Criminosos usam dados de pacientes internados para aplicar golpes em familiares

Criminosos estão usando dados de pacientes em hospitais e se passando por médicos com o objetivo de aplicar golpes nos familiares.

O Liberal
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Criminosos estão usando dados de pacientes em hospitais e se passando por médicos com o objetivo de aplicar golpes nos familiares. A prática é a mesma: o criminoso se passa por um médico alegando que o paciente precisa com urgência de um medicamento ou procedimento e, para isso, o familiar deve fazer um pagamento.
 
A social media Angélica Malcher Martins, 32, entrou em desespero quando recebeu uma mensagem assim. O irmão dela, Gregório, foi internado no CTI do hospital Ophir Loyola, em Belém, no dia 27 de novembro com uma metástase no cérebro. Um dia depois ela foi procurada por um suposto médico, pedindo para ela pagar um remédio cujo custo era de R$ 134. "Foi algo muito sinistro", disse Angélica ao UOL.
 
 
A mensagem sugeria que a descoberta da necessidade do medicamento veio dos resultados de exames —que nem sequer foram feitos. "Na hora, estava em casa. Era um momento em que todo mundo estava atordoado, vendo quem poderia visitar o meu irmão naquele dia, já que as visitas no CTI são limitadas. Quando recebi a mensagem, fiquei desesperada. Comecei a chorar."

A social media conta que tentou se acalmar e desconfiou quando percebeu que o DDD do suposto médico não era do Pará. "Liguei para a minha cunhada e disse que iria ao hospital. Foi nessa hora que ela avisou que lá no CTI tinha cartazes avisando que essa prática era de fato um golpe", disse. Além de Angélica, um amigo da família, que fazia uma ação social para auxiliar no tratamento do irmão dela, também recebeu a mesma mensagem. "O suposto médico pediu que eu mandasse um retorno em duas horas. Falei que tinha que consultar minhas irmãs. Depois de um tempo, ele me bloqueou."

"Na hora do desespero a gente quer a cura, não quer que o familiar sinta dor e vai fazer de tudo para isso. Eles falam uma palavra difícil para você acreditar que precisa comprar aquilo. A sorte é que trabalho com internet e desconfio. Mas na hora do desespero, muitas pessoas não conseguem pensar. Quantas famílias não caem numa situação dessa?", comentou Angélica.
 

No início do mês, a UX designer Karina Lacerda, 45, viralizou no X, ao contar um caso semelhante. Segundo ela, o marido havia sido internado para uma cirurgia simples no Hospital Santa Rita, em São Paulo. No quarto, ele recebeu uma ligação em que orientavam ele a avisar à mulher que um suposto médico entraria em contato com ela.

"A pessoa se identificou como médico, disse que era da equipe que operaria meu marido. Ele explicou que encontrou uma infecção no sangue do meu marido, no estágio inicial, e que precisava fazer um exame de imagem para confirmar e fazer o tratamento", escreveu ela no X.

"Avisou que dava para fazer tudo pelo convênio, mas que a liberação só aconteceria em uns dias e recomendou fazer tudo naquele dia, citando o risco de a infecção aumentar. Aí me pediu para passar dados pessoais e bancários para fazer o pagamento do exame, da equipe terceira e afins, e [disse] que o reembolso seria feito em até quatro dias úteis. O valor total: R$ 6.000."

Karina disse que tentou falar com o marido, mas ele já não atendia mais. Ela correu para o hospital e então soube que se tratava de um golpe. "Quando eu cheguei ao hospital e alertei a equipe, aí o golpista deletou o contato, sumiu a foto, bloqueou meu número, sei lá", descreveu.
 


A prática, no entanto, não é recente. A família da analista de marketing Taiana Figueiredo, 33, viveu momentos de tensão em 2017 quando a avó dela aguardava uma vaga em um hospital público de Salvador para fazer uma cirurgia.

"Minha mãe e minha tia se revezavam para ficar com ela, mas o contato de emergência que tinha no hospital era o da minha mãe. Ela tinha passado a noite lá até a minha tia chegar. Enquanto ela almoçava, ligaram para o celular dela dizendo que era do hospital. Passaram todos os dados da minha mãe e da minha avó. Eles tinham tudo, até o motivo da internação dela", relembra.

"Então disseram que minha avó teve uma infecção inesperada e que ia precisar fazer o procedimento com urgência, mas que o SUS não faria, tinha que pagar cerca de R$ 16 mil. Lembro que minha mãe ficou pálida na hora". Antes de qualquer transação, a família telefonou para a tia, que estava no hospital, e confirmou que se tratava de um golpe.

O que dizem os hospitais

O Hospital Ophir Loyola reforçou que os atendimentos e procedimentos são disponibilizados pelo SUS e, portanto, gratuitos. Caso familiares e acompanhantes recebam solicitação de pagamento para receber qualquer tipo de assistência, medicamento ou insumo, devem entrar em contato com a ouvidora do hospital através do número (91) 3265 - 6543 ou presencialmente.

O Hospital Santa Rita disse que "nenhum tipo de cobrança é feito por contato eletrônico ou telefônico". Segundo a instituição, todas as questões financeiras são tratadas pessoalmente, na área da tesouraria. Eles ainda afirmaram que não comentam casos particulares em respeito à privacidade dos seus pacientes e que estão em contato "permanente" com autoridades públicas para apoiar investigações.

O Ministério da Saúde orienta familiares a procurarem as autoridades policiais imediatamente em suspeita de golpe. "Todos os atendimentos e serviços disponibilizados no âmbito do SUS são totalmente gratuitos, portanto, sem qualquer tipo de solicitação de valores a pacientes e seus familiares", diz comunicado. "Em caso de dúvida, o cidadão pode entrar em contato com o Disque Saúde, pelo número 136."

Sobre vazamento dos dados dos pacientes 

Francisco Balestrim, médico e presidente do Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo) indica três hipóteses de vazamentos de dados de pacientes nas instituições.
 
  • Vazamento de sistemas de informação. Apesar da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) definir que as instituições devam ter uma homogeneidade de cuidados na manipulação de dados de pacientes, não é possível assegurar que todas as instituições brasileiras sigam os mesmos protocolos. Essas informações podem ser pouco cuidadas e consequentemente caírem na mão de pessoas com más intenções.
  • Invasão de sistema de dados. O vazamento de dados também pode ser provocado por hackers, que de forma dolosa conseguem acesso não apenas às informações dos pacientes, como também das questões administrativas dos hospitais.
  • Falha nos processos de manuseio de dados nas instituições. Às vezes as informações podem ser fornecidas para terceiros por funcionários que estão agindo de boa-fé, mas são ludibriados pelos próprios golpistas.
     
Como evitar?
Os hospitais devem definir rotinas claras de utilização dos dados. Além de promover a segurança dos dados dos pacientes, é imprescindível que as instituições façam treinamentos para evitar qualquer tipo de vazamento.
Ter em mente que nenhuma instituição pede recursos por fora de canais oficiais de comunicação. Seja público ou privado, não é procedimento de nenhum hospital entrar em contato com familiares por terceiros, segundo o presidente do Sindhosp Francisco Balestrim. E, no caso de hospitais públicos, procedimentos e medicamentos são cobertos pela unidade de saúde.
Procurar sempre a administração do hospital. Tanto em caso de suspeita quanto denúncia, a administração da unidade de saúde deve ser acionada. A prática é crime e pode render prisão de até 5 anos.
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