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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

Coluna faz homenagem à atriz Meryl Streep

Marco Antonio Moreira
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A atuação é uma das peças mais importantes para que uma obra audiovisual de cinema emocione o público. Não é por acaso que alguns nomes de atrizes e atores se perpetuam na história, pois são, em várias oportunidades, os principais motivos pelos quais lembramos de um filme. Puxando pela memória cinematográfica, é possível lembrar de uma constelação de estrelas da atuação que eternizaram seus nomes através de trabalhos marcantes.

Apesar de ser lembrado na maioria das vezes como um excelente diretor, é justo lembrar que Charlie Chaplin também foi um dos maiores atores do cinema. Era impossível não se entusiasmar pelo personagem de Carlitos, sempre maravilhosamente bem interpretado com atuações extraordinárias. E o talento sobrava também pra outros papeis interpretados pelo artista, como é possível ver em filmes como Monsieur Verdoux (1947) e Luzes da Ribalta (1950). Pessoalmente, digo com certeza que as primeiras atuações apaixonantes que tenho lembrança de ver no cinema são dele.

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Chaplin foi um mestre da atuação, mas certamente não brilha sozinho na história do cinema. Listando outros nomes que merecem destaque atemporal, acho digno começar com a lembrança de Liv Ullman e Erland Josephson no filme Cenas de um Casamento (1973), de Ingmar Bergman, onde os dois interpretam um casal em crise de maneira intensa, agressiva, amorosa, triste e constante durante todo o filme. No mesmo período que assisti ao excelente filme de Bergman, tive a oportunidade de me emocionar com o ator Takashi Shimura em Viver (1951), de Akira Kurosawa. Ele interpretou o papel de um funcionário público dedicado, que descobre ter doença terminal e tem pouco tempo de vida. As nuances de interpretação de Shimura tentando aproveitar seus últimos dias e sua tristeza com o fato de que não aproveitou a vida de modo pleno, foram marcantes.

Outras atuações merecem citação por terem sido fundações essenciais na construção do meu hábito de apreciar atores e atrizes que conseguiram dignificar sua profissão e foram verdadeiros parceiros de diretores e roteiristas na elaboração de filmes inesquecíveis. A lista de grandes atuações é grande e não seria possível enumerar todas, mas posso citar Liv Ullman em todos os filmes que ela realizou com o mestre Ingmar Bergman, Emil Jannings em A Última Gargalhada e O Anjo Azul, Maria Falconetti em A Paixão de Joana D´arc, James Stewart em A Felicidade não se Compra e Vertigo, Elizabeth Taylor em Um Lugar ao Sol, Gata em Teto de Zinco Quente e O Pecado de todos Nós, Marlon Brando em Uma Rua chamada Pecado e O Poderoso Chefão, Bette Davis em A Malvada e O Que terá acontecido com Baby Jane?, Ingrid Bergman em Stromboli e Europa 51, Robert De Niro em Taxi Driver e Touro Indomável, Al Pacino em O Poderoso Chefão (todos) e Espantalho, Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho e O Iluminado, entre muitos outros.

Lembro-me de fazer essa relação de ótimos atores a partir da comemoração do aniversário da atriz americana, Meryl Streep, este mês. Poucos artistas conseguiram, desde cedo, demonstrar intenso talento na arte de interpretar. Streep tem um dom especial para atuar e conseguiu, em diversos filmes, protagonizar momentos importantes na sua carreira e na história do cinema. A sua versatilidade como atriz pode ser avaliada em trabalhos de vários gêneros e sempre foi possível esperar o máximo de dedicação em qualquer personagem que ele interpretou.

A primeira memória que tenho de Streep foi com O Franco Atirador (1978) de Michael Cimino. Ela, ao lado de Robert de Niro, em um filme sobre a guerra do Vietnã, em uma história dramática intensa, impressionou. Posteriormente, em uma série de filmes que elevaram sua carreira, rapidamente, a um status de credibilidade e reconhecimento, Meryl Streep conquistou a maior parte da crítica especializada em filmes como Manhattan (1979), Kramer vs. Kramer (1979), A Mulher do Tenente Francês (1981), Silkwood (1983) e Entre Dois Amores (1985), entre outros. Mas, entre tantos filmes indicativos de seu talento, destaco dois trabalhos especiais: A Escolha de Sofia (1983) e Ironweed (1987).

A Escolha de Sofia de Alan Pakula é baseado no livro de William Styron. O filme mostra o drama de Sofia. Nascida na Polônia, filha de pai antissemita, que é presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra. Ela e os dois filhos tentam resistir às dificuldades, mas ela é forçada por um soldado nazista a escolher qual dos filhos terá direito de viver, enquanto o outro morrerá. Streep interpreta Sofia de maneira sensível, intensa, definitiva. A triste cena em que sua personagem tem que escolher qual filho sobreviverá é totalmente emocionante com seu rosto expressando toda a dor de uma humanidade perdida, esquecida e abandonada em uma guerra absurda. Meryl utiliza, sensivelmente, respiração, olhares, mãos, corpo, fala para compor brilhantemente a personagem Sofia e mostrar aos espectadores as dores internas e externas desta personagem tão sofrida. Lembro-me que ao terminar a sessão no cinema Palácio, não consegui desenvencilhar da cena em que ela faz a dramática escolha. Desde então, nunca mais esqueci o rosto de Streep/Sofia. Eu tinha certeza que tinha acabado de presenciar uma das maiores atuações de uma atriz na história do cinema. Streep ganhou, merecidamente, o Oscar de melhor atriz naquele ano. Atuação histórica!

Ironweed, de Hector Babenco, é baseado no romance homônimo de William Kennedy. A história do filme acontece na década de 1930, durante a depressão econômica. Streep protagoniza o filme ao lado do genial Jack Nicholson. Eles interpretam dois moradores de rua alcoólatras que se conhecem e tentam superar seus dramas e necessidades. Nicholson é o esquizofrênico Francis Phelan e Streep é a ex-cantora Helen Archer. A técnica e intuição de Streep para interpretar esta personagem impressionam, de maneira completa. Meryl utiliza, novamente, respiração, olhares, mãos, corpo, fala para criar a personagem Helen e mostrar aos espectadores o sofrimento desta personagem. Atuação histórica!

Meryl Streep completou 72 anos de idade e continua experimentando seus limites. Como todo bom artista, ela gosta de experimentar. Comédias, dramas, musicais. Tudo é válido para exercitar seu talento. Sem dúvida, é uma das maiores atrizes do cinema. Espero que ela continue, por muitos anos, a nos mostrar a importância da interpretação na narrativa cinematográfica e que seja referência permanentemente inspiradora para novos atores e atrizes.

Confira algumas das melhores atuações de Meryl Streep no cinema:

Julia (1977)    

O Franco Atirador (1978)     

Manhattan (1979)      

Kramer vs. Kramer     (1979)

A Mulher do Tenente Francês (1981)          

Na Calada da Noite (1982)   

A Escolha de Sofia (1983)    

Silkwood (1983)

Entre Dois Amores (1985)    

A Difícil Arte de Amar (1986)         

Ironweed (1987)       

Um Grito no escuro (1988)   

As Pontes de Madison (1995)         

As Horas (2001)        

Sob o Domínio do Mal (2004)          

Leões e Cordeiros (2007)      

Dúvida (2008)

A Dama de Ferro (2001)

The Post (2017)   

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