Em carta, mãe de Miguel diz que perdoar 'seria matar o Miguel novamente'

Mirtes Renata decidiu responder através de uma carta ao pedido de perdão feito publicamente pela ex-patroa Sarí Corte Real

Com informações do Portal do Holanda

Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, que caiu do 9º andar de um prédio de luxo em Recife, decidiu responder através de uma carta ao pedido de perdão feito publicamente pela ex-patroa Sarí Corte Real, que estava com a criança quando ela caiu do edifício, na semana passada. Em um desabafo doloroso, Mirtes afirma que não perdoa a primeira-dama:

“Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente”.

Para a empregada doméstica, o pedido de perdão de Sarí não foi sincero e tinha apenas o objetivo de tentar reverter a opinião pública, já que o caso gerou revolta e ascendeu novamente o debate em torno de um crime considerado por muitos banal: o racismo.

Ela destaca ainda que a carta da mulher sequer foi entregue para ela, mas diretamente para os jornalistas. E afirma que Sarí está preocupada por esse ser um ano de eleição.

Na carta escrita com a ajuda do advogado, Mirtes acusa que o descaso da mulher se deu porque Miguel é negro, filho de uma mulher humilde. Confira na íntegra a carta que foi divulgada na quarta-feira (10) e entregue aos advogados da primeira-dama:

Sobre o perdão pedido por Sari

Eu não recebi qualquer pedido de desculpas. A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição.

Eu não tenho rancor. Tenho saudade do meu filho. O sentido da vida de quem e´ mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo "mamãe" quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência. Quem sou eu sem Miguel? Ela tirou de mim o meu neguinho, minha vida, por quem eu trabalhava e acordava todos os dias.

Quando eu grito que quero justiça, isso significa que eu preciso que alguém assuma a minha dor, lute minha luta, seja o destilado da cólera que eu não quero e nem posso ser. Eu não tenho forças neste momento, não tenho chão. Não tenho vida!

Após poucos dias é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser "filho da empregada".

Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente.

Mirtes, mãe de Miguel

(carta escrita com auxílio do advogado constituído)

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