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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

Cinema Brasileiro em dupla comemoração

Marco Antonio Moreira

Os dias 05 de novembro e 19 de junho, respectivamente, são lembrados como os dias do cinema brasileiro. Em 05 de novembro de 1896, ocorreu a primeira projeção de filmes no Rio de Janeiro, em salas temporárias, ou seja, lugares adaptados para exibição de filmes. Foi a primeira exibição pública de cinema no país realizada quase um ano depois da sessão histórica dos irmãos Lumière, em Paris, quando foi apresentado publicamente o aparelho cinematógrafo por meio de diversos filmes de curta duração dos Lumière. Em 19 de junho de 1898, Afonso Segreto realizou as primeiras filmagens em solo brasileiro, a partir de um navio, na baía da Guanabara (historiadores consideram que as primeiras gravações brasileiras teriam acontecido em 1897, em Petrópolis).  

Nas constantes polêmicas que cercam nosso país, em diversos campos de atuação, ter como referência dois dias do ano como o dia do cinema brasileiro, pode parecer, no mínimo, um exagero. Mas, de certa maneira, é admissível considerar como referências para o cinema brasileiro as datas da primeira exibição de filmes e a primeira filmagem realizada no país. Afinal, ainda precisamos comemorar duplamente a trajetória do cinema nacional, que em todos os anos de sua existência, nos provoca  reflexões, pesquisas e valorização de sua trajetória. Entre diversos argumentos para reforçar a necessidade de se comemorar duplamente a existência do cinema nacional, entendo que a principal razão tem relação com o público brasileiro que, infelizmente, mantém-se ,muitas vezes, distante da produção cinematográfica realizada no Brasil.

Para entender a trajetória do cinema nacional e sua relação com o público, é necessário contextualizar suas produções. Os filmes do cinema silencioso (anos 1910 e 1920), em sua maioria, poucas vezes conseguiram chamar atenção dos espectadores. Nesse período, o grande destaque foi Limite (1930) de Mário Peixoto. Felizmente, nos anos 1950, com as comédias protagonizadas por Oscarito e Grande Otelo, foi possível perceber uma intensa aproximação do público por meio das Chanchadas que lotavam os cinemas daquele período e permitiram que  produções brasileiras chegassem às salas de cinema nacionais com mais frequência graças aos seus sucessos.

Nos anos 1960, o movimento Cinema Novo, liderado por Glauber Rocha e Nelson Rodrigues dos Santos tornou nosso cinema mais atento a questões políticas e sociais, mas não teve sucessos de público que, raramente prestigiou de modo expressivo a exibição destes filmes nos cinemas. Nos anos 1970, com evidência para os filmes infantis e pornochanchada, o público brasileiro voltou a prestigiar as produções brasileiras, mas sem notar efetivamente o surgimento de novos cineastas e filmes de excelente produção, renomados pela crítica e premiados nacional e internacionalmente.

Nos anos 1980, a proposta de aproximar o cinema nacional por meio de diversos filmes foi bem sucedida, diversas vezes, mas no início dos anos 1990, com a extinção da Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME), a produção, distribuição e exibição de filmes brasileiros ficaram comprometidas durante muitos anos. O cinema nacional da retomada de produções e exibições, a partir de 1995, começou a conquistar seu espaço com filmes como Carlota Joaquina (1995) de Carla Camurati e Central do Brasil (1998) de Walter Salles Junior. Neste período, diversos sucessos fortaleceram a relação do cinema nacional com o público.

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Nos anos 2000, os desafios continuam. Alguns filmes brasileiros são premiados no exterior, novos e veteranos cineastas realizam filmes de qualidade, mas muitas vezes a distância com o espectador ainda é percebida. A comparação dos filmes nacionais com os filmes estrangeiros, que obviamente têm outras condições de realização incluindo altos investimentos públicos e privados, é injusta. Mas entendo que o mais grave é o preconceito! Avalia-se o cinema nacional por um filme ou dois, de décadas anteriores, e se generaliza seu status de evolução técnica e estética, de maneira incompreensível. Diversas vezes em sala de aula perguntei aos alunos sobre o cinema nacional e muitos não conheciam os filmes mais recentes, assim como os clássicos. Em outras ocasiões, em debates sobre os filmes brasileiros, percebi o pouco interesse de alguns espectadores sobre o que foi realizado no cinema em nosso país.

É preciso novas perspectivas para o cinema brasileiro. Conhecer sua história é um bom começo para se valorizar sua trajetória. Logo, por essa e outras razões, entendo que ainda é necessário celebrar o dia do cinema nacional em duas datas. Quem sabe, um dia, não precisaremos de nenhuma data especifica para saber e lembrar que temos uma bela cinematografia!

Confira a relação dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos de acordo com a Associação Brasileiras de Críticos de Cinema (ABRACCINE): 

1. Limite (1931), de Mario Peixoto

2. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha

3. Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos

4. Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho

5. Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha

6. O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla

7. São Paulo S/A (1965), de Luís Sérgio Person

8. Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles

9. O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte

10. Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade

11. Central do Brasil (1998), de Walter Salles

12. Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco

13. Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado

14. Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman

15. O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho

16. Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho

17. Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho

18. Bye Bye, Brasil (1979), de Carlos Diegues

19. Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias

20. São Bernardo (1974), de Leon Hirszman

21. Iracema, uma Transa Amazônica (1975), de Jorge Bodansky e Orlando Senna

22. Noite Vazia (1964), de Walter Hugo Khouri

23. Os Fuzis (1964), de Ruy Guerra

24. Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro

25. Bang Bang (1971), de Andrea Tonacci

26. A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1968), de Roberto Santos

27. Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos

28. Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho

29. Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos

30. Tropa de Elite (2007), de José Padilha

31. O Padre e a Moça (1965), de Joaquim Pedro de Andrade

32. Serras da Desordem (2006), de Andrea Tonacci

33. Santiago (2007), de João Moreira Salles

34. O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha

35. Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (2010), de José Padilha

36. O Invasor (2002), de Beto Brant

37. Todas as Mulheres do Mundo (1967), de Domingos Oliveira

38. Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Julio Bressane

39. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto

40. Os Cafajestes (1962), de Ruy Guerra

41. O Homem do Sputnik (1959), de Carlos Manga

42. A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral

43. Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla

44. SuperOutro (1989), de Edgard Navarro

45. Filme Demência (1986), de Carlos Reichenbach

46. À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), de José Mojica Marins

47. Terra Estrangeira (1996), de Walter Salles e Daniela Thomas

48. A Mulher de Todos (1969), de Rogério Sganzerla

49. Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos

50. Alma Corsária (1993), de Carlos Reichenbach

51. A Margem (1967), de Ozualdo Candeias

52. Toda Nudez Será Castigada (1973), de Arnaldo Jabor

53. Madame Satã (2000), de Karim Ainouz

54. A Falecida (1965), de Leon Hirzman

55. O Despertar da Besta – Ritual dos Sádicos (1969), de José Mojica Marins

56. Tudo Bem (1978), de Arnaldo Jabor (1978)

57. A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha

58. Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles

59. O Grande Momento (1958), de Roberto Santos

60. O Lobo Atrás da Porta (2014), de Fernando Coimbra

61. O Beijo da Mulher-Aranha (1985), de Hector Babenco

62. O Homem que Virou Suco (1980), de João Batista de Andrade

63. O Auto da Compadecida (1999), de Guel Arraes

64. O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto

65. A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Junior

66. O Caso dos Irmãos Naves (1967), de Luís Sérgio Person

67. Ônibus 174 (2002), de José Padilha

68. O Anjo Nasceu (1969), de Julio Bressane

69. Meu Nome é… Tonho (1969), de Ozualdo Candeias

70. O Céu de Suely (2006), de Karim Ainouz

71. Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert

72. Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bondanzky

73. Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda

74. Estômago (2010), de Marcos Jorge

75. Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes

76. Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira

77. Pra Frente, Brasil (1982), de Roberto Farias

78. Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1976), de Hector Babenco

79. O Viajante (1999), de Paulo Cezar Saraceni

80. Anjos do Arrabalde (1987), de Carlos Reichenbach

81. Mar de Rosas (1977), de Ana Carolina

82. O País de São Saruê (1971), de Vladimir Carvalho

83. A Marvada Carne (1985), de André Klotzel

84. Sargento Getúlio (1983), de Hermano Penna

85. Inocência (1983), de Walter Lima Jr.

86. Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis

87. Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J.B. Tanko

88. Di (1977), de Glauber Rocha

89. Os Inconfidentes (1972), de Joaquim Pedro de Andrade

90. Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966), de José Mojica Marins

91. Cabaret Mineiro (1980), de Carlos Alberto Prates Correia

92. Chuvas de Verão (1977), de Carlos Diegues

93. Dois Córregos (1999), de Carlos Reichenbach

94. Aruanda (1960), de Linduarte Noronha

95. Carandiru (2003), de Hector Babenco

96. Blá Blá Blá (1968), de Andrea Tonacci

97. O Signo do Caos (2003), de Rogério Sganzerla

98. O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), de Cao Hamburger

99. Meteorango Kid, Herói Intergaláctico (1969), de Andre Luis Oliveira

100. Guerra Conjugal (1975), de Joaquim Pedro de Andrade (*)

101. Bar Esperança, o Último que Fecha (1983), de Hugo Carvana (*)

 (*) Empatados na última colocação, com o mesmo número de pontos.

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