Introdução alimentar: sinais de prontidão, riscos e alimentos liberados para bebês
Gastropediatra orienta como iniciar a introdução alimentar com segurança, evitar engasgos e adaptar sabores típicos do Pará para a rotina do bebê
“Mais importante do que completar 6 meses é o bebê demonstrar prontidão neurológica e motora para receber alimentos além do leite”, afirma a gastropediatra Bárbara Naves, de Marabá, no Pará. A especialista reforça que a introdução alimentar exige atenção para garantir segurança, prevenir engasgos e formar hábitos saudáveis desde o início. No Pará, onde ingredientes regionais fazem parte da rotina das famílias, surgem ainda mais dúvidas sobre o momento certo de oferecer frutas, peixes e preparos típicos.
Independentemente das orientações gerais, é fundamental que os responsáveis levem seus filhos a um nutricionista ou gastropediatra. Só uma avaliação profissional permite indicar o momento certo de iniciar a introdução alimentar e adaptar as recomendações às necessidades específicas de cada criança.
Segundo a médica, o início da introdução alimentar depende menos da idade e mais das habilidades que garantem segurança:
- Sustentação firme da cabeça e do tronco
- Sentar com mínimo apoio
- Interesse ativo pela comida
- Diminuição do reflexo de protrusão da língua
- Coordenação mão-boca
Ela ressalta que essa avaliação deve ser feita por um pediatra para evitar engasgos e acidentes.
Existe ordem certa para começar? Frutas primeiro ou refeição salgada?
A especialista reforça que não há sequência obrigatória. “O mito de que começar por frutas deixaria o bebê com preferência pelo doce não se sustenta.” A recomendação atual é apresentar todos os grupos alimentares desde o início. Entre 6 e 7 meses, os bebês costumam receber:
- Uma fruta por dia
- Uma refeição salgada completa com legumes, carboidratos, proteínas e leguminosas
Alergia alimentar: como identificar reações e quando buscar ajuda
As reações mais comuns são urticárias, placas vermelhas que coçam e inchaço dos lábios ou dos olhos, geralmente após a segunda exposição ao alimento. Os alimentos mais alergênicos, como ovo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar, devem ser introduzidos entre 6 e 9 meses, na chamada janela imunológica. Para alimentos de baixo risco, é possível oferecer um novo alimento por dia. Para os alergênicos, a pausa de dois dias ajuda a identificar possíveis reações.
Sinais graves como inchaço rápido da boca ou da língua, dificuldade para respirar, vômitos intensos ou urticária generalizada exigem atendimento imediato. Alterações nas fezes, dermatites ou irritabilidade após refeições devem ser avaliadas em consulta pediátrica.
Erros comuns na hora da introdução alimentar
Os enganos mais frequentes, segundo a profissional, são:
- Começar antes dos 6 meses
- Oferecer alimentos liquidificados, triturados ou peneirados
- Medo excessivo do engasgo
- Pouca variedade alimentar nos primeiros meses
Essas práticas prejudicam o desenvolvimento motor oral e podem causar seletividade alimentar ou deficiências nutricionais.
Comidas paraenses que o bebê pode comer desde cedo
Muitos alimentos típicos do Pará podem fazer parte da introdução alimentar, desde que apresentados corretamente.
Liberados a partir dos 6 meses:
- Açaí puro, sem açúcar ou farinha
- Peixes regionais bem limpos e sem espinhas
- Jambu sem adição de sal
- Camarão bem higienizado e cozido
Devem ser evitados:
- Maniçoba, vatapá e tucupi até os 2 anos pelo excesso de sal, açúcar e ultraprocessados
- Farinha até 1 ano, e com moderação até os 2, por risco de engasgo e baixo valor nutricional
Açaí, cupuaçu, taperebá e outras frutas regionais estão liberadas?
Sim, desde que sem adição de açúcar. Frutas mais duras podem ser raspadas ou amassadas nos primeiros meses. A médica reforça o cuidado com a segurança no preparo do açaí devido ao risco de transmissão da doença de Chagas. O ideal é consumir o produto escaldado ou de fornecedores fiscalizados.
Peixes regionais: excelentes fontes de ômega-3
O peixe pode ser introduzido desde os 6 meses e é importante para o desenvolvimento cerebral. Entre os mais recomendados estão filhote, tambaqui, pirarucu e pescada amarela. Eles devem ser servidos cozidos, assados ou grelhados e totalmente livres de espinhas. A alimentação do bebê pode seguir a rotina da família, desde que a porção seja separada antes da adição de sal, açúcar ou temperos fortes.
Aprendizados da família na construção da autonomia alimentar do bebê
A rotina da introdução alimentar também envolve afeto e adaptação. Essa é a experiência dos pais Iolanda Matos, maquiadora, e Stanley Marques, estudante de Direito, de Belém, responsáveis pela alimentação do pequeno Apolo Álvaro, de 9 meses, que começou a receber sólidos após mamar exclusivamente até os seis meses.
A primeira fruta oferecida foi a pitaya, escolhida pela cor intensa. “A gente queria fazer aquela foto, e ele adorou”, lembra Iolanda. Apesar do interesse, Apolo ainda não entendia que precisava comer, já que sua referência era o leite. Os pais começaram com pequenos pedaços, sempre atentos ao risco de engasgos.
Eles tentaram o método de desmame guiado pelo bebê, mas a rotina difícil levou a uma adaptação: combinar pedaços para exploração com alimentos amassados em alguns momentos. Com o tempo, Apolo passou a ter refeições mais estruturadas. Aos 9 meses, a pediatra orientou a família a aumentar o intervalo entre mamadas e refeições, o que melhorou o apetite do bebê.
Hoje, Apolo demonstra bastante autonomia e comunica suas preferências. “Ele vê comida, ele pede. O que não gosta, ele diz ‘na-na-não’”, conta a mãe.
O casal relata que, durante a introdução das proteínas, Apolo passou por alguns episódios de engasgo. A preocupação fez com que buscassem orientação com uma fonoaudióloga e descobrissem que o problema não era motor, mas comportamental. “Ele queria engolir tudo muito rápido pra comer de novo.”
Foi então que os pais tiveram a ideia de usar açaí, alimento muito presente na cultura paraense, para ajudar no processo. “Eu pensei: será que se a gente colocar um açaí, ele vai engolindo melhor? E deu super certo. Ele começou a comer com mais calma.”
Sobre o açúcar, a mãe conta que tinha receio de expor o filho ao doce, principalmente porque tem histórico de diabetes gestacional e hoje investiga um possível quadro de diabetes. “Eu pensei: é melhor introduzir devagar do que ele comer em outro lugar e gostar demais com um nível alto de açúcar.”
Ela explica que tentou oferecer sucos sem açúcar, mas Apolo rejeitava os sabores mais cítricos. Até que um dia, por acaso, ele experimentou um suco com uma quantidade mínima de açúcar e aceitou bem. “Eu sempre fui formiga… e hoje estou investigando diabetes. Então meu medo era ele ficar obeso. Evitar excessos, sabe?”
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