'Belém do Grão-Pará', de Dalcídio Jurandir, ganha nova edição e reafirma as letras amazônicas
Nova publicação da Editora Folheando resgata obra-prima do escritor marajoara e traz notas que contextualizam história, cultura e urbanismo da Belém do século XX
A obra-prima do escritor marajoara Dalcídio Jurandir (1909-1979), “Belém do Grão-Pará”, volta ao público em nova edição que será lançada em dezembro pela Editora Folheando. Publicado originalmente em 1960, o romance retrata com realismo o cotidiano de Alfredo e outros personagens que lutam para sobreviver na capital paraense, expondo os desafios sociais e humanos de quem vive na Amazônia.
Segundo o editor-chefe da Folheando, Douglas de Oliveira, a iniciativa surgiu da necessidade de manter viva a memória e o legado do autor após o encerramento das atividades da antiga Editora Parágrafo. “Chegamos ao consenso de que seria indispensável retomar títulos que estavam fora de circulação. Belém do Grão-Pará estava há nove anos sem reedição”, explica.
Douglas destaca que a nova edição passou por um cuidadoso processo de cotejamento entre edições anteriores e inclui notas explicativas sobre contextos históricos, culturais e urbanos da Belém retratada por Dalcídio. “Há referências a monumentos e prédios que já não existem, além da linguagem coloquial dos paraenses, que o autor usava com maestria. Editar Dalcídio é revisitar um patrimônio afetivo da cidade”, ressalta.
A Folheando planeja lançar o livro em um evento especial em Belém, reunindo leitores, pesquisadores e admiradores da literatura dalcidiana. Para Douglas, a publicação reafirma a importância de Dalcídio como um dos grandes nomes da literatura brasileira. “Ele revelou ao país um retrato genuíno do Norte, unindo sensibilidade e crítica social em um texto de rara beleza”, afirma.
Escritor-açu
O pesquisador e professor Paulo Nunes, da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e da Universidade da Amazônia (Unama), também destaca a relevância da nova edição. Para ele, “Belém do Grão-Pará” é um romance que transcende o regional e se afirma como um marco da literatura moderna no país. “Pode ser lido como um livro de testemunho, de migração e de memória da derrocada da economia da borracha. Como disse Benedito Nunes, trata-se da introdução do romance urbano amazônico na ficção brasileira do século XX”, analisa.
Paulo Nunes enfatiza ainda o estilo singular de Dalcídio, que chamou de “escritor-açu (escritor grande, talentoso)”. “Ele dialoga com grandes nomes, de Graciliano Ramos e Jorge Amado a Balzac e Joyce. Seu domínio da linguagem é fruto do ofício jornalístico e da leitura de clássicos. Foi um intelectual maduro e honesto, um verdadeiro poeta da prosa”, completa.
A nova edição de “Belém do Grão-Pará” chega para reafirmar a atualidade da obra de Dalcídio Jurandir, cuja escrita humaniza a Amazônia e dá voz às suas contradições e esperanças — um retrato que continua pulsando mais de seis décadas depois.
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