Trânsito desordenado e desrespeito à faixa de pedestres preocupam moradores do 40 Horas
Motociclistas fazem retorno proibido, pedestres se arriscam e moradores cobram fiscalização dos agentes de trânsito
A rotatória da avenida Independência com a avenida Hélio Gueiros, no conjunto 40 Horas, em Ananindeua, se transformou em um ponto crítico de desrespeito às leis de trânsito e de insegurança constante para quem precisa circular pela área. A movimentada interseção, que dá acesso à feira e a importantes vias do município, sofre diariamente com a falta de agentes de trânsito e com o comportamento perigoso de condutores que insistem em descumprir as regras básicas de circulação e respeito aos pedestres.
Durante a manhã e o início da tarde, o fluxo intenso de carros, motos e bicicletas contrasta com a vulnerabilidade de pedestres que tentam atravessar a faixa existente em frente a um estabelecimento comercial. Muitos motoristas e motociclistas simplesmente ignoram a sinalização. A Redação Integrada de O Liberal esteve no local e, em poucos minutos, flagrou diversas irregularidades cometidas por condutores, especialmente motociclistas.
Antes, os veículos que trafegavam pela avenida Independência entravam na rotatória e seguiam normalmente pela avenida Hélio Gueiros, em direção à feira do 40 Horas. Essa dinâmica, segundo moradores, permitia um trânsito mais previsível. No entanto, o trajeto foi alterado recentemente. Agora, quem vem da Independência precisa seguir em frente e, apenas mais à frente, realizar o retorno permitido. O problema é que muitos motociclistas, para evitar o deslocamento maior, realizam um retorno proibido, passando por uma estreita passarela de concreto no canteiro central, área destinada à travessia de pedestres e ciclistas.
O resultado é o caos. Motociclistas utilizam o espaço ao mesmo tempo em que pedestres tentam atravessar, gerando situações de extremo risco. Além disso, a faixa de pedestres no cruzamento é constantemente ignorada. “É uma disputa desigual entre carros, motos e pessoas que só querem chegar com segurança ao outro lado da rua”, descreve uma moradora que acompanhava o movimento.
O local, que concentra fluxo intenso de veículos particulares, motos, bicicletas e pedestres durante todo o dia, não conta com a presença de agentes de trânsito da Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito de Ananindeua (Semutran), nem com fiscalização eletrônica. Para quem mora ou circula pela área, a ausência de controle tornou-se sinônimo de medo e de constantes quase acidentes.
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“Já fui ameaçado mais de cinco vezes por reclamar”, diz agricultor
O agricultor Abenézio de Souza Cunha, de 68 anos, conhece bem o risco. Morador antigo da região, ele passa diariamente pela rotatória e afirma que atravessar o local é uma tarefa perigosa e angustiante. Ao lado da esposa, ele tenta manter a rotina, mas admite que a insegurança é constante.
“É, é muito grande aqui. Isso aqui é minha esposa, ela também, olha. Todo dia é essa dificuldade. Eles não querem ir lá na frente pra dar o retorno. Passam por aqui, sobem por cima e vão embora. A gente corre risco de acidente grande”, contou Abenézio, enquanto observava o movimento de motos que faziam o retorno irregular a poucos metros de onde estava.
“Quando reclamo, já fui ameaçado mais de cinco vezes de levar porrada no meio da rua, por motorista. Eu tô certo, mas eles dizem que eu tô errado. Tenho que olhar pros dois lados o tempo todo. Outro dia fui atravessar e o carro veio chutado de lá, gritando palavrão. Ninguém respeita. Nem motorista de carro, nem de moto”, relatou o agricultor, visivelmente indignado.
“Meu apelo é que as autoridades façam alguma coisa, pra que esses motoristas tenham mais respeito, principalmente com as pessoas idosas”, pediu o agricultor, conhecido na área como Cruzeiro, que segue enfrentando o perigo todos os dias. A fala de Abenézio reflete o sentimento de desamparo vivido por quem depende do trajeto para chegar ao trabalho, à feira ou ao comércio local. O medo de ser atropelado é constante, e o desrespeito à faixa de pedestres já virou rotina.
“Enquanto não colocarem câmera pra multar, nada muda”
Quem também denuncia a imprudência é o produtor de eventos Cleyton Braga, de 49 anos. Ele costuma passar pelo cruzamento diariamente e, no momento em que foi abordado pela equipe de reportagem, atravessava a faixa de pedestres com o filho pequeno, Caleb, de um ano, no colo.
“Todo dia é esse problema. Os motoristas e motoqueiros não respeitam o semáforo. Querem fazer o contorno no meio das pessoas, mesmo com o sinal fechado, e passam por cima de quem tá atravessando com criança ou idoso. Ninguém respeita ninguém”, afirmou.
“Enquanto não colocarem uma câmera pra multar, não vai mudar. É sempre a mesma coisa. O motoqueiro avança o sinal, o carro não dá seta pra entrar no supermercado. É um absurdo. O ser humano é uma figura indescritível”, desabafou Cleyton.
O produtor faz questão de reforçar que o perigo é constante. “A gente tenta se cuidar, mas é difícil. Eles fecham o semáforo, avançam, buzinam, e ainda reclamam. Um dia vai acontecer uma tragédia aqui”, completou. Cleyton também lamenta a falta de empatia e atenção dos condutores. Para ele, o uso de câmeras de fiscalização e a aplicação de multas seriam medidas eficazes para coibir o desrespeito e evitar acidentes.
Morador com deficiência pede ação imediata das autoridades
Entre os que sofrem diariamente com a travessia, está um morador que preferiu se identificar apenas como Costa, de 65 anos. Ele tem deficiência física, um problema no pé, e depende de muletas para se locomover. Segundo ele, atravessar a avenida virou um desafio de sobrevivência. “Eu tô com problema no pé. Falta respeito no trânsito. O governo e quem age pelo trânsito têm que botar guarda de trânsito aqui, pra proteger as pessoas idosas, doentes, aleijadas, que não conseguem atravessar. Todo dia é o mesmo problema. Todo dia é risco de acidente”, afirmou.
“Pra atravessar, só pedindo ajuda a Deus. Eu ganho um benefíciozinho e me viro como posso. Quero que botem guarda de trânsito aqui”, pediu o morador, que teme se tornar mais uma vítima da imprudência. Costa encerra o apelo com uma mensagem simples, mas carregada de urgência: “Todo dia é assim. É noite e dia. A gente pede, reclama, e nada muda. Só quero respeito e segurança". A Redação Integrada de O Liberal entrou em contato com a Prefeitura de Ananindeua e aguarda retorno.
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