Conheça a história do guarda de Nazaré que já bordou 14 mantos do Círio

Antônio José de Souza, bordador de mantos oficiais do Círio de Nazaré e membro da Guarda de Nazaré, é um exemplo de devoção, superação e fé. Ao longo dos últimos 21 anos, ele bordou 14 mantos para a Imagem Peregrina, e sua história está profundamente entrelaçada à Nossa Senhora. Sua trajetória no ofício começou ainda na juventude, quando foi influenciado pela bordadeira Maria de Fátima, que o ensinou e o apresentou ao mundo dos bordados, além de ter sido sua esposa. “Eu aprendi a bordar com ela: roupas de noiva, debutantes, formaturas...”, lembra Antônio, que mais tarde seria convidado a bordar o manto da Padroeira do Pará, em 2003.

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O convite inesperado marcou o início de sua jornada na confecção de uma das peças mais simbólicas do Círio. “Quando eu cheguei lá e vi aquela peça na minha frente, eu tomei um susto. Nem passava pela minha cabeça fazer um manto”, diz. Desde criança, Antônio sempre foi devoto de Nossa Senhora, e bordar o manto é, para ele, um ato de fé. “Fazer os mantos de Nossa Senhora me leva para junto dela. Eu faço uma viagem quando estou bordando, saio de tudo e coloco toda a minha energia, todo o meu amor, toda a minha fé”.

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Testemunho

Mas a fé de Antônio foi colocada à prova em 2018, quando, durante a confecção do manto daquele ano, sofreu um grave acidente de saúde. O bordador foi diagnosticado com tétano; uma doença grave que o levou a ser internado na UTI. “Os médicos disseram que eu não teria vida. Estava no tratamento paliativo, e eles disseram à minha família que só a fé podia me salvar”, conta. Naquele momento, a imagem da Guarda de Nazaré foi levada ao hospital por membros do grupo.

“Eles começaram a oração e perceberam que eu mexi a mão. Foi quando os médicos se mobilizaram novamente”, conta.

Antônio toca uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré com um manto da Guarda restaurado por ele, e segura um terço mariano na outra mão. Ao redor da imagem, flyers de mantos que ele já bordou para a Imagem Peregrina do Círio de Belém. (Wagner Santana / O Liberal)

Antônio acredita que sua cura foi um milagre de Nossa Senhora. Durante o período em que esteve internado, ele relata ter sentido a presença de uma senhora ao seu lado, que o acalmava nos momentos de dor. “Ela chegava, mexia comigo, mexia nos equipamentos e depois pedia para eu dormir. Acordava melhor”, lembra, emocionado. Após sua recuperação, o envolvimento com o Círio se intensificou, tanto como bordador quanto como membro da Guarda de Nazaré. Para ele, esses dois papeis são complementares e fortalecem sua fé. “Na Guarda, nós temos momentos de oração, visitamos hospitais, e tudo isso nos aproxima mais de Nossa Senhora”, explica.

Em meio aos desafios pessoais, como a perda de sua esposa, Maria de Fátima, Antônio encontrou forças na fé e no apoio de amigos. Ele descreve o momento da partida de sua esposa como um dos mais difíceis de sua vida, mas também como uma prova de que nunca esteve sozinho. “Eu achei que estava só, mas Nossa Senhora e Jesus Cristo nunca nos abandonam”, afirma.

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Hoje, novamente casado, o bordador e guarda continua tendo o apoio de uma companheira para seu trabalho no Círio. “A Jarina participa muito ativamente na confecção do manto, rezando o terço enquanto eu bordo. Ela tem uma missão importante na minha vida, que é interceder em tudo”, compartilha.

Antônio borda uma camisa feita para o Círio deste ano (Wagner Santana / O Liberal)

Ao falar sobre os mantos que já bordou, Antônio tem dificuldade em escolher um preferido, mas destaca o de 2020, o ano da pandemia, como particularmente especial. “A gente estava com muito medo, não sabia o que ia acontecer. A estilista [Kátia Novelino] estava se programando para viajar e comprar os materiais, quando veio a notícia de que ia fechar tudo. Ela disse: ‘Antônio, corre para o comércio e vamos trabalhar com o que nós temos aqui’. Eu rezava muito enquanto bordava. Esse manto é inesquecível, ele fala muito para nós”, reflete.

Para Antônio, bordar o manto da Virgem de Nazaré é muito mais do que um trabalho. “O manto é feito com tanto amor que ultrapassa o sentimento. As pessoas chegam ali sofridas, em busca de algo, e o manto dá esse carinho, esse conforto”, conclui.