Mochilas pesadas e má postura elevam queixas de dores nas costas entre jovens, alerta ortopedista
Atualmente, tem sido cada vez mais comum o relato de dores nas costas e na coluna entre pacientes mais novos, como avalia o médico ortopedista Jean Kley
O uso inadequado de mochilas — especialmente quando estão muito pesadas e acompanhado de postura incorreta — tem sido uma das principais queixas entre crianças e jovens, alerta o ortopedista Jean Kley. Ele reforça a importância da prática regular de atividades físicas, da adequação postural e da atenção ao carregar objetos pesados para evitar danos maiores. O alerta se torna ainda mais relevante porque, segundo o médico, tem sido cada vez mais comum o relato de dores nas costas e na coluna entre pacientes mais novos.
Atualmente, grande parcela das pessoas já sentem dores nas costas desde cedo. Segundo o ortopedista, as principais causas de dor nas costas em crianças e jovens estão relacionadas à postura, seja em atividades como ir à escola, deitar, descansar ou assistir televisão. O médico também aponta o uso excessivo de celulares e tablets como um fator que gera pontos de sobrecarga na musculatura ao lado da coluna. E também o peso excessivo de mochilas é um fator complicador, conforme o médico.
“Embora se fale, idealmente, em um limite de 10% do peso corporal, esse valor é multifatorial e está fortemente relacionado à condição muscular da criança. A orientação é, sempre que possível, usar o carrinho quando a mochila estiver um pouco mais pesada. O parâmetro dos 10%, embora não seja rígido, serve como uma boa referência inicial para essa avaliação”, observa o ortopedista.
De acordo com o Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA), do Ministério da Saúde, foram registrados 8,6 mil atendimentos relacionados à dorsalgia no Pará em 2020; 12,4 mil em 2021; e 12,8 mil procedimentos ambulatoriais em 2022. Em 2023, foram contabilizados 10,9 mil atendimentos, e, em 2024, 10,3 mil. Até setembro de 2025, já foram realizados 8,3 mil procedimentos.
Em relação aos procedimentos hospitalares, o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) registrou 10 atendimentos em 2020; 24 em 2021; e 26 em 2022. Em 2023, foram 35 registros, enquanto 2024 contabilizou 31. Até setembro de 2025, foram registrados 32 procedimentos hospitalares.
No dia a dia, o estudante de Medicina Veterinária Matheus Gusmão, de 19 anos, tem cuidado redobrado para evitar peso excessivo na mochila. Para ele, que precisa se deslocar todos os dias para a universidade, essa é uma medida preventiva. “Não costumo levar livro, caderno assim, mas procura algo mais prático. Para poder tirar o peso das costas. Tem dias que a rotina é bem pegada”, conta.
"Tem que levar algo mais prático para não sentir dor na costa. Sempre procuro levar o meu tablet. É o cuidado com a saúde. Quando saio para ir à faculdade, coloco a mochila nas costas e, às vezes, sinto um desconforto por ficar muito tempo carregando. Quando pego trânsito, então, fica ainda pior", frisa o estudante.
Rotina de cuidados
Já a estudante de Enfermagem Luiza Farias, de 19 anos, relata que costuma levar um fichário com muitas folhas e um caderno de anotações, o que torna sua bolsa bem pesada. No entanto, em dias nos quais sente que o peso está excessivo, principalmente devido à dor nas costas, ela opta por carregar apenas um caderno menor e um estojo pequeno. “A minha postura não é das melhores quando eu tô sentada, mas é uma preocupação que eu tenho às vezes justamente pelo futuro. As dores nas costas e outros problemas podem vir em detrimento disso", considera.
E, segundo ela, é um cuidado que deve ser começado desde cedo. "Quando as pessoas costumam ser jovens, normalmente não têm muito esse pensamento de que vão sentir dor. E acabam sentindo muita dor não só pelo peso da mochila, mas também pela postura com que a gente se senta na cadeira em sala de aula, especialmente quando não está muito a fim de assistir à aula e fica meio jogado na cadeira. Isso acontece bastante", afirma.
Sinais de alerta
Jean Kley explica que, independente da idade, dores nas costas de difícil controle apenas com medidas comportamentais já merecem atenção especial. Ele reforça que a presença de outros sintomas pode indicar problemas mais graves, especialmente quando surgem sinais neurológicos, como formigamento ou perda de força. O médico acrescenta que sintomas sistêmicos, como febre, mal-estar geral ou tosse, também precisam ser considerados, pois nem toda dor nas costas tem origem na coluna.
Kley lembra que problemas cardiológicos, pulmonares ou abdominais podem gerar dor referida, por isso a avaliação deve ser ampla para evitar diagnósticos equivocados. Para ele, a dor intratável é sempre um sinal de alerta e exige investigação para identificar sua verdadeira origem. “Uma dor de difícil controle apenas com medidas comportamentais já é um sinal importante”, afirma Jean Kley.
“Se o paciente apresenta sintomas neurológicos, como formigamento ou perda de força, ou sintomas sistêmicos, como febre e mal-estar, é essencial considerar que a causa pode não estar na coluna. Há situações cardiológicas, pulmonares ou abdominais que se manifestam como dor nas costas. Por isso, precisamos ter cuidado para não focar apenas na coluna. A dor intratável merece atenção especial e deve ser investigada para identificar sua real origem”, acrescenta.
Cuidados precoces
Jean Kley destaca que o aumento dos casos pode gerar problemas, já que as dores surgem essencialmente por sobrecarga. Segundo ele, quanto mais cedo adolescentes e jovens forem expostos a esse excesso - seja por postura inadequada ou por outras razões - mais cedo poderão enfrentar consequências graves. “Quadros de artrose e, eventualmente, a pessoa pode desenvolver hérnias de disco. Tudo isso tende a vir numa idade mais precoce, quanto mais precoce for o início dos sintomas”, relata.
“Por isso, a atenção e o cuidado com a coluna de crianças e adolescentes são essenciais. Observa-se um aumento real de demandas nessa faixa etária - algo incomum até pouco tempo, já que esses problemas eram mais frequentes apenas após os 30 ou 40 anos. Hoje, porém, adolescentes e até crianças já chegam aos consultórios com queixas relacionadas à coluna”, completa o médico.
Recomendações
Para o ortopedista, manter uma prática de exercícios constantes e adequação da postura são essenciais para evitar maiores problemas com a saúde da coluna: “A primeira recomendação é a prática regular de atividade física e de esportes, que são sempre indicadas. Além disso, é fundamental trabalhar a questão da postura, algo muito comum entre crianças e adolescentes, que frequentemente adotam posições inadequadas ao sentar à mesa, assistir televisão ou estudar. Esse cuidado com a postura deve ser reforçado desde cedo, justamente para evitar problemas futuros”.
Uso de telas
Jean Kley explica, ainda, que o uso prolongado de celulares, computadores e tablets tem contribuído para o aumento de dores na coluna, especialmente na região cervical. Segundo ele, existe hoje uma condição conhecida como text neck, causada pela sobrecarga na musculatura do pescoço. “Com o excesso de uso desses dispositivos, há uma tendência de projetar a cabeça para frente. À medida que isso acontece, a sobrecarga na coluna aumenta exponencialmente”, afirma.
O ortopedista destaca que essa alteração postural é uma das principais causas de dor cervical. Ele acrescenta que, no caso do computador, a má postura também é determinante: “Quando o equipamento fica abaixo da linha de visão, a tendência é sobrecarregar principalmente as regiões torácica e lombar”. Por isso, Kley reforça que condições ergonômicas adequadas são essenciais para prevenir dores e proteger a saúde da coluna.
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