Arte ribeirinha ganha catálogo de divulgação
"ABC do abridor" é um trabalho de pesquisa que visa promover estes artistas e mostrar o saber típico da Amazônia
Os abridores de letras, artistas ribeirinhos responsáveis em decorar as embarcações de madeira com os nomes, ganharam um catálogo virtual como forma de mostrar sua arte para o mundo. O "ABC do abridor" é um trabalho de pesquisa que resulta em divulgar estes artistas e mostrar o saber típico da Amazônia.
As embarcações de madeira que circulam pelos rios amazônicos são decorados e nomeados com todo o apreço dos abridores de letras, ribeirinhos que recebem o ensinamento dos pais e trabalham para outros ribeirinhos. A paulista Fernanda Martins, que trabalha com tipografia, ao chegar em Belém se encantou com os detalhes das embarcações. A partir disso ela deu início ao projeto de pesquisa "Letras que flutuam".
"O projeto começou em 2004, pois quando cheguei em Belém fiquei encantada com as embarcações de madeira e procurei saber mais sobre essas pessoas que realizam esse trabalho". Neste primeiro momento da pesquisa, Fernanda identificou que são ribeirinhos que recebem os ensinamentos que são passados de pai para filho e realizam o trabalho para outros ribeirinhos. A pesquisadora ressaltou que é uma arte feita predominantemente por homens.
Ainda no processo de levantamento de dados, a pesquisadora identificou que essa atividade tem grandes chances de ser extinta, já que a tendência é que as embarcações de madeira sejam trocadas por embarcações mais modernas. Mas a pandemia do novo coronavírus foi outro elemento determinante, pois as embarcações diminuíram o movimento e muitos abridores ficaram impossibilitados de realizar o seu trabalho. Diante desse fator, as idealizadoras do projeto inscreveram na Lei Aldir Blanc como forma de arrecadar recursos a estes artistas.
"Essa marca que hoje é das embarcações podem ser usadas em outros lugares, por isso, pensamos em realizar esse catálogo como forma de divulgar e expandir o trabalho destes artistas", acrescentou Fernanda.
A galeria conta com trabalhos de artistas de Belém, Barcarena, Abaetetuba, Igarapé-Miri, Soure, Ponta de Pedras, São Sebastião da Boa Vista e Breves.
A origem da letra decorativa amazônica está associada à influência européia na nossa região, especialmente durante o Ciclo da Borracha. Pesquisas da designer Fernanda Martins, apontam que artistas gráficos entraram em contato com amostras de letras decorativas do século XIX – conhecidas como "Letras Vitorianas", se apropriaram delas e criaram novos estilos, adaptando-os às necessidades locais.
"A partir da apropriação de um sistema tipográfico existente, o ribeirinho amazônico criou um código próprio, que dialoga com a região onde vive e resulta da sua relação com esse meio. O objetivo maior da criação dos abridores não é a leitura, e sim a visualização do barco, e o seu reconhecimento, através da palavra/imagem", afirma a designer.
O mostruário de letras está disponível online, no endereço . O projeto tem apoio da Lei Aldir Blanc, implementado através do edital de Pontos e Pontões de Cultura da Secult/PA.
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