Plástico no meio ambiente pode ser fatal para aves; veja como diminuir riscos aos animais
Entre os cuidados necessários com as aves, a população deve descartar os resíduos em locais adequados e não alimentá-las
A presença de resíduos plásticos na natureza pode ser fatal para aves, que correm o risco de sofrer dores, ferimentos e até a perda de partes do corpo quando engolem esses itens. Em Belém, muitas espécies de aves se encontram em lugares públicos, como praças e espaços turísticos, e estão sujeitas a sofrer com esses materiais. Sendo assim, a população deve tomar cuidados para reduzir os riscos aos animais, como diminuir o uso de plásticos e realizar o descarte em locais adequados. Em maio de 2025, o Mangal das Garças identificou a presença de resíduos plásticos dentro de um guará, que poderiam comprometer o sistema digestivo do animal.
O plástico afeta diretamente a sobrevivência das aves de diversas formas, seja por impactos internos ou externos. Entre os problemas que ocorrem de forma externa, o biólogo Wanderson Gonçalves e Gonçalves destaca o enredamento, quando as aves prendem os pés e as asas em fios de nylon, redes ou sacolas, causando ferimentos, infecções e amputações.
No caso dos impactos internos, o biólogo explica que o plástico carrega substâncias químicas, que podem gerar intoxicações, inflamações e alterações de processos hormonais importantes para o crescimento e reprodução da espécie. Além disso, resíduos plásticos, como tampinhas, sacolas ou isopor, podem bloquear o estômago das aves, fazendo com que elas pensem que estão cheias e, assim, morram de fome. “Muitas aves confundem plástico com alimento”, afirma Wanderson Gonçalves.
Casos observados pelo veterinário do Mangal das Garças
O médico-veterinário Camilo González trabalha no Mangal das Garças e relatou casos de enredamento de aves resgatadas. “Às vezes, resgatamos garças com fios de nylon ou de pesca no bico. Então, não conseguem mais comer direito, além de machucar a parte interna da boca”, contou. “Uma rolinha, que apareceu outro dia, estava com fios de plástico enrolados na pata. O plástico enrolou de forma tão forte que cortou a circulação da pata, e o órgão ‘morreu’”, narrou Camilo.
Em maio de 2025, foi detectada uma grande quantidade de resíduos plásticos dentro de um guará juvenil, com menos de dois anos de idade, no Mangal das Garças, em Belém. Em seguida, foi retirada a maior parte dos plásticos. Uma pequena parte ainda ficou dentro da ave, mas o veterinário Camilo González explicou que o próprio organismo vai expulsar o corpo estranho. “Hoje, o guará está bem e se alimenta normalmente. O próprio ácido estomacal vai expulsando aos poucos. O ideal seria tirar tudo, mas foi o que conseguimos fazer. Reduzimos o maior risco, que seria a obstrução do sistema digestivo”, afirma.
O veterinário contou que, provavelmente, o resíduo ingerido pelo guará foi descartado de forma irregular por algum visitante. “Era um fio comprido de embalagem de alimento”, relata Camilo González, que acredita que a ave ingeriu o resíduo pensando que era um alimento.
Para evitar novos casos, Camilo González explica que existe um grande número de serviços para cuidar das mais de 400 aves que o Mangal das Garças é responsável, além de outras aves que visitam o local diariamente. “Fazemos um trabalho de monitoramento nos recintos, principalmente porque temos um fluxo de visitantes. Tem uns visitantes que não têm consciência, mas, muitas vezes, é um acidente. Além de cuidados gerais, começando pela alimentação balanceada, por ter um ambiente parecido com a vida que teriam na natureza e pelo acompanhamento veterinário”, relata.
Confira como diminuir os riscos sofridos pelas aves
Uma vez que as aves são impactadas por resíduos provenientes da ação humana, as pessoas conseguem — e devem — tomar alguns cuidados para reduzir os riscos enfrentados pelos animais. O biólogo Wanderson Gonçalves destaca a necessidade de descartar os resíduos em locais adequados. “Um cuidado é descartar o lixo corretamente: cortar lacres, recolher linhas de pesca e reduzir o uso de descartáveis. Quanto mais gente evitar jogar plástico no chão ou no rio, menor o risco para a fauna”, explica.
Outro conselho é não alimentar as aves em praças, orlas e outros locais da cidade, pois isso pode atrapalhar a dieta dos animais e até causar desequilíbrio ambiental, conforme o biólogo. “Não se pode alimentar as aves, pois os alimentos que damos a elas não fazem parte da dieta natural delas. Por exemplo, pão, arroz e restos de comida podem gerar saciedade, porém não atendem à demanda nutricional do animal, podendo causar desnutrição ou problemas de saúde”, detalha Wanderson.
O biólogo ressalta ainda que os restos de comida podem atrair ratos e baratas, que podem transmitir doenças às aves e aos humanos. Além disso, as aves podem se tornar dependentes dos humanos para conseguir se alimentar, gerando um desequilíbrio ambiental. “Isso pode causar um desequilíbrio ambiental, já que esses animais vão deixar de cumprir o seu papel de controlar a população de insetos ou dispersar sementes”, explica.
O veterinário Camilo González complementa que as pessoas precisam estar atentas ao usar linhas cortantes com cerol enquanto empinam pipas, colocar adesivos em vidraças e espelhos grandes de casas e prédios, além de ter cuidado com árvores que recebem mais de 10 espécies de aves diferentes.
Em caso de encontrar uma ave ferida ou com outros problemas, é indicado acionar os órgãos ambientais em vez de tentar resolver a situação sozinho.
Confira a lista com as indicações:
- Descartar resíduos plásticos em locais adequados;
- Não alimentar as aves;
- Ter cuidado com linhas cortantes com cerol ao brincar de pipa;
- Colocar adesivos em vidraças e espelhos grandes;
- Não cortar ou impactar árvores que possam ter aves morando;
- Procurar ajuda de órgãos ambientais em caso de aves acidentadas.
Visitantes defendem os cuidados com as aves
Maria Eliane de Sousa, de 51 anos, mora em Parauapebas e visitou pela primeira vez o Mangal das Garças nesta quarta-feira (27). Ela defende que os visitantes devem ter respeito com o espaço, pois é o lar dos animais.
“É importante ver os animais e deixá-los à vontade no ambiente deles, sem interferências. Então, não devemos dar nenhum tipo de alimento. Se for consumir uma bala, deve-se colocar a embalagem no bolso para descartar na lixeira mais tarde. O lixo que trazemos, temos que levar”, argumenta Maria, que trabalha com agricultura familiar.
Maria de Sousa ressaltou que os cuidados são importantes para não impactar a saúde dos animais. “A partir do momento em que deixam resíduos, como sacos plásticos ou papel, um animal pode ingerir e ter algum problema de saúde. Quando chegamos, não tem sujeira, então devemos recolher nosso lixo para que o ambiente se mantenha salutar aos animais”, completa.
Mangal das Garças
Criado em 2005 pelo Governo do Pará, o Parque Zoobotânico Mangal das Garças é um dos pontos turísticos mais conhecidos de Belém do Pará. Localizado no bairro da Cidade Velha, às margens do rio Guamá, ele é um lugar de contemplação da fauna e flora amazônica, onde os visitantes podem conhecer diversas espécies de animais e de vegetação, além da culinária regional.
As principais atrações do parque são a Reserva José Márcio Ayres (conhecida como borboletário), o Mirante do Rio, o Memorial Amazônico da Navegação, o restaurante Manjar das Garças, os lagos com tartarugas e iguanas, os viveiros de dezenas de espécies de aves, como garças e guarás, além do Farol de Belém, que é um mirante com vista panorâmicas da cidade.
O parque é localizado na Rua Carneiro da Rocha e fica aberto de terça-feira a domingo, de 8h às 18h, além de feriados, no mesmo horário. Às segundas-feiras, o local é fechado para manutenção. Para conhecer a Reserva José Márcio Ayres, o Farol de Belém e o Memorial Amazônico, o visitante deve pagar o ingresso. Os outros espaços são gratuitos. Menores de 7 anos e maiores de 60 anos têm entrada gratuita. Os estudantes têm acesso a meia entrada.
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