"Saúde nos terreiros" programação reúne ações de saúde e palestra à pessoas de religião de matriz africana

Aferição de pressão arterial; encaminhamento de exame hemograma (anemia falciforme); glicemia; consulta de enfermagem e emissão do Cartão SUS são alguns dos serviços

Emanuele Correa
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Começou nesta terça-feira (9) a programação “Atotô, SalubáNanã: saúde nos terreiros” realizada pela Prefeitura de Belém, por meio da Coordenadoria Antirracista (Coant), Comissão da Diversidade Sexual (CDS) e Secretaria municipal de saúde de Belém (Sesma), junto com os povos tradicionais de matriz africana (Potmas). O objetivo é levar serviços e palestras para dentro de espaços afro religiosos, como os terreiros (Casas de Axé). A abertura aconteceu na Hunkpame Abuke Kwe - Casa templo Babá Abuke -, localizada na travessa Doutor Moraes, 1.026, Batista Campos.

Na programação de saúde foram oferecidos os serviços de: aferição de pressão arterial; encaminhamento de exame hemograma (anemia falciforme); glicemia; consulta de enfermagem  e emissão do Cartão SUS. A abertura também contou com uma palestra ministrada pela Sesma sobre "Saúde da população negra". No último censo de 2012, Belém e região metropolitana reuniam mais de 3 mil terreiros, considerando o Estado somam-se 10 mil terreiros e espaços de matriz africana. Heitor Moraes, da Divisão de atenção básica da Sesma, ministrante da palestra falou da ação de educação em saúde e os principais agravos que acometem a comunidade.

"Estamos realizando essa ação de aproximação dos povos de terreiro e que foram invisibilizados nas gestões anteriores. É importante desenvolver essas políticas que visa incluir essas populações, pois o racismos estrutural também está presente no sistema de saúde. São ações que começaram agora, mas que com o tempo pretendemos que se estendam a outros terreiros e se tornem permanentes, não só no mês de novembro, visto que esta é a primeira ação", explicou o supervisor.

"A missão que o prefeito nos nos passou foi de abrir os caminhos. Nós sabemos que o SUS tem uma dívida história com esses povos de terreiros", disse o médico Vitor Nina, em sua fala na abertura, se dirigindo a mãe Ekede Idália, quem também estava discursando na abertura das programação. "O corpo físico quem cuida são os profissionais de saúde, e nós cuidamos da religiosidade", completou Adália.

Elza Fátima Rodrigues, coordenadora da Coant entende que esses eventos são necessários para dar visibilidade aos povos de terreiros, que ainda são vistos pela sociedade de forma diferente e o preconceito prejudica o próprio acesso à saúde. "Nós sabemos que tudo o que está ligado a origem da África sofre algum tipo de preconceito no Brasil. Seja porque somos descendente de escravizados, e dentro disso está a nossa afro religiosidade. Culto aos orixás que representam a natureza. Então os terreiros sofrem racismo religioso. Dizem que são práticas do demônios. É um culto que preservar a vida e a natureza", explica.

Juliana Damasceno, assessora da CDS e vodunsi da casa fala que a ideia é que esta ação que se inicia seja recorrente e que posteriormente seja mapeada a questão da saúde e outras demandas dos povos de terreiros, pois já existe as diretrizes nacionais para a saúde negra, mas falta capacitar os profissionais. Assim como existe para a população LGBTQIA+ e encontraram a intercessão entre os a população preta, mulheres e LGBTQIA+: a questão afro religiosas. Por isso o evento reúne as três coordenadorias.

"A ideia é ser uma ação recorrente, começou agora pq a prefeitura propôs que fosse uma ação. Temos conversado como abordar a saúde para as pessoas pretas e povos de terreiros. Focadas dentro das três coordenadorias: mulheres, LGBTIA+ e pessoas pretas e o que integra essas três comunidades são o fato de serem povos de terreiros. Queremos fazer o mapeamento dessas comunidades, com foco na saúde; quantos da população de terreiro são LGBTs, são negros, e no futuro queremos ampliar para mais terreiros e unidades de saúde pra que os povos de terreiro se sintam a vontade de procurar.

Jhonata Pimentel, 20 anos, abyan - está em desenvolvimento de sua religiosidade na casa - há 5 meses, aproveitou a ação para cuidar da saúde física e aprender um pouco mais sobre a importância dos cuidados com a saúde e tirar a carteirinha do Sistema Único de Saúde. "Vou fazer o cadastro do SUS, controle de rotina, etc. É importante pontuar que no terreiro cuidamos da espiritualidade. Mas precisamos da matéria física bem cuidada. Dentro dos espaços de terreiro temos chefes religiosos que são idosos e precisam de um cuidados maior com a saúde, são de grupo de risco, precisam ter um controle maior, pincipalmente nesse contexto de pandemia. Uma parcela da população não usufruem dos seus direitos. Não só os povos de terreiros, mas pessoas que estão longe da zona urbana", refletiu.

Mãe Ekede Idália reforça que a programação é necessária para garantir o acesso dos Potmas aos serviços de saúde que são essenciais e que ela bem sabe que as comunidade de matriz africana têm o acesso dificultado, principalmente, devido ao preconceito religioso. "Pra nós é muito importante essa ação, porque nós povos de terreiros temos dificuldade, nós de comunidade periférica, nós sempre encontramos dificuldades no acesso à saúde. Não podemos ir com nossas vestimentas procurar os postos de saúde, pois tem muito preconceito, porque quando veem que somos de terreiro, da religião de matriz africana, eles sempre dificultam alguma coisa. Seria importante que a sesma estenda esse serviço para outros terreiros"

O serviço continua nos dias 11 e 12 de novembro e a programação é aberta ao público. "O terreiro não é fechado só aos povos de terreiros, é aberto a comunidade. Daqui para frente espero que as religiões de matrizes africanas tenham mais espaços nos lugares e sejam respeitadas", reforça mãe Ekede.

Para participar da ação de saúde, que é aberta a qualquer pessoa da comunidade do terreiro e do bairro, é necessário apresentar os seguintes documentos (para cadastramento na Unidade Municipal de Saúde UMS): CPF, RG, comprovante de residência e NIS. Confira as datas:
11/11 - Rundembo N’Gunzo de Bamburusema - Mametu Muagilè. Localizado na rua Seis de setembro, 72, Terra Firme

12/11 - Kwe Acè Kpo Hosun Gánìyákú Jokolossy, em Outeiro

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