Mulheres no pedal: ciclistas de Belém persistem apesar dos desafios

A falta de segurança, o desrespeito no trânsito e a infraestrutura inadequada são os principais obstáculos enfrentados pelas mulheres que pedalam

Eva Pires

Cada vez mais, mulheres buscam pela liberdade de alcançar seus objetivos, assim como pelo poder de escolher o meio de transporte para chegar lá. Diante disso, muitas mulheres em Belém optam por usar a bicicleta para ir ao trabalho, buscar os filhos na escola, praticar atividades físicas e de lazer. No entanto, a falta de segurança, o desrespeito no trânsito e a infraestrutura carente de adaptações, como ciclovias e ciclofaixas, são desafios diários enfrentados por elas, de acordo com o relato das ciclistas Rita de Cássio Malato e Lorena Façanha.

image Rita de Cássio Malato (Ivan Duarte/ O Liberal)

Aos 50 anos, a professora Rita de Cássia Malato opta pela bicicleta como principal meio de transporte. Ela a utiliza para ir ao trabalho, à igreja, aos shoppings e para praticar esportes. Além disso, ela faz parte de um grupo de ciclistas chamado Amigos do Pedal, do bairro da Marambaia. Segundo a professora, a bicicleta oferece vantagens próprias em comparação a outros meios de locomoção na cidade.

"São várias vantagens, uma delas é atividade física, que ajuda na manutenção da saúde. Outra vantagem é que de bike não tenho que ficar em longas esperas pelos transportes públicos, que geralmente demoram a vir, são de péssima qualidade e andam, na maioria dos casos, lotados. Além da insegurança nos pontos de ônibus e dentro dos coletivos", pontua.

Ajudar o meio ambiente com práticas sustentáveis e fazer novas amizades também são um dos benefícios do meio de transporte apontados por Rita. "Enquanto prática de lazer e esporte, a bike promove a integração e socialização, pois me permite fazer muitas amizades, conhecer pessoas e lugares. Ainda, é um veículo ecologicamente sustentável. Não emito gás carbônico e outros poluentes ao ar enquanto pedalo", declara.

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Pedalando com desafios no caminho

Em meio a diversas vantagens, para andar de bicicleta na capital paraense, é preciso estar disposto a encarar obstáculos. Para mulheres, sobretudo, a vulnerabilidade a sofrer algum tipo de assédio, moral ou sexual, e o medo constante da violência urbana são alguns deles.

"Mesmo nunca tendo vivenciado, sei de mulheres ciclistas que sofreram assédio. Alguns desses casos foram por integrantes de grupos de pedal. Já em relação à violência urbana, essa sempre causa insegurança, mesmo que eu esteja pedalando em grupo. E sozinha, essa insegurança aumenta bastante", destaca.

O desrespeito às regras de trânsito e, até mesmo, as ofensas dirigidas às ciclistas também fazem parte do cotidiano de mulheres que pedalam na cidade.

"Já ouvi xingamentos e já fui cortada muitas vezes por motoristas de carros e motos. É bem complicado porque os condutores desses veículos não entendem que ciclista também faz parte do trânsito. Para melhorar o trânsito, no que se refere à parte educacional, são necessárias mais campanhas educativas nas escolas e melhor capacitação nos cursos de formação de condutores. Os ciclistas precisam ser educados para conhecer as regras do trânsito e para que possam respeitá-las também", ressalta.

A professora destaca que mais ruas com ciclofaixas e ciclovias são necessárias para que ciclistas possam circular pelo trânsito de forma segura. "Precisamos ter nosso espaço seguro no trânsito e precisamos que esses espaços sejam respeitados. Os motociclistas são campeões em circular pelas ciclofaixas". Ela ressalta, ainda, que esses espaços precisam de manutenção e conservação.

"Há trechos da ciclovia do BRT e da avenida Almirante Barroso que são horríveis: escuros, cheios de buracos ou irregularidades na pavimentação. Sem contar que, em certas estações, o espaço para transitar com bicicleta é estreitíssimo! O pior é quando vem ciclista em sentido contrário, o que gera riscos de acidentes. Sem falar das ciclovias que viram depósitos de lixo e entulho, área de circulação de veículos automotores ou de estacionamento", completa.

O ciclismo como forma de criar laços

image Lorena Façanha (Arquivo pessoal)

Lorena Façanha, 28 anos, é fisioterapeuta e usa a bicicleta para diversas finalidades. "É um ótimo cardio e um dos meus lazeres preferidos. Sem contar, que acaba sendo meio de transporte para trabalho. Eu gosto muito de pedalar, levo como um hobby. Dentro do pedal, criei laços bons", diz.

A fisioterapeuta já fez parte de grupos de ciclistas de Belém, como o Bichos do Mato, 100choro e Bike Culture. Ela relata que a segurança é um dos principais desafios para mulheres que pedalam na cidade. "Normalmente, eu pedalo acompanhada. Quando pedalo sozinha, costumo voltar para casa cedo ainda. Não me sinto tão à vontade de sair sozinha para pedalar durante a noite", relata.

Lorena opina, ainda, sobre o que pode melhorar no trânsito de Belém para garantir uma experiência com mais segurança e dignidade para os ciclistas. "Primeiramente, o respeito dos motoristas para com os ciclistas, como não andar ou estacionar na ciclofaixa, em certas ocasiões, aguardar o ciclista passar, ou até mesmo, dar passagem. E, se possível, aumentar a quantidade de ciclofaixas pela cidade. Muitas ruas não tem, e temos que andar pelo lados dos carros ou ônibus mesmo", afirma.

Campanha "Mulher no Pedal é Mudança Social"

A campanha, lançada no Núcleo da Proteção da Mulher do Ministério Público do Estado, no dia 8 de março de 2023, tem como pilares a informação e a prevenção, com o objetivo de fortalecer o combate à violência contra as mulheres, especialmente contra as mulheres que pedalam.

Neste domingo, 24, a próxima ação será no município de São Domingos do Capim, a Trilha da Pororoca. O evento terá o apoio da UCBPa, com o objetivo de levar a mensagem da campanha para todos os participantes e moradores das cidades.

A iniciativa é uma parceria com a União dos Coordenadores de Bike do Pará (UCBPA), que coordena o projeto. A ação é realizada em parceria com o Ministério Público do Pará, OAB-PA, Procuradora Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar, entre outros órgãos.

(Eva Pires, estagiária sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do núcleo Atualidades)

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