Profissionais de saúde emocionam-se ao relatar convivência com pacientes no Hospital do Hangar

Histórias são de amorosidade e zelo pela vida humana

Eduardo Rocha / O Liberal

Em 30 dias, o Hospital de Campanha no Hangar Centro de Convenções (Hangar), instalado para atender exclusivamente pacientes com a covid-19, em abril de 2020, encerrará atividades no próximo dia 15 de outubro. Mas histórias tocantes de quem convive com o sofrimento de pacientes e familiares não serão esquecidas.

E não é para menos. A diretora técnica do hospital, Bárbara Freire, informa que a unidade hospitalar teve cerca de 7 mil atendimentos, com quase 5 mil altas, em atendimento de excelência prestado por uma equipe multidisciplinar. 

Atualmente, o hospital de campanha está com apenas 21% de sua ocupação, o que corresponde à internação de 34 pacientes, dos quais 15 em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Bárbara conta que a maior alegria do dia dos profissionais é quando o sino é tocado pelo paciente, indicando que recebeu alta. Ela diz que o atendimento ao público teve "cada profissional se dedicando ao máximo para cada paciente". 

Emoção 

Protagonistas de casos de atendimento, na maioria das vezes, de urgência, os profissionais de Saúde externam a emoção do trabalho realizado, como a assistente social Rafaela Assunção. Ela ressalta que "apesar de termos muitas perdas, foi gratificante poder estreitar a relação entre os pacientes que aqui estão e as famílias".

image Os leitos, agora vazios, trazem a lembrança de momentos difíceis durante a pandemia (Tarso Sarraf / O Liberal)

"Não foi fácil esse distanciamento que a gente precisou tomar, então, a gente está aqui como forma de um elo entre a família e o paciente", afirma. A assistente social conta que o profissionais fizeram de tudo pelos pacientes: "Demos o nosso sangue aqui dentro".

"Perdemos muitos colegas de trabalho também. E não é só uma vida, é o amor também. Não é só um paciente, é o amor de uma família inteira. É muito bom estar aqui até o final e entregar de volta à população o espaço, e saber que está bem no final. Eu espero que esse final só continue. Foi gratificante, foi honroso, poder estar e lutar na frente", afirma Rafaela, desde abril de 2020 atuando no Hangar.

Idas e vindas

Daniel Corrêa observou de perto a movimentação de chegada e saída de pacientes no Hospital de Campanha. Na função de porteiro, ele externa que se sente mais aliviado com a queda do número de internações na unidade. "Vendo as pessoas melhorando, tendo alta a cada dia, a evolução do vírus acalmando, e assim as coisas aqui vão ficando em um ambiente bem calmo", frisa.

image Cerca de 5 mil pacientes receberam alta e saíram pela porta da frente do Hangar (Tarso Sarraf / O Liberal)

O porteiro destaca que se sente agradecido por o cenário ser outro hoje em dia, com a chegada de vacinas para a população."No coração, meu sentimento é de gratidão, graças a Deus", salienta.

O profissional conta que, no começo de seu trabalho no Hangar, tinha medo de ser infectado pelo coronavírus, nos primeiros momentos da pandemia. Mas, mudou de ideia ao compreender que estava contribuindo na luta para salvar dias. Ele considera que, no fundo, trabalhar no espaço "foi uma boa oportunidade" para quem estava desempregado. "Ou você trabalhava aqui ou continuava desempregado", observa.

Como um filme

Desde o começo da pandemia no Hospital de Campanha do Hangar, o psicólogo Rogis Coutinho de Araújo declara que sobre o assunto "é difícil até de falar", porque, como diz, aconteceram outras situações relacionadas ao fechamento da unidade hospitalar, mas não como a dessa quarta-feira, protagonizada pelo governador do Estado, Helder Barbalho.

"Eu tenho uma mistura de sentimento de luto, gratidão, aprendizagem", afirma. Ele ressalta que no Hangar nunca funcionou um hospital comum. "Isso aqui tem um fluxo alto de pessoas. Hoje, essa área em que a gente está aqui, isso era tomado de familiares querendo saber o paradeiro de pacientes; os familiares que saíram de outros municípios que não sabiam nem onde é que os seus pacientes, parentes, estavam internados", lembra.

image Profissionais da saúde perderam colegas, mas salvaram milhares de vidas (Tarso Sarraf / O Liberal)

Rogis diz que o começo da pandemia foi muito entristecedor, com pessoas desesperadas, com muita reação tanto da parte dos familiares de pacientes quanto por parte da equipe de profissionais que teve de se azeitar para aprender e atuar diante de uma doença nova. Rogis destaca que o término do funcionamento do Hospital de Campanha do Hangar lembra o "final de um filme de ficção científica".

"Falar é uma coisa, o que eu estou sentindo  aqui é outra", acrescenta. Ele relata que de vez em quando pessoas agradecem, nas redes sociais, pelo serviço prestado no Hangar. "Em um supermercado recebi o carinho de uma senhora, que disse: "Olha, aquilo que você fez pela minha família... Eu agradeço o sentimento", declara o psicólogo. Ele revela que foram muitas pessoas atendidas no Hangar, entre pessoas do Pará, de outros estados e de outros países.

Entre os casos que marcaram Rogis está o de um senhor de prenome Raimundo, com quase 100 anos de idade, sobre quem não se tinha uma expectativa muito boa, diante das comorbidades e idade avançada. "Mas quando ele saiu por essa porta, e os filhos deles vieram apanhá-lo, abriu uma luz de esperança no fim do túnel para todos os pacientes que tivessem as mesmas características". Os pacientes deram maior confiança aos profissionais no Hangar de que a recuperação dos internados era possível.

Veja imagens do último dia do Hospital de Campanha:

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