Arraial do Pavulagem encerra temporada em 2025 com 140 mil pessoas nas ruas e 3,7T de lixo reciclado
Por mais um ano, manifestação cultural do Pará reafirma compromisso com a tradição amazônica e a sustentabilidade
O Arraial do Pavulagem encantou as ruas de Belém nos últimos quatro domingos e encerrou a temporada de 2025 com a marca de mais 140 mil brincantes e 3,7 toneladas de lixo reciclado. Somente no último domingo (6), mais de 35 mil pessoas estiveram presentes no 4º cortejo, mostrando a força de uma das manifestações culturais de rua da Amazônia. Com o tema “Arraial da Floresta”, o evento deste ano foi finalizado após a retirada dos Mastros de São João, em um rito simbólico que marcou o encerramento da quadra junina.
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Crescimento do Arraial
Júnior Soares, músico e cofundador do Arraial do Pavulagem, diz que o sucesso do seu projeto está no vínculo construído ao longo dos anos entre o cortejo e os paraenses, em que os arrastões se transformam em local de união e afeto.
“O que a gente vê nos Arrastões é uma coisa linda. Gente de todas as idades caminhadas juntas, famílias inteiras aproveitando cada momento, crianças, jovens, pessoas mais velhas, todo o mundo vivendo a cultura popular como parte da sua própria história. O Arrastão virou um lugar onde as pessoas se encontram, se reconhecem e se sentem parte. Uma festa que junta música, emoção, afeto e memória. E tudo isso acontece porque é feito com muito cuidado e com muito amor pelo que somos enquanto povo amazônico.”, diz.
Música e cofundador do Arraial do Pavulagem, Ronaldo Silva relaciona o crescimento do Batalhão da Estrela - como também é conhecida a manifestação - com o compromisso da população com a tradição da cultura popular da Amazônia.
“A cada ano, o Arrastão cresce em tamanho e em significado. Começou pequeno, com um boizinho na tala, e hoje é um movimento cultural que já faz parte da vida da cidade. Gera renda, envolve artistas, produtores, artesões, educadores, e chega a mais de 140 mil pessoas nos quatro domingos. É uma manifestação que pulsa na rua, que movimenta a economia criativa, que valoriza o nosso jeito de ser. E mais do que isso, vem se conectando com o cuidado com o meio ambiente, com ações de sustentabilidade, planejamento de mudas, reciclagem. É o povo fazendo cultura, se organizando, ocupando a rua com beleza, consciência e pertencimento.”
Arraial da sustentabilidade
Festa e música fazem o Arraial do Pavulagem, mas uma terceira base também faz parte: a sustentabilidade. Neste ano, a tradicção renovou seu compromissocom o meioambiente da festa e da música, o Arraial do Pavulagem reafirmou seu compromisso com a sustentabilidade. Em parceria com a Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (CONCAVES), foram encontrados 3,722 kg de resíduos recicláveis durante os quatro cortejos. O material recolhido foi dividido entre:
- 1.270 kg de plásticos
- 578 kg de metais
- 1,005 kg de vidro
- 869 kg de papel
15 árvores foram preservadas, houve redução de mais de 3 toneladas de proteção de recursos naturais e o aumento de 5% na renda de 24 cooperados da cooperativa. Por meio de uma rivalidade sadia, a coleta também mobilizou os torcedores para o “Re x Pa da Reciclagem”, estimulando uma competição entre torcedores entre Remo e Paysandu em prol do meio ambiente.
Outras iniciativas ligadas à sustentabilidade também fizeram parte da programação, como o planejamento simbólico de mudas, o incentivo ao uso de copos reutilizáveis e ações de educação ambiental, como práticas que reforçam a conexão direta com o tema deste ano: “Arraial da Floresta”.
Encontros que fortalecem a cena local
Para além da festa com pernautas e pessoas com chapéus de fitas coloridas, o Boi Azul - como também é chamado o Boi Pavulagem - também convocou diversos artistas regionais para uma celebração da cultura amazônica à céu aberto em Belém.
Participaram do cortejo o Boi Faceiro (de Colares), o Boi de Banda (de Igarapé-Miri), que trouxe uma comitiva de 60 pessoas, incluindo crianças neurodivergentes, o Boi Malhadinho (do bairro do Guamá), parceiro histórico do Arraial do Pavulagem, e o Boi de Rodas, da Associação Bem Viver (de Santa Luzia do Pará). No último cortejo da temporada, também estiveram presentes o Boi de Máscaras Alce, da comunidade Ponta Bom Jesus, em São Caetano de Odivelas, e novamente o Boi Malhadinho, desta vez com figurinos em homenagem à floresta.
Entre os artistas e mestres populares convidados ao longo da temporada, destacaram-se o Cordão de Pássaros Colibri e a Mestra Laurene Ataíde (de Outeiro), além da Mestra Normalina, Valéria Paiva, Kim Marques, Vittória Braun, Nazaré Pereira, Íris da Selva e Os Pássaros Urbanos. O artista visual And Santtos também contribuiu com cor e movimento ao cortejo por meio de seus estandartes.
No último arrastão, no domingo (6), um dos momentos mais marcantes foi a participação surpresa da cantora Dona Onete, que encantou o público ao se juntar à banda Arraial do Pavulagem na Praça Waldemar Henrique. O show de encerramento também contou com participações especiais de artistas como Luê, Grupo Sancari, Antônio de Oliveira, Allan Carvalho, Rafael Veredas e Heitor Carvalho, promovendo encontros entre diferentes gerações da música paraense. A cantora Liniker também esteve presente no arrastão, mas desta vez não como cantora, mas como brincante.
Plantio de Ipês
Durante a programação, também foi realizado um planejamento simbólico de cinco mudas das espécies ipê amarelo, rosa, branco e roxo no Boulevard da Gastronomia, em frente à sede do Instituto Arraial do Pavulagem.
A ação marcou com um gesto de cuidado o encerramento da temporada dos Arrastões e reforçou o compromisso do projeto com a valorização dos espaços públicos e o incentivo a práticas que conectam cultura, meio ambiente e cidadania.
Acessibilidade e cidadania
O Arraial do Pavulagem também mostrou compromisso com a acessibilidade com o Espaço + Inclusão. A manifestação teve uma área contornada com estrutura adaptada para pessoas com deficiência e com Transtorno do Espectro Autista (TEA), além da distribuição de água gratuita no ponto de hidratação. Além disso, mais de 2 mil copos foram trocados por resíduos recicláveis no posto do projeto E+ Reciclagem, reforçando a conexão entre sustentabilidade e cidadania.
Apoio
De acordo com Michelle Miranda, analista de Responsabilidade Social da Equatorial Pará, uma das apoiadoras do evento, a empresa se orgulha em fortalecer iniciativas culturais que são essenciais para a democratização da arte e o fortalecimento da cultura local.
"A valorização da cultura paraense é um pilar fundamental para a promoção da inclusão social e o reconhecimento dos nossos fazedores de cultura. Acreditamos que, ao proporcionar visibilidade a esses artistas, estamos contribuindo para o fortalecimento de nossa identidade cultural. A programação do Arraial do Pavulagem desempenha um papel crucial nesse processo, oferecendo uma plataforma contínua de visibilidade que se estende ao longo de seu calendário de atividades, culminando nos arrastões que tomam as ruas de Belém. orgulho de apoiar o Arraial, pelo sexto ano consecutivo, em todas as suas fases, proporcionando aos brincantes uma programação diversificada, inclusiva e que dá voz à cultura paraense", destaca.
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