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Honestidade e ajustes na rotina ajudam nas incertezas infantis sobre volta às aulas

Famílias precisam explicar o que muitas das crianças já sabem e entendem muito bem, mas dar esperanças de que tudo vai melhorar em breve

Victor Furtado
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Mais um ano letivo pode começar. Ou não. A pandemia de covid-19 chegou a uma nova fase, tão violenta quanto a primeira, em todo o mundo. Se há incertezas sobre a volta às aulas para as autoridades públicas, para as crianças que recebem a notícia de que a escola pode seguir a distância, essa incerteza pode ser angustiante. A ansiedade de retomar a socialização da comunidade escolar pode chegar às famílias inteiras. Então o conselho de quem lida com a psicologia e a educação é: honestidade para explicar a situação, paciência, ajuste de rotinas e esperança. É clichê, mas é verdade: as crianças entendem muito mais do que se pensa.

A pedagoga Milene Costa (Uepa / Uninassau) ressalta que educadores e famílias terão de reinventar a educação mais uma vez. Ela é mestre e coordenadora da pós-graduação em Educação Inclusiva e Docência do Ensino Superior da Uninassau. Essa reinvenção não pode ser refém da tecnologia, que reconhece ter sim benefícios. E as rotinas não podem ser totalmente arbitrárias. Tudo pode ser planejado. Ouvir a criança é parte fundamental desse processo.

"Alguns familiares podem receber atividades específicas e irem dialogando com a realidade das crianças, adaptando as atividades. Isso tem dado certo. Mas de modo geral, é importante planejar e dar significado a atividades físicas, cognitivas e motoras. Ir explicando os horários, importância e participando. As rotinas precisam ser mais interessantes em casa", comenta Milene.

A psicóloga Rafaela Guedes observa que incertezas e imprevisibilidade são partes da vida. A interrupção de rotinas minimamente controladas é que se torna algo mais difícil de lidar. Apesar de o ano começar ainda com pandemia, há um sinal de esperança: as vacinas estão chegando e logo tudo vai começar a voltar ao normal. Ser honesto é importante, dar razão ao estresse, tristeza e cansaço, porque 2020 foi sim difícil, mas acalmar também. Em relação às aulas, o ideal é explicar que ainda é melhor e que a vida não parou. Só está diferente.

"Precisamos falar a linguagem da verdade, mas na linguagem delas. Depende da faixa etária. O que perguntarem, respondam. Nunca com mais informações do que eles pedem. O vírus ainda está aí, que causa uma doença e a gente precisa se cuidar, com álcool, máscara, ficando em casa e mantendo o distanciamento. Só mais um pouco. Porque quando começarmos a nos vacinar, vamos voltar às vidas normais e logo isso será um capítulo do passado e vamos poder brincar, passear, abraçar, tocar... a vacinação já está ocorrendo no mundo", explica Rafaela.

As duas especialistas reforçam que as rotinas podem ser significadas e ressignificadas. Com esperança constante. Todas as tarefas e atividades prazerosas, com controles de horários, presença, promovendo contato positivo com quem a criança ainda convive, vão ajudar a amenizar o sofrimento, a angústia e a ansiedade. A hora das aulas, do banho, as refeições juntos, atividades conjuntas... é só questão de mais um pouco de tempo e paciência.

Adultos tomam a angústia e ansiedade das crianças para si

 

O professor José Emilio Almeida, presidente da Associação dos Concursados do Pará (Asconpa), diz que a filha Renatinha, de nove anos, está mais do que inquieta. Ela sente falta do convívio com os colegas e do contato com os professores para estudar. Ele sabe que não é fácil estar longe da socialização porque sente o mesmo. As aulas remotas dela retornam no final de janeiro.

"Ela já tem capacidade de refletir e entender o que ocorre. E que nenhum de nós está pronto para lidar com essa situação em que estamos facilmente. Nós, adultos, estamos lidando com uma geração diferente das nossa e que já tem respostas prontas antes mesmo que nós possamos pensar em como responder aos questionamentos. Ela está triste e eu fico também. Mas tentamos nos unir, ajustar a rotina e, curioso: ela que ajuda a mãe, que também é professora, a gravar as aulas dela. Ela que edita!", diz Emílio.

Francy Lima, cantora profissional e estudante de pedagogia, diz que ainda nem matriculou a filha mais velha em uma escola devido às incertezas. Mas gestores de escolas que ela já conhece começaram a chamar. Ela diz que ficou preocupada em saber que um amigo já vai levar o filho pequeno para aulas presenciais no fim do mês, algo que ela diz não estar pronta ou sentindo segurança para fazer. No mais tardar, as escolas que ela conhece vão iniciar aulas em fevereiro.

image (Ivan Duarte/O Liberal)

"Eu já me arrisco muito porque trabalho na noite, em locais. Eu não estou saindo além do trabalho e nem recomendo que se faça isso. Manaus já fechou e Belém, pelo visto, está por um triz. A Beatriz Victória, de seis anos, pergunta muito sobre essa volta, sente saudades dos coleguinhas e às vezes fica desenhando e escrevendo. Eu fico triste porque ela é muito sociável, carinhosa e aqui somos só nós três ou eles dois com a minha mãe. O João Victor tem dois anos e ainda fica numa creche, então ainda não questiona muito", comenta Francy.

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