Audiovisual paraense busca terreno sólido em campanha pela aprovação de lei direcionada
Profissionais do setor pedem por aprovação da PL 417/2019, de fomento a atividade no Estado

Nos últimos anos, o país tem acompanhado um crescimento do setor audiovisual além das fronteiras do eixo Sul-Sudeste; mas para que este movimento continue como um gráfico crescente, causando impactos de forma constante em diversos setores, algumas medidas de fomento à atividade são necessárias.
Em meio a este cenário, profissionais paraenses do audiovisual iniciaram a campanha “Aprova a Lei do Audiovisual Paraense”, que vem ganhando cada vez mais adeptos, com o objetivo de sensibilizar parlamentares da Assembleia Legislativa a incluírem o Projeto de Lei 417/2019 na pauta da casa. O PL visa incentivos inéditos ao setor audiovisual no Pará, mantendo a cadeia produtiva em desenvolvimento. Isto impacta positivamente o estado, gerando emprego e renda, e principalmente, ampliando a visibilidade cultural paraense.
A construção e a carta de aprovação do PL 417/2019 foram frutos da iniciativa e articulação política de várias vozes do audiovisual paraense. O Coletivo de Realizadores Independentes de Audiovisual da Amazônia (Cria) surgiu em agosto do ano passado, tendo como uma de suas pautas o desenvolvimento da cadeia produtiva do setor e também a organização dos profissionais do audiovisual no Pará e em outros estados nortistas, construindo a campanha #AprovaALeiDoAudiovisualdoPará
Assista ao vídeo produzido para a campanha:
O produtor Wilson Paz, integrante do coletivo, destaca que a lei vai além das já existentes de incentivo à produção cultural no Estado; isto porque não se trata apenas do desenvolvimento de novas produções, mas de fomentar o crescimento e amadurecimento de todo um setor econômico.
“Hoje, o Pará, muito mais a capital, é um celeiro de produção audiovisual. A maioria não são de produtores daqui, mas somos a porta da Amazônia que as pessoas vem gravar; isto dentro do leque enorme do audiovisual. Em Alter do Chão, por exemplo, o número de pessoas que procura gravar lá é enorme”, descreve ele, que também explica que o PL proposto pelo grupo tem por objetivo oportunizar avanços, seja na produção de obras e na formação de mão de obra, além de dedicar editais para o restauro e preservação de acervo Audiovisual.
“A gente tem um movimento grande de trabalho, mas ele pode ser muito melhor. Atualmente, quando uma produção termina, não se tem perspectiva de uma próxima, por exemplo. Com a lei, vai ser possível fazer com que mais gente tenha acesso a esse volume de trabalho, porque vai ser possível promover qualificação para agentes técnicos, além do intercâmbio com profissionais de fora. A lei não é para beneficiar somente produções, mas também fomentar essa cadeia com qualificação, promovendo cursos sobre novas tecnologias e formatos no audiovisual”, explica Wilson.
O exemplo seguido pelo Cria é do Fundo Setorial do Audiovisual, administrado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), que alavancou um franco crescimento da atividade no Pará, por meio do desenvolvimento de editais e linhas específicas de produção.
Outro exemplo usado pelo coletivo é uma lei já existente no estado do Pernambuco, de incentivo e fomento à produção audiovisual no Estado. Um dos exemplos expostos por o Wilson é de como o Pernambuco se tornou um grande expoente quando se fala de cinema nacional atualmente. Em 2019, por exemplo, o filme “Bacurau”, do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, ganhou um dos prêmios mais importantes do Festival de Cinema de Cannes.
“O circuito audiovisual do Nordeste hoje entrou no eixo que antes era impossível. Se você parar para pensar quais os maiores divulgadores do seu trabalho aqui no Pará, vai ver que são poucos. Hoje você tem duas ou três produções paraenses no streaming, comparadas a uma enxurrada de produtos nordestinos. Alguns, inclusive, estão em alta com mais de 10 anos de produção, como ‘Lisbela e o Prisioneiro’ e ‘O Auto da Compadecida’, que apesar dos realizadores serem do sudeste, são gravados no Nordeste. ‘Bacurau’, por exemplo, foi todo idealizado lá dentro”, exemplifica o produtor.
O Pará tem participação em inúmeros grupos e movimentos ligados ao audiovisual, e é uma voz atuante enquanto representação fora do eixo Sul-Sudeste, assim como outros estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; por meio da entidade conhecida como CONNE - Coalizão Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que desde 2017 luta pela manutenção da cota federal que destina 30% das verbas para o setor para essas regiões.
Além do grande impacto no setor econômico do Estado, o setor audiovisual paraense ganha cada vez mais espaço além das fronteiras. Este ano, por exemplo, o longa-metragem “Reflexo do Lago” (Marahu Filmes), dirigido por Fernando Segtowick, foi selecionado para o Festival de Cinema de Berlim, um dos mais importantes do cinema mundial.
Para fortalecer mais ainda o pleito por uma Lei do Audiovisual Paraense, o Cria sugere que o projeto leve o nome do técnico e documentarista Milton Mendonça, que realizou uma série de reportagens sobre o Pará nas décadas de 1960 e 1970, tendo sido companheiro em inúmeras produções do cineasta mineiro Libero Luxardo.
Audiovisual em números
De acordo com o último levantamento do Observatório do Cinema e Audiovisual da Ancine, realizado em 2018, o setor audiovisual movimenta mais de R$ 25 bilhões por ano no Brasil e emprega cerca de 335 mil profissionais, direta e indiretamente em todo o país.
Na região Norte, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro – PRODAV8 teve grande impacto e supriu uma das maiores lacunas do audiovisual produzido no Norte do Brasil. Em 2014, o Pará teve 23 projetos inscritos e 6 financiados, o que movimentou aproximadamente R$ 5.153.000,00. No ano seguinte, 2015, foram 37 projetos do Pará inscritos e somente dois financiados, ainda assim foram injetados aproximadamente R$ 2.632.500,00 na economia, gerando empregos diretos e indiretos, contratação de serviços e a promoção da cultura paraense.
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