Pará lidera índice de gravidez na adolescência e segue na contramão nacional, aponta IBGE

No estado, 19,2% dos nascimentos registrados no ano passado foram de mulheres com até 19 anos de idade

O Liberal

Dados da pesquisa “Estatísticas de Registro Civil 2023”, divulgados nesta quinta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que o Pará ainda enfrenta um dos desafios mais persistentes em sua dinâmica populacional: a alta proporção de nascimentos entre mães adolescentes. No estado, 19,2% dos nascimentos registrados no ano passado foram de mulheres com até 19 anos de idade, percentual superior à média da Região Norte (18,6%) e significativamente acima da média nacional, de apenas 11,8%.

O dado coloca o Pará entre os estados com maior incidência de gravidez na adolescência no país e aponta para uma realidade que se mantém resistente ao longo dos anos, apesar dos avanços em políticas públicas e campanhas de conscientização.

Enquanto em todo o Brasil a tendência é de postergação da maternidade, com aumento da proporção de mulheres que engravidam a partir dos 30 anos (39% dos nascimentos em 2023), o Pará registra um índice bem inferior nesse grupo etário: apenas 27,6% das mães tinham 30 anos ou mais no momento do parto.

Essa inversão de tendência revela desigualdades estruturais que afetam diretamente as escolhas e condições de vida das mulheres paraenses. A gravidez precoce está associada a uma série de fatores sociais, como evasão escolar, interrupção de projetos de vida, aumento da dependência econômica, menor inserção no mercado de trabalho e maior vulnerabilidade social para as jovens mães e seus filhos. Além disso, a maternidade em idade precoce costuma ocorrer em contextos de baixa escolaridade e pouco acesso à informação e a serviços de saúde sexual e reprodutiva.

A realidade do Pará se agrava diante de outros dados da pesquisa. O estado registrou 132.169 nascimentos em 2023, dos quais 122.165 ocorreram no próprio ano, mas 7,6% dos registros foram referentes a nascimentos de anos anteriores ou com data ignorada, mais que o dobro da média nacional, que foi de 2,9%. Essa defasagem sugere dificuldades no acesso ao registro civil, o que pode afetar o exercício pleno da cidadania de crianças e adolescentes.

Além disso, 1,8% dos nascimentos no estado ocorreram em domicílio, o que coloca o Pará como o terceiro estado com maior proporção de partos fora de hospitais no Brasil, atrás apenas do Acre (3,23%) e do Amazonas (2,30%). No Brasil, a média de partos domiciliares é de 0,5%. O dado revela desigualdades no acesso a serviços de saúde adequados, especialmente em áreas rurais e regiões isoladas do estado.

Outro ponto que reforça a fragilidade da estrutura de atendimento materno-infantil no Pará é o fato de que 58% dos nascimentos registrados em Ananindeua ocorreram fora do município de residência da mãe, o que pode indicar déficit de unidades de saúde com estrutura adequada para partos no segundo maior município do estado.

Em um cenário em que o número total de nascidos vivos se manteve estável entre 2022 e 2023, contrariando a tendência de queda observada em outros estados, os dados do Pará reforçam a necessidade urgente de políticas públicas focadas na juventude, com atenção especial para a prevenção da gravidez precoce e a ampliação da cobertura dos serviços de educação sexual e saúde reprodutiva.

A pesquisa, realizada pelo IBGE desde 1973, fornece subsídios importantes para o planejamento de políticas públicas e ações intersetoriais voltadas à garantia de direitos e ao enfrentamento das desigualdades. No caso do Pará, os indicadores apontam que a gravidez na adolescência continua sendo um dos principais desafios sociais e de saúde pública para o estado.

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