Intercâmbios gratuitos são oportunidades para estudantes conhecerem novos países
Experiências de universitárias mostram que estudar fora do país é possível com dedicação, pesquisa e acesso às bolsas públicas

A ideia de conhecer novos países, culturas e histórias encanta centenas de estudantes. Diversas oportunidades de intercâmbio gratuito, viabilizadas por meio de programas públicos e parcerias entre instituições brasileiras e estrangeiras, facilitam essa possibilidade. No Pará, universidades como UFPA, Uepa, IFPA e Ufra mantêm iniciativas que permitem aos estudantes viver experiências acadêmicas e imersivas em outros países. A experiência é enriquecedora para a área profissional e pessoal dos estudantes.
Entre as opções para realizar um intercâmbio, estão os programas de mobilidade acadêmica, que permitem ao estudante cursar disciplinas em outra instituição, nacional ou internacional, por tempo determinado. Além disso, também é possível realizar a viagem pelos programas de mestrado e doutorado sanduíche, em que parte da pesquisa é desenvolvida no exterior.
De Belém para o mundo
A jornalista Júlia Mota é um dos exemplos de que sonhar em estudar fora pode se tornar realidade. Ela participou do programa SUSI (Study of the U.S. Institutes for Student Leaders), promovido pela Embaixada dos Estados Unidos, e viveu um mês de imersão acadêmica e cultural com jovens de cinco países: Brasil, Tunísia, Indonésia, Nigéria e Índia.
“Desde pequena eu sonhava em morar fora e conhecer outros lugares, mas parecia distante, porque minha família nunca teve condições de pagar um intercâmbio”, lembra. “Quando entrei na faculdade, comecei a pesquisar oportunidades de bolsas e encontrei o programa SUSI. Consegui me inscrever e passar na seleção. Foi uma das melhores experiências da minha vida.”
Durante o período nos Estados Unidos, Júlia participou de atividades acadêmicas, palestras, cursos e ações de voluntariado, como o trabalho em uma ONG que servia refeições a pessoas em situação de rua. “Aprendi muito com as rodas de conversa e com o convívio com pessoas de diferentes países. Hoje eu sinto que tenho amigos no mundo inteiro”, conta.
A jornalista também recorda que o domínio do inglês era uma de suas inseguranças. “Eu nunca finalizei um curso de inglês, então fiquei com medo de não conseguir me comunicar. Mas percebi que o importante era se fazer entender. Com o básico, a gente consegue, e as pessoas também ajudam. Aprendi muito na prática”, diz, com humor.
Para quem sonha em seguir o mesmo caminho, ela aconselha: “Não desistam. Continuem pesquisando. Muitas oportunidades não são tão divulgadas, mas existem. Se você quer fazer intercâmbio, vá atrás. É possível”.
Profissionalização na Europa
Outra paraense que trilhou esse caminho é a advogada Bianca Vitória Miranda, hoje mestranda em Direito Energético, Político e Climático na Queen Mary University of London, com bolsa integral do governo britânico (Chevening).
Antes disso, Bianca participou do programa “Diálogos Transatlânticos”, promovido pela Science Po, em Paris, voltado exclusivamente a jovens da Amazônia. “Essa bolsa cobre tudo: passagem, hospedagem, alimentação, até o passaporte, se a pessoa não tiver”, relata. “Na minha edição, fomos cinco pessoas. Sendo duas do Pará, uma do Maranhão e duas do Amazonas. Foi uma experiência transformadora.”
A jovem advogada conta que, durante o intercâmbio, teve a oportunidade de conversar com diplomatas brasileiros na França, inclusive sobre a ausência de nortistas em espaços acadêmicos internacionais. “Eu sempre pergunto por que não vemos pessoas da Amazônia nessas bolsas de cooperação. As oportunidades existem, mas há uma barreira informacional. As pessoas muitas vezes nem sabem que podem estudar fora com tudo pago”, afirma.
Bianca, que estudou em escola pública e se formou em Direito pelo ProUni, faz questão de ressaltar a importância das políticas públicas de educação. “A minha história é uma vitória da educação pública. A educação me deu tudo. Foi ela que me trouxe até aqui”, diz.
Para ela, é essencial que mais jovens da região ocupem espaços de decisão no exterior. “Todo mundo fala sobre a Amazônia, mas raramente os amazônidas estão nessas discussões. Precisamos estar lá para sermos protagonistas e não apenas objeto dos debates.”
A advogada deixa um recado direto para quem sonha em trilhar o mesmo caminho:
“Você é o único representante do seu sonho na Terra. Acredite em si, tenha constância e paciência. O caminho pode ser longo, mas é possível. E o inglês é a chave, mesmo que você aprenda sozinha, no YouTube, o importante é começar.”
Intercâmbio
As instituições de ensino superior no Pará têm ampliado o acesso dos estudantes a experiências internacionais por meio de editais públicos, parcerias e programas de fomento.
Intercâmbio na UFPA
Na Universidade Federal do Pará (UFPA), as oportunidades de mobilidade internacional são coordenadas pela Pró-Reitoria de Relações Internacionais (PROINTER) e abrangem tanto a graduação quanto a pós-graduação. De acordo com o assessor de projetos estratégicos da PROINTER, professor Saulo de Matos, o intercâmbio tem papel essencial no desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes, ao possibilitar acesso a discussões, disciplinas e experiências acadêmicas plurais e interculturais.
“Hoje em dia, em um mundo cada vez mais conectado globalmente, a experiência em outro país aumenta as chances dos estudantes no mercado de trabalho, que valoriza esse tipo de habilidade intercultural e linguística. No caso da pós-graduação, a mobilidade também contribui para o enriquecimento das pesquisas e para o uso de infraestrutura que ainda não existe em nossa instituição”, explica o professor.
A Ufpa oferece editais de mobilidade com instituições da América do Sul, em que o espanhol é o principal idioma exigido, e também com países de língua inglesa e francesa. Segundo Saulo, a universidade ampliará a política linguística a partir do próximo ano, com ações voltadas ao ensino de línguas estrangeiras presenciais e online, justamente para preparar melhor os alunos interessados em intercâmbio.
O nível de proficiência exigido varia conforme o destino e o edital. “De modo geral, para intercâmbios na América do Sul, é solicitado o nível B1, básico, enquanto programas na Alemanha, por exemplo, exigem B2”, explica. Ele acrescenta que os certificados podem ser obtidos tanto em escolas de idiomas quanto em exames internacionais reconhecidos.
Com base em sua própria trajetória, pois ele realizou intercâmbio na Alemanha e estudou posteriormente na Califórnia, nos Estados Unidos, o professor destaca a importância da experiência internacional na formação profissional e pessoal:
“Posso dizer que carrego comigo essa vivência de estranhamento com o outro e, ao mesmo tempo, o desejo de conhecer culturas diferentes. A universidade tem esse papel fundamental de proporcionar contato com outras realidades e modos de pensar.”
Para os estudantes que sonham em estudar fora, o professor lista cinco dicas essenciais:
Iniciar, desde o primeiro semestre, o planejamento para o intercâmbio e reunir os documentos necessários.
Selecionar os países prioritários com base nas oportunidades existentes em sua universidade.
Adquirir conhecimento suficiente de uma língua estrangeira, com foco no intercâmbio.
Buscar apoio de professores e grupos de pesquisa da instituição.
Entrar em contato com a Pró-Reitoria de Relações Internacionais (PROINTER) para orientações sobre editais e parcerias.
IFPA
O Instituto Federal do Pará (IFPA) divulga as oportunidades de intercâmbio por meio do Departamento de Relações Internacionais, realiza lives explicativas no YouTube e presta atendimento direto pelo e-mail internacional@ifpa.edu.br.
Segundo o IFPA, o intercâmbio pode ocorrer tanto por parcerias internacionais, que já beneficiaram estudantes de graduação e pós-graduação com experiências presenciais e virtuais, quanto por editais externos, como o Community College Initiative (CCI) e o AFS Global STEM Academies.
O instituto também mantém parceria com o Instituto Politécnico de Bragança (Portugal) e participa do Programa Global Teams, de intercâmbio virtual entre estudantes da Amazônia e de outros países.
Entre as principais recomendações para quem deseja participar estão:
Pesquisar os editais e requisitos das universidades internacionais;
Construir um currículo com experiências acadêmicas, de pesquisa e extensão;
Participar de grupos de pesquisa e eventos científicos;
Aprimorar o inglês, principal requisito para bolsas internacionais.
Intercâmbio na Ufra
Na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o intercâmbio acadêmico pode ser realizado em âmbito nacional ou internacional, nos níveis de graduação e pós-graduação. O acesso às oportunidades ocorre por meio de editais públicos de seleção, via programas governamentais de fomento à internacionalização, como CAPES e CNPq, ou por parcerias com instituições estrangeiras e nacionais.
Atualmente, a universidade mantém dois programas ativos de intercâmbio acadêmico no exterior. O primeiro é o Programa BAFAGRI, que oferece mobilidade acadêmica em universidades francesas nas áreas de Ciências Agronômicas, Agroalimentares e Veterinária, em nível de graduação. No edital vigente de 2025, dois estudantes da Ufra foram selecionados para permanecer por dez meses na França, em universidades como a ESA e a ISARA.
O segundo é a parceria com a Universidade de Agricultura de Tóquio NODAI, no Japão, que promove intercâmbio nas áreas de Agricultura, Meio Ambiente, Biociências e Ciências da Vida. Essa cooperação oferece vagas anuais para intercâmbio de curta duração e para programas de mestrado e doutorado. Um estudante da Ufra, por exemplo, iniciou com a experiência de curta duração, depois foi selecionado para o mestrado e, em seguida, aprovado no doutorado na instituição japonesa. As oportunidades são divulgadas pela Assessoria de Cooperação Interinstitucional e Internacional (ACII), no site oficial da Ufra e nas redes sociais da universidade.
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