Nova geração: buscar apoio e ressignificar a rejeição é fundamental, apontam psicólogos

Psicoterapia, estabelecer rede de apoio e não encarar um "não" como determinantes ajudam a enfrentar a frustração

Gabriel Pires
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Jovens adultos atuais podem ser a geração mais rejeitada da história, como apontou um artigo publicado no The New York Times. O texto detalhou que essa faixa etária enfrenta recusas em várias áreas - desde universidades e empregos até relacionamentos e crédito bancário. Mas segundo psicólogos, o essencial é aceitar essa situação sem se culpar e aprender com ela para crescer emocionalmente - buscando equilíbrio, até mesmo com auxílio de psicoterapia, e ressignificar o que levou a isso.

O psicólogo Leonardo Souza explica que o sentimento de rejeição reflete ainda em situações vivenciadas nos primeiros anos de vida. Leonardo pontua que, para entender esse sentimento em jovens adultos, é crucial compreender as formas de vínculo aprendidas na infância. Isso porque, embora não seja culpa exclusiva dos pais, a construção de vínculos significativos - e o nível de segurança que a pessoa sentiu no ambiente em que foram estabelecidos - na fase inicial da vida estabelece pontos que podem ter reflexo no futuro, como analisa o psicólogo.

“Lidar com rejeição é lidar com um episódio que pode impactar em autoestima, seja na esfera intelectual quando se trata de escola, faculdade ou profissão, seja na esfera afetiva quando se trata de relacionamento. Lidar com frustrações é algo também que precisa ser aprendido. Treinado é uma palavra muito forte, porém é interessante ser usada também, porque a gente pode treinar a nossa cabeça a lidar com frustrações e isso é onde entra muito o papel da família e de educadores que estejam envolvidos no desenvolvimento da pessoa”, comenta Souza.

No dia a dia, é possível lidar com as emoções causadas pela rejeição de uma forma prática. “A área acadêmica e profissional geralmente perpassam processos que são mais racionais e lógicos. É sempre bom ter organizado o que é o seu currículo de experiências. A gente coloca muito no papel as coisas, mas acaba aprendendo que, no decorrer do mercado de trabalho, na própria vida acadêmica, são essas habilidades do dia a dia que ajudam a reforçar o que é que de fato importa e a construir uma autoestima que vai independer tanto de retornos de empresas, de órgãos públicos ou faculdades e escolas”, analisa.

Rejeição afetiva

Já quando se trata de rejeição no campo afetivo, a psicóloga Rafaela Guedes frisa que o efeito disso é ainda mais potente porque, como seres sociais, as pessoas necessitam do laço com o outro e de relações que nutram bons sentimentos. Esse tipo de situação pode ser observadas em términos de relacionamentos e até mesmo em situações que não se desenvolveram. Alguns casos envolvem até mesmo a validação do corpo. E para lidar com a rejeição, a primeira e mais importante atitude é buscar apoio.

“Aproxime-se das pessoas que te amam, te conhecem e te querem bem. Ao fazer isso, você fortalece seu emocional e se prepara melhor para enfrentar a vida e compreender as circunstâncias que levaram à rejeição. Em relação às estratégias e práticas para lidar com isso, é fundamental entender que nem tudo é sobre nós. Não significa que não sejamos bons o suficiente no que fazemos, bonitos o bastante ou interessantes o bastante. Muitas vezes, o desejo do outro está em outro lugar. E o que ele busca naquele momento é simplesmente algo diferente”, explica Guedes.

Formas de lidar

De acordo com Leonardo, após a rejeição é natural sentir tristeza, baixa autoestima, ansiedade e até raiva. Ele afirma que é importante reservar um tempo para si, seja após uma entrevista de emprego malsucedida, a não aprovação em uma prova ou concurso, ou o término de um relacionamento. “É importante compreender que estar sozinho seja parte do sentimento ruim, da rejeição, mas é exatamente é esse estar sozinho que pode ajudar a pessoa a refletir sobre os erros cometidos, o que precisa ser feito”, pontua.

Sinais de alerta

Mesmo em meio ao sentimento de frustração, é essencial estar atento aos sinais de que ele pode ir muito além, lembra Rafaela. “A rejeição certamente desencadeia tristeza e vergonha, podendo levar a um processo depressivo, por vezes grave. Isso ocorre porque a vergonha se alia à culpa e à tristeza, e a pessoa entra em uma espiral descendente, caracterizada por embotamento afetivo e isolamento social, o que pode, sim, desencadear transtornos mentais”, analisa Guedes.

No entanto, ao observar a persistência de sofrimento, é importante procurar ajuda psicológica ou até de psiquiatra, conforme alerta Leonardo. Além disso, construir uma rede de apoio com pessoas próximas é essencial para lidar com as emoções. Lidar sozinho com o sentimento de rejeição torna esse processo ainda mais crítico: ”Gestores, educadores e familiares adultos podem contribuir na construção da compreensão do erro”.

“Onde foram os pontos em que a falha gerou o processo de decepção de rejeição, levar aquilo como aprendizado. O nosso cérebro tem estruturas que são destinadas exatamente a lidar com a frustração. Nosso sistema de recompensa não é só responsável pelas sensações boas, mas também regula a nossa capacidade de frustração. Lidar com a recompensa, é aprender também a lidar com a rejeição e vice-versa”, observa.

Diferença de gerações

Rafaela lembra, ainda, que não há grandes diferenças nas formas como as gerações lidam com os sentimentos, pois, como humanos, ser aceito é fundamental para que se deseje estar no mundo e para que o mundo faça sentido. Ela observa que, possivelmente, as gerações anteriores, que tinham ideais e papéis sociais mais claros — como o papel da mulher, do homem ou no trabalho —, conseguissem desempenhar esses papéis de maneira mais eficaz e enfrentassem menos situações de rejeição.

“Atualmente, esta geração de jovens adultos certamente aprendeu a expressar melhor seus sentimentos. Para a geração anterior, que precisava reprimir e performar, essa nova postura pode parecer ‘mimimi’, transmitir a impressão de fragilidade e de menor potencial. No entanto, o que observamos é uma maior capacidade de lidar com os sentimentos, mas também uma fragilidade nas habilidades de enfrentar os desafios da vida e nos recursos internos necessários para lidar com as adversidades inerentes às relações humanas”, explica Rafaela Guedes ao lembrar da necessidade de validação do outro.

Como lidar com a rejeição nas diferentes esferas da vida:

Entenda a origem do sentimento: A rejeição muitas vezes reflete vínculos e experiências da infância, que influenciam a forma como reagimos na vida adulta

Treine sua mente para lidar com frustrações: Encare erros e “nãos” como parte natural do crescimento, fortalecendo a resiliência emocional

No trabalho e nos estudos, valorize suas conquistas: Foque nas habilidades e experiências adquiridas, sem depender apenas da aprovação externa

Nas relações afetivas, busque apoio e equilíbrio: Procure pessoas que te amam e lembre-se de que nem toda rejeição é sobre falta de valor pessoal

Observe sinais de sofrimento prolongado: Se a rejeição gerar tristeza intensa ou isolamento, procure ajuda profissional e mantenha uma rede de apoio

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