'Numa democracia, qualquer tipo de filme pode ser feito', defende Kleber Mendonça Filho

Débora Seco, Frota e Raquel Pacheco também comentaram a possibilidade de extinção da Ancine, proposta pelo presidente Jair Bolsonaro

Redação Integrada
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Comentários feitos pelo presidente Jair Bolsonaro sobre mudanças drásticas na Agência Nacional do Cinema (Ancine) tiveram grande repercussão entre a classe artística e política. Segundo o presidente, a Ancine deve ser tranferida para Brasília, e tornar-se uma secretaria vinculada ao Ministério da Cidadania, que já engloba o extindo Ministério da Cultura.

Bolsonaro também teceu comentários atacando produções que receberam incentivo da Ancine, e também falou sobre relatos de projetos aprovados que considera absurdos. Um exemplo é o reality show "Born to Fashion", que tem como premissa revelar modelos transgênero. Outro título citado nos comentários de Bolsonaro foi "Bruna Surfistinha", filme lançado em 2011 que narra a história de Raquel Pacheco, antiga garota de programa que ganhou fama ao desenvolver um blog sobre seus clientes.

Mesmo considerando "Bruna Surfistinha" um exemplo de produção audiovisual que não deveria receber patrocínio, por fazer o que ele considera como "ativismo", Bolsonaro admite nunca ter assistido ao filme. "Eu não, pô. Vou perder tempo com Bruna Surfistinha? Eu estou com 64 anos de idade. Se bem que eu tenho uma filha de oito anos, sem aditivo", disse na última sexta-feira (19) durante participação no culto na Igreja Sara Nossa Terra. "Não somos contra essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir em respeito às famílias. É uma coisa que mudou com a chegada do governo", disse.

Os comentários sobre o possível desmonte da Ancine repercutiram entre personalidades ligadas ao cinema nacional e até mesmo políticos, que se manifestaram contrariamente às posições do presidente. "Numa Democracia, qualquer tipo de filme pode ser feito", escreveu o diretor de cinema Kleber Mendonça Filho, em uma publicação que mostra os números de empregos e renda gerados com o filme "Bruna Surfistinha". Kleber dirigiu renomados filmes do cinema nacional como "O Som ao Redor", "Aquarius", e o premiado em Cannes "Bacurau".

Deborah Seco

A atriz Deborah Seco, protagonista de "Bruna Surfistinha", lamentou à Folha de São Paulo os comentáriso feitos por Bolsonaro. "Fico um pouco chocada com o 'Bruna' ter sido colocado nesse lugar, porque o filme retrata uma história real não só da Raquel, mas de outras milhares de mulheres que se encontram nessa situação".

Debora também acredita que um dos objetivos da arte é gerar debate e, por isso, não se pode fingir que temas como a prostituição não fazem parte do Brasil. "Queria muito que nenhuma mulher estivesse nessa situação, que tivesse que se vender para sobreviver, mas essa não é a realidade do nosso país. A gente precisa falar sobre isso".

Raquel Pacheco

A empresária e escritora Raquel Pacheco também se posicionou sobre os comentários. Ela é a pessoa cuja história inspirou "Bruna Surfistinha", e considerou as falas do presidente "infelizes".

"Antes de fazer juízo de valor sobre os outros, ele deveria cuidar da moral da própria família. E ainda do nosso país. Afinal, ele está cuidando demais do que não precisa e fazendo pouco o dever dele principal: que é ser presidente", disse à Folha de S. Paulo.

Alexandre Frota

O deputado Alexandre Frota, que pertence ao mesmo partido de Bolsonaro, considera que o filtro proposto por Bolsonaro "parece com censura". “Bruna Surfistinha foi uma boa produção que empregou muitos profissionais. Não tenho nada contra. Mas o Jair tem a opinião dele. Eu, por exemplo, não assistiria Superação: O Milagre da Fé e ele gostou. São gostos diferentes”, disse à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

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