Falta de Rivotril nas farmácias preocupa pacientes, mas especialistas apontam alternativas seguras
Segundo a fabricante Blanver, a escassez ocorre devido a mudanças na cadeia produtiva

Usuários do Rivotril têm enfrentado dificuldades para encontrar o medicamento nas farmácias brasileiras. O remédio, cujo princípio ativo é o clonazepam, está em falta em duas apresentações específicas: gotas (2,5 mg/mL) e comprimido sublingual (0,25 mg).
Segundo a fabricante Blanver, a escassez ocorre devido a mudanças na cadeia produtiva. A versão em gotas passou a ter seus insumos produzidos na Itália, enquanto o comprimido sublingual será fabricado na Espanha. Antes, a produção era feita no Brasil. A expectativa é que o abastecimento da formulação em gotas seja normalizado ainda em 2025, mas o comprimido sublingual só deve voltar a ser encontrado de forma regular no primeiro semestre de 2026. Já o Rivotril de 2 mg, em cartela com 30 comprimidos, segue disponível.
Alternativas
Apesar da apreensão entre pacientes, o médico psiquiatra Dirceu Rigoni explica que o impacto da falta não deve ser tão grave. “Provavelmente não vai ser tão grande, porque são apenas algumas apresentações que vão ter o desabastecimento. Existem outros fabricantes que também produzem o clonazepam, que é a base. Além disso, o Rivotril de 2 mg continua disponível”, disse.
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Rigoni destaca ainda que o clonazepam pertence à classe dos benzodiazepínicos, o que permite sua substituição por outros medicamentos com efeitos semelhantes. “O Rivotril pode ser trocado por qualquer outro da mesma classe. Temos o alprazolam, bromazepam, diazepam, oxazepam, flunitrazepam, entre outros. A diferença entre eles está na velocidade e no tempo de ação, mas, com o cálculo adequado de equivalência de dose, o tratamento segue normalmente. Não será nenhuma catástrofe”, reforçou o especialista.
Distribuição no SUS
A situação das gotas, frequentemente utilizadas por pacientes em tratamento contínuo, poderia ser mais preocupante, já que essa versão é distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, Rigoni observa que o SUS fornece a formulação genérica, o que deve reduzir o impacto. “Acredito que não haverá grandes prejuízos também nesse ponto”, avaliou.
Riscos de dependência
O psiquiatra também comentou sobre o risco de dependência associado ao Rivotril. Segundo ele, o problema não é tão comum quanto se imagina. “A dependência química pode ocorrer, mas geralmente o uso é controlado pelo médico, que prescreve a menor dose possível enquanto se trata a causa da doença. O Rivotril, assim como outros benzodiazepínicos, não trata a causa, apenas os sintomas. É como um remédio para a febre”, explicou.
Rigoni acrescenta que, na prática, observa-se mais frequentemente uma dependência psicológica do que química. “O indivíduo acredita que não conseguirá ficar sem, tem dificuldade de suspender o uso e sente necessidade de ter o medicamento sempre consigo. Uma estratégia utilizada é a troca para gotas, reduzindo gradualmente, por exemplo, uma gota por semana, para facilitar a adaptação do paciente”, relatou.
Uso controlado é fundamental
Por fim, o médico faz um alerta sobre o uso indevido do medicamento. “A melhor forma de evitar riscos é usar o Rivotril apenas com indicação médica, de preferência de um psiquiatra. O problema surge quando há uso clandestino, pois a pessoa pode recorrer a outros benzodiazepínicos ou até a substâncias mais potentes e perigosas. Para quem utiliza corretamente, com prescrição, não vejo motivo para preocupação. O clonazepam continuará disponível, e o próprio Rivotril de 2 mg segue no mercado”, concluiu.
O que diz a fabricante do medicamento
A empresa Blanver informou, por meio de nota, que “de acordo com a Resolução RDC n° 18 de 04 de abril de 2014, a Blanver Farmoquímica e Farmacêutica S.A. informa que a descontinuação temporária de Rivotril Gotas 2,5 mg/mL e Rivotril Sublingual 0,25 mg, em virtude de alteração de local de fabricação do medicamento; o desabastecimento de Rivotril Sublingual 0,25 mg para os pacientes é estimado para final de 2025”.
“A expectativa é que o abastecimento de Rivotril Gotas 2,5 mg/mL seja regularizado ainda em 2025; o abastecimento de Rivotril Sublingual 0,25 mg deve ser regularizado no primeiro semestre de 2026”, disse a fabricante.
“Entre em contato com seu médico para orientações acerca do seu tratamento. Para outras informações, solicitamos a gentileza de entrar em contato com o SAC Biopas por meio do telefone 0800 591 9210”, orientou a empresa.
O que diz a Sesma
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) informou que o “abastecimento da rede municipal está em fase de regularização, aguardando a entrega do medicamento pelo fornecedor”.
“Esta medicação é disponibilizada nas Unidades Básicas de Saúde e Centros de Atenção Psicossocial. Dependendo da indicação, este medicamento pode ser substituído pelo ácido valpróico, carbamazepina ou fluoxetina, conforme avaliação médica”, informou a secretaria.
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