs que não estava podendo trabalhar", conta o genro Gilson Ferreira.

Leia também: Motorista envolvido no acidente que matou Cleide Moraes é preso; jovem estava embriagado, diz a polícia. 

Artistas lamentam a morte de Cleide Moraes

 

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Cultura
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