Icoaraci começa a ver retomada da rotina

Vendedores de coco se adaptaram, mas artesãos ainda amargam falta de vendas. Nenhum dos entrevistados pela reportagem conseguiu auxílio emergencial

Victor Furtado
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O distrito de Icoaraci, que respira turismo, começa a perceber um princípio de retorno à normalidade. No entanto, uma retomada que ainda não chegou para todos. Bares e restaurantes seguem fechados — as discussões acerca da reabertura desses segmentos ainda estão ocorrendo — e eram atividades que chamavam clientes para os vendedores de coco e da feira do artesanato. Os coqueiros até ainda estão vendendo, de forma adaptada e restrita. Os artesãos estão reaprendendo em meio a prejuízos. O turismo das ilhas é que segue totalmente parado.

As praias ainda estão fechadas. Logo, roteiros como Cotijuba e outras 38 localidades da Região das Ilhas permanecem sem o principal motor da economia, que é o turismo dos balneários. Isso ainda é responsável pela perda de 60% da demanda dos barqueiros que vivem do transporte de turistas e de moradores das ilhas.

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"Por enquanto, nossos barcos que têm capacidade para 80 ou 100 passageiros permanecem com lotação máxima de 40%. Eu não me sinto seguro e muita gente também não. Continuamos com nossas rotinas de limpeza com álcool, cobrando máscara dos passageiros, apesar de que não dá para nós ficarmos toda hora dizendo pras pessoas não tirarem a máscara. Enquanto não passar, não abrir as praias, os bares e os restaurantes, vai ser assim. Mas a gente percebe que ainda não é o momento", comenta o barqueiro Jobson de Souza, do barco Vitória de Cotijuba.

image Luiza Bolonha diz que ao menos os vendedores de coco conseguiram se adaptar, ainda que o movimento não seja o ideal como de antes da pandemia (Fábio Costa / O Liberal)

 

Há cerca de um mês, os vendedores de coco da orla de Icoaraci foram liberados para trabalhar. No entanto, precisariam fazer adaptações. Por exemplo: nada de cadeiras, para desestimular a permanência e aglomeração de pessoas, além da oferta de álcool gel e exigência de máscaras. No máximo, a permanência deve ser o tempo de consumo. O ideal é comprar e levar. Contudo, já é possível ver algumas pessoas passeando pela orla como se nada tivesse ocorrido. Nos dias 13 e 14, a Guarda Municipal de Belém orientou 100 pessoas, que estavam na orla, a voltar para casa.

"Está praticamente normal. Mas vai melhorar mesmo quando voltarem os bares e os restaurantes. Está dando para trabalharmos e pagarmos as contas, depois de um período difícil que não podíamos fazer nada. A gente se adequou como podia. Mas acho que ainda não temos como dizer que já tá tudo tranquilo. Talvez só daqui mais um mês ou dois. As pessoas ainda não colaboram, andam sem máscara e o perigo da pandemia não passou", comentou a vendedora de coco Luiza Bolonha.

Renata Mendes trabalha na feira do artesanato. Ela diz que as coisas ainda estão longe de normais por lá. Desde que retornou, há pouco mais de uma semana, praticamente não vendeu nada, a não ser para clientes fixos. Já teve de cortar preços para conseguir segurar as vendas, ainda que no prejuízo de quase 70%.

"Cada loja sustenta pelo menos três famílias e a gente vai se revezando. Talvez em julho melhore, se abrir os bares e restaurantes que trazem movimento pra nós e nós pra eles. Acho que ainda não estamos prontos para voltar, mas precisamos", comentou Renata.

No Paracuri, os artesãos já foram liberados para trabalhar nas oficinas e olarias. Um alento para dona Zuila Pimentel, que tem 50 anos de artesanato e de uma oficina que é fonte de sustento de muitas famílias.

"Tá melhorando. Estávamos fechados e as pessoas estão começando a vir. Tive de passar 15 dias com a oficina fechada. Por enquanto, é mais o pessoal vindo aqui para comprar uma ou duas peças. Enquanto continuar essa crise, a gente vai ter de ir tentando trabalhar como dá", disse. Assim como ela, Renata e Luiza não conseguiram o auxílio emergencial do Governo Federal.

 

Sindicato aguarda posições do poder público, mas não vê segurança para o retorno

 

Empresas de alimentação fora de casa, incluindo bares, são algumas das mais afetadas pela pandemia, junto ao setor de eventos. E são setores essenciais para o turismo de Icoaraci, que fecha um ciclo com a praia, a venda de coco e o artesanato. No entanto, o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SHRBS) reconhece que, ainda que os prejuízos se acumulem, não há plena segurança para retomar à normalidade das atividades. E apesar de várias conversas com o poder público, faltam posicionamentos mais firmes e orientações.

O assessor jurídico do SHRBS, Fernando Soares, destaca que qualquer estabelecimento que gere aglomeração de 10 pessoas está fora de questão de voltar. Até porque o decreto estadual 609/2020, que instituiu as regras de prevenção da pandemia de covid-19, segue em curso. Ele acredita que demais empresas de alimentação fora de casa, como docerias e pequenas lanchonetes, têm mais chance de voltar mais cedo. A melhor previsão, isso bem especulativa, seria julho.

image Renata acha que ainda nem seria a hora de retomar as atividades, mas precisa. Cortou os preços em 70% e está fazendo vendas a cada 15 dias. (Fábio Costa / O Liberal)

"Não temos qualquer data certa e, sem posicionamento do poder público, fica difícil fazer outros planos ou ficar puxando essas discussões. Precisamos de protocolos sanitários e medidas viáveis para seguir. Só que nem há como se falar em reabrir a alimentação sem uma testagem, em massa, de todas as pessoas que vão trabalhar. Isso vai dar tranquilidade aos clientes e segurança aos trabalhadores. Não temos como fazer isso, nem testar os clientes e nem como arcar com cabines de descontaminação. Segurança para retorno não há", analisa Fernando.

Icoaraci, observa o assessor jurídico do SHRBS, tem um ciclo de economia que é muito pautado num turismo que dura o dia todo. De manhã com os restaurantes e à noite, reforçando com os bares. Esses estabelecimentos se conectam com o artesanato e a venda dos cocos, mais a paisagem da orla. Essas empresas, diferente de outras, não conseguiram se adaptar ao sistema de entregas pela distância dos principais consumidores. Foi um baque se ampliou a todos os distritos e região das ilhas.

"Barracas de praia são um problema maior, pois vivem em toque de caixa, com infraestrutura sanitária precária e fiscalização não tão boa. Dificilmente vão ser liberadas. Muitos nem mesmo têm curso de boas práticas alimentares, imagina noções de prevenção de uma pandemia. E onde tem consumo de bebidas, tem descuido com segurança. Na praia, ninguém vai usar máscara. Neste momento, as férias de julho estão inviabilizadas. É o mesmo com o Círio, por enquanto. Tudo vai depender do bom senso das autoridades e da população", conclui Fernando.

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