Arte Pará: artistas reproduzem a vida na periferia em forma de arte
Os artistas Dias Júnior, Guy Veloso e GC Arte traduzem o cotidiano em seus trabalhos
A pintura, a fotografia e arte digital de Dias Júnior, 29 anos, Guy Veloso, 54 anos e GC Arte, 29 anos, se transformam em realidade das periferias e em manifestações populares. Nesta edição, os leitores de O Liberal vão conhecer um pouco mais desse trio, que compõe o time do 41º Arte Pará, que tem abertura no próximo dia 3 de outubro, na Casa das Onze Janelas. O projeto é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Rouanet, e realizado pela Fundação Romulo Maiorana (FRM).
Dias Júnior utiliza a técnica de tinta a óleo para expressar sua visão de mundo, baseada no seu contexto de vida. “Eu sou um jovem negro, periférico, que veio do interior para estudar artes na capital e todo esse universo amazônico, negro e crítico molda minha arte”, destaca o artista. Ele exemplifica com sua produção “Garis, Realidades e a violência normalizada”.
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A relação do artista com o Arte Pará iniciou com o convite que teve para participar do “Rotas Brasileiras “, em São Paulo, mas é a primeira vez que o artista expõe sua obra no salão. Nessa estreia, o artista vai apresentar a série “Rostos” com a técnica tinta a óleo, mas tendo o papel como suporte. A série propõe o debate de temas como representatividade, aceitação, racismo e dentre outras questões relacionadas ao contexto amazônico.
"Nesse sentido, a série ressalta a importância de falar sobre autoafirmação nortista, em especial, periférica e interiorana. Porque em âmbito nacional, o norte é a região mais marginalizada e "exotizada" do país, por isso, as obras representam pessoas que lembram parentes, amigos, vizinhos ou algum rosto reconhecível mesmo que o espectador nunca tenha visto a pessoa que está na pintura. Assim, o observador pode encontrar beleza no seu semelhante e em si próprio, trazendo aquela reflexão de auto aceitação e autocuidado enquanto cidadãos amazônicos’, explica o artista.
Sobre a importância do Arte Pará, Dias Junior diz que é necessário, pois se trata de um "holofote" para artistas da Amazônia terem projeção nacional. “Ele, cada vez mais, faz chegar a arte nas pessoas, para mim é uma grande honra estar no Arte Pará e poder incentivar novos artistas negros do interior e da periferia a fazer arte. Estar no salão é muito gratificante, principalmente, por saber que a minha mensagem será passada”, pontua.
Na mesma pegada atua GC Arte, que também é a primeira vez que participa do Arte Pará. Ele conta que desde 2023 vem elaborando trabalhos diversos, os quais vêm consolidando sua carreira, mas desde 2020 vem produzindo arte digital. “Nesse período muitas coisas aconteceram, mas posso focar em algumas que foram bem importantes, como a Exposição "Amazofuturismo Paraense" que criei especialmente para o lançamento da Bienal das Amazônias, a exposição ocorreu no Museu da UFPA, dentro da "III Convenção das Themônias". Participei da Obra "Insurgência Cultural" na exposição presencial "The Democracy Project" em Manhattan- NY, no Carnegie Hall”, fala o artista sobre a trajetória.
Para o Arte Pará deste ano, ele vai apresentar três obras: Kumu Cyberpunk, Xamanic e Pajé Afropunk, que são retratos artísticos e fictícios de Pajés. As artes foram baseadas no artigo “O legado afro-indígena aos curadores da Pedreira: pajelança em processos criminais em Belém do Pará” de Antonio Maurício Dias da Costa e Juliana dos Santos Carvalho.
O artigo analisa denúncias de "exercício ilegal da medicina" em práticas afro-religiosas na Pedreira, Belém. Foca na repressão policial às artes de cura religiosa, chamadas de "pajelança" em processos criminais de 1929, 1930 e 1933.
"Essa é minha primeira vez no Arte Pará, eu estou super empolgado e muito agradecido com a oportunidade. Fiquei bastante feliz também de ver mais dois artistas do Jurunas junto comigo, Bárbara e Igor, isso me dá muita energia para estar com corpo e alma presente. Nesse espaço tão importante”, pontua GC.
Sobre a importância do Arte Pará, o artista explica que se trata de um projeto importante tanto para o cenário local quanto nacional, uma vez que dá visibilidade para os artistas locais, que conseguem expor ao lado de artistas de várias regiões, o que ajuda no reconhecimento.
“Além disso, o evento valoriza a diversidade cultural, misturando tradições amazônicas e brasileiras, e promove um intercâmbio legal entre artistas e críticos incentivando a inovação. Outro ponto é que o Arte Pará aproxima o público da arte contemporânea e, com mais de 40 edições, já faz parte da história das artes no Brasil, preservando a cultura amazônica e colocando a gente nas discussões mais atuais”, completa o artista.
O fotógrafo Guy Veloso, 54 anos, tem como assunto primordial no seu trabalho, a religião brasileira em suas matizes, embora também documente, em menor constância, festas populares, em especial o carnaval. Ele já participou, no mínimo, uma dezena de vezes do Arte Pará; sendo que em 2014 como homenageado, em uma exposição na Casa das 11 Janelas, dividindo a galeria com peças de Pierre Verger.
Este ano, Guy Veloso vai participar do Arte Pará com quatro fotografias do Círio de Nazaré. “ O Arte Pará deu visibilidade a muitos artistas locais, contribuindo também com a formação de público”, reflete o fotógrafo.
De formação acadêmica em Direito, Guy Veloso é fotógrafo desde 1988 com publicações e mostras nacionais e internacionais. Participou da 29ª Bienal de São Paulo/2010 e da 4th Biennial of the Americas, Denver-Estados Unidos/2017. Foi curador-geral de fotografia contemporânea na 23ª Bienal Europalia, Bruxelas-Bélgica/2011. Obras em Museus: Essex Collection of Art from Latin America, Colchester-Inglaterra, entre outros.
Arte Pará
Maior projeto de arte do Norte do país, o Arte Pará traz para a edição 2024, o tema “Um Norte [transcursos – caminhos]” com curadoria da artista Nina Matos. Na edição deste ano, o formato será de uma mostra com a participação de 20 artistas paraenses convidados e uma sala especial para o artista homenageado, o fotógrafo Luiz Braga, na Casa das Onze Janelas.
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