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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

Alain Resnais 100 anos: um cineasta moderno e criativo

Marco Antonio Moreira
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O centenário de nascimento do cineasta francês Alain Renais é celebrado este ano e me lembrou sobre artistas que se sobressaíram no seu trabalho pela obstinação em criar modos diferentes de pensar e fazer sua arte. No cinema é possível encontrar diretores que destinaram seu talento ao aprimoramento da sétima arte e lembrar-se do cineasta Alain Resnais, no ano do seu centenário é, certamente, uma maneira de homenagear sua trajetória artística que insistentemente contribuiu com o pensamento cinematográfico.

Alain Resnais iniciou sua carreira no cinema como editor de diversos filmes realizados na França. Nos anos 1940, dirigiu vários curtas metragens como Van Gogh (1948). Nos anos 1950, realizou importantes curtas metragens que colaboraram com sua reputação no cinema francês como Guernica (1950), As Estátuas Morrem (1953), Noite e Neblina (1955) (documentário sobre os campos de concentração nazistas considerado como um dos melhores documentários sobre a Segunda Guerra Mundial.), Toda memória do Mundo (1956) (sobre a Biblioteca Nacional Francesa com reflexões sobre a memória do país) e O Canto de Estireno (1958).

Em 1959, dirigiu a obra prima Hiroshima meu Amor com roteiro da escritora  francesa Marguerite Duras e tornou-se um dos cineastas mais importantes de seu país. O Ano Passado em Marienbad (1961), seu segundo filme, apresentou uma concepção fílmica diferenciada com uma inteligente combinação narrativa de passado, presente e futuro entre os personagens. Este filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1961 e foi indicado ao Oscar de melhor roteiro original em 1963. Alain Robbe-Grillet, roteirista do filme, esteve em Belém nos anos 1970.

Apesar de não se considerar como um cineasta do movimento cinematográfico Nouvelle Vague criado por Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jacques Rivette e Eric Rhomer, Resnais contribuiu com suas premissas de narrativa não linear de suas histórias e seu frequente pensamento diferenciado na utilização de distintos tempos narrativos muitas vezes vinculados a questões referentes sobre a memória, realidade, imaginação e ficção com alusões espaço-temporais complexas e inovadoras. A postura criativa de Resnais em transformar cada filme em uma experiência cinematográfica multifacetada com influências de diversas artes como literatura, música, teatro e dança conduziu sua obra à intensa aprovação pela maioria da crítica especializada mundial, mas um distanciamento da maioria do público que, muitas vezes, não apresentou interesse e curiosidade suficientes para entender e estudar sua obra.

Desse modo, seus filmes tiveram pouca projeção nos circuitos comerciais de exibição na maioria dos países. Felizmente, os cineclubes ajudaram com suas programações especiais para que as produções de Resnais fossem exibidas em diversas cidades. Em Belém, graças ao cineclube da Associação de Críticos de Cinema do Para (ACCPA), muitos filmes de Resnais foram exibidos permitindo que os cinéfilos paraenses conhecessem a genialidade deste diretor. Lembro-me de assistir no cineclube filmes fundamentais de sua carreira como Hiroshima meu Amor e O Ano passado em Marienbad.

No final dos anos 1970 e anos 1980, com uma melhor estruturação da distribuição dos filmes franceses no Brasil, especialmente pela distribuidora Gaumont, foi possível assistir nos cinemas as novas produções de Resnais naquele período como o belíssimo Providence (1979), o extraordinário Meu Tio da América (1980) (vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes em 1980), Smoking/No Smoking (1993) e  O Amor à Morte (1984). Em 2006, o filme Medos privados em lugares públicos teve surpreendente sucesso de público com exibições por mais de três anos no Brasil, especialmente no Cine Belas Artes, em São Paulo. Seu último filme, Amar, Beber e Cantar, foi lançado em 2014, ano que Resnais faleceu, e ganhou o Prêmio de Inovação Artística do Festival de Berlim 2014.

A obra de Resnais é essencial para a história do cinema. Ele e outros cineastas como Jean-Luc Godard, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Stanley Kubrick, Alfred Hitchcock e Akira Kurosawa, entre outros importantes artistas do cinema, deixou um legado de criação cinematográfica que merece permanentemente atenção, estudo e reconhecimento. Espero que o centenário de Resnais seja celebrado pelos cinéfilos e possa despertar a curiosidade para o conhecimento da sua obra fílmica que questionou a estética repetitiva do cinema clássico, desconstruiu a narrativa linear cinematográfica e apresentou novos conceitos sobre o inesgotável potencial criativo da linguagem cinematográfica.

Em tempos de debates sobre possíveis limites criativos e estéticos do cinema, entendo que a obra de Resnais afirma que tudo ainda estar por pensar na sétima arte e dessa maneira deve ser destacada com carinho e atenção pelo seu senso de modernidade em todos os filmes que colaboraram para consolidar e eternizar uma bela, polêmica, complexa e criativa trajetória de um grande artista do cinema.

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