Praças de Belém estão em situação de abandono com falta de manutenção

Moradores lamentam a precariedade dos espaços e aguardam melhorias por parte do poder público

Camila Guimarães

Belém possui 241 praças espalhadas pela a cidade, segundo o Departamento de Projetos e Paisagismo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). Esses locais deveriam servir de espaço para lazer e convivência dos moradores, mas nem sempre é isso que acontece. Muitas praças padecem com falta de manutenção da prefeitura, ocasionando acúmulo de lixo, mato e problemas estruturais. A falta de iluminação, somada à ausência de fiscalização por agentes de segurança, também desencoraja o uso dos espaços.

VEJA MAIS

image Estrutura de proteção precária no Ver-o-Peso atrapalha o comércio e turismo, afirma denunciante
De acordo com a denúncia, o problema ocorre desde agosto de 2022

image Praças na Avenida João Paulo II estão abandonadas, dizem moradores
Segundo denúncias, a academia ao ar livre e o parquinho de lazer para as crianças estão desativados

image Aumento de transporte individual traz consequências para o meio ambiente e desigualdades sociais
Prejuízos à mobilidade afetam outros aspectos da sociedade com o crescimento do uso de automóveis particulares e serviços por aplicativo

Marambaia

Na praça Dom Alberto Ramos, no bairro da Marambaia, por exemplo, as estruturas de madeira estão literalmente despencando. Na academia ao ar livre, com sete anos de existência, os aparelhos não funcionam mais. O mato toma conta de boa parte do piso ao longo dos 18 mil m² de extensão do logradouro, e o lixo se espalha pela vegetação. Os banheiros públicos não tem estrutura alguma para funcionar e exalam mau cheiro.

image Estrutura da praça Dom Alberto Ramos está desabando. (Ivan Duarte / O Liberal)

O servidor público Moacir Pereira, de 44 anos, diz que não vê autoridades tomando providências a respeito: "Eu percebi que tem pessoas da própria comunidade que fazem limpeza, algumas cuidam das plantas, mas é necessário uma limpeza mais efetiva e mais segurança pública. A gente também tem um problema muito sério de lixo. Isso desanima a comunidade como um todo", lamenta.

Outro morador, o autônomo Manoel Santos, 52, diz que o máximo de cuidado que ele percebe, por parte da prefeitura, é uma roçagem com intervalos de cerca de três meses. Mas, Manoel garante que nem sempre foi assim: "Tem uns oito anos que eu venho aqui, por isso digo que já foi melhor. Quando tinha o posto da guarda, era mais seguro. A estrutura física está abandonada. Se tivesse uma infraestrutura melhor, teria mais gente fazendo esporte. À noite tinha muita gente que vinha aqui, mas agora não vem mais porque fica inseguro", reclama.

image A praça Tancredo Neves, na Marambaia, sofre com acúmulo de lixo. (Ivan Duarte / O Liberal)

Ainda na Marambaia, já na praça Tancredo Neves, o problema de lixo e insegurança persistem. Há 56 anos, o serralheiro soldador José Rodrigues vive no bairro e diz que já viu muitas mudanças acontecerem, mas, atualmente, os serviços de manutenção, quando acontecem, não são de qualidade e que os comerciantes da área precisam tomar iniciativa para lidar com o lixo: "O pessoal que tem barraca aqui que faz a limpeza, mas ao mesmo tempo, eles amontoam o lixo pelos cantos. Quando a coleta não passa, fica todo esse lixo ali. Já segurança na praça mesmo nunca teve. Eu já presenciei vários assaltos e até assassinato do outro lado da praça. Mataram dois no mesmo momento".

 

Tapanã

No bairro do Tapanã, no conjunto Bosque Araguaia, no qual os moradores dizem pagar uma taxa condominal, o cuidado com a infraestrutura é mínimo. A única praça do conjunto é tomada pelo mato e lama e, por conta, disso, quando chove, fica inviável caminhar. Uma moradora, que preferiu preservar a identidade, conta que sempre houve esse abandono.

image A praça do conjunto Bosque Araguaia não tem mais funcionalidade e os moradores não conseguem nem pisar quando chove. (Ivan Duarte / O Liberal)

"Eu já moro aqui há 18 anos e sempre foi assim. O mato hoje está até pequeno, em comparação com o que costuma ficar. Em relação aos brinquedos, já foi tirado a maior parte, inclusive um escorregador, que estava muito enferrujado e já feriu o pé de duas crianças. Não tem quem faça nada por nós".

Com o mato e a falta de calçamento, a moradora diz que insetos, como os mosquitos, se reproduzem nos pontos de água parada. Além disso, sair depois que chove é um transtorno: "Às vezes a gente vai passar e atola o pé da gente. A gente afunda mesmo", lamenta.

 

Jurunas

Crônico, o problema nas praças se estende por outros bairros. Do outro lado da cidade, no Jurunas, a pintura mais recente em algumas estruturas da praça e parque Osvaldo de Caldas Brito, de longe, pode até enganar. Mas é só chegar mais perto para perceber que os brinquedos estão em condições insalubres, além do mato, que se espalha pelo local. Jorge Pojo, 56, autônomo e presidente da associação dos trabalhadores do Portal da Amazônia relata a situação:

"A prefeitura, infelizmente, demora muito a vim fazer a roçagem e fica esse mato alto. O parquinho estava cem vezes pior do que como está hoje. A pintura foi uma parceria entre a comunidade e, na época, um vereador, mas os brinquedos escangalharam, porque não tem quem tome conta. Quanto à iluminação, tem várias lâmpadas aqui que não acendem de noite e fica uma escuridão total. Não tem guarda na praça".

image O parque da praça Osvaldo Caldas Brito, no Jurunas, está com os brinquedos quebrados, colocando em risco a integridade dos usuários. (Ivan Duarte / O Liberal)

Jorge diz que já chegou a procurar a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) para solicitar uma revitalização, mas o único retorno que recebe é de que o pedido está em análise. Até mesmo a iniciativa em memória de alguns moradores que morreram de covid-19, durante a pandemia, padece com a falta de fiscalização. O aposentado Walter Pereira Alves, 79, lamenta que o gradil que protege uma árvore plantada em memória da esposa, Iolanda da Silva Alves, vítima do novo coronavírus aos 78 anos de idade, já tenha sido roubado uma vez e, agora, está vandalizado, com a placa que fazia referência ao nome da esposa rasgada.

"Me disseram 'Vavá, você não quer que a gente plante uma árvore aqui? Pela memória dela', e aí plantaram. Mas, às vezes fica abandonado. Já levaram a placa em homenagem ao nome dela. Levaram todo o gradil. Aqui falta conservação. Se eles viessem ao menos uma vez no mês isso não ficava assim".

 

O que diz a Prefeitura de Belém sobre as praças visitadas

A redação integrada de O Liberal solicitou um posicionamento à prefeitura de Belém, que respondeu, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), que realizou uma força-tarefa de análises e vistorias para que algumas praças fossem recuperadas. Até o fim do ano passado, mais de 20 logradouros públicos já teriam sido reformados. “A Seurb iniciou um processo de licitação específico para reformas e revitalização de praças. Após a homologação da licitação, o órgão municipal de Urbanismo dará início a um planejamento para fazer a revitalização de outros espaços da capital paraense que necessitam de reformas”, afirma.

A Guarda Municipal de Belém (GMB) informou que "...realiza patrulhamento nas praças Tancredo Neves e Dom Alberto Ramos, localizadas no bairro da Marambaia, tal como na praça do conjunto Bosque Araguaia, no Tapanã. O serviço é feito por meio de viaturas da inspetoria área dos Distritos Administrativos de Bengui (Daben) e do Entroncamento (Daent). O Portal da Amazônia conta com um posto 24h, com uma viatura e três agentes por turno. Nos finais de semana, o espaço recebe reforço, por meio de grupamento especializado, nos horários de maior movimento. Os agentes realizam rondas constantes em toda a área que inclui a praça parque. A GMB informa ainda que vai intensificar o patrulhamento nas praças. A população que frequenta o espaço pode colaborar denunciando esse tipo de crime pelos telefones 190 ou 153".

Já a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) comunicou que Belém possui mais de 390 logradouros de áreas verdes públicas que necessitam de permanente manutenção. "No caso das praças, a Semma tem uma agenda de execução de serviço nesses logradouros que permite o retorno entre 45 a 50 dias. Esta rotina pode ser alterada quando ocorrem temporais ou acidentes com quedas de árvores.As praças Dom Alberto Ramos e Tancredo Neves fazem parte da programação rotativa de manutenção".

"A pracinha do Portal da Amazônia está no calendário de roçagem da próxima quinzena da Secretaria. Em relação ao Bosque Araguaia, a Semma explica que não atua em áreas privadas, como condomínios e conjuntos com características condominiais, como é o caso do Bosque Araguaia. A Semma reforça que vem atuando em conjunto com a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) para diminuir os impactos causados neste período de chuva, quando o crescimento de mato e grama nas áreas verdes públicas é acelerado", conclui a Semma.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM