“Esse rio é minha rua”: espetáculo celebra a Amazônia viva e popular no palco do Theatro da Paz
Mais do que reviver personagens como Matinta Pereira, Vitória Régia, Uirapuru ou Tamba-Tajá, “Esse rio é minha rua” aposta em uma abordagem que une cultura e resistência.

Em um ano que o mundo volta seus olhos para as questões ambientais com a chegada da COP30 em Belém, o espetáculo “Esse rio é minha rua” emerge como uma resposta artística e cultural ao debate global sobre a Amazônia. Em cartaz nos dias 27 e 28 de setembro de 2025, no Theatro da Paz, a montagem musical do Núcleo de Encenação do Mundo Montessori transcende o palco e convida o público a mergulhar no imaginário, na sabedoria e na vida real das populações ribeirinhas da floresta.
Dirigido por Erllon Viegas, o espetáculo é fruto de um processo coletivo inspirado nas práticas do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. “Coletamos histórias reais, vividas ou pesquisadas pelos próprios integrantes do grupo. A dramaturgia nasceu do nosso povo”, conta o diretor. O resultado é um mosaico poético e vibrante de lendas, mitos, cantos e vivências que dão corpo à chamada “florestania”, conceito que afirma o direito à cidadania dos povos da floresta.
Mais do que reviver personagens como Matinta Pereira, Vitória Régia, Uirapuru ou Tamba-Tajá, “Esse rio é minha rua” aposta em uma abordagem que une cultura e resistência. “Ser cidadão não é só viver na cidade, é entender que fazemos parte da natureza”, diz Viegas. E é essa consciência ecológica e identitária que guia cada cena, cada música e cada gesto.
Musicalmente, a encenação rompe com qualquer ideia de folclore engessado. O espetáculo percorre ritmos como o carimbó, o brega, o tecno-brega e outras manifestações da música popular paraense. O processo de escolha das canções durou cerca de um mês e meio de experimentações cênicas, até encontrar um equilíbrio entre narrativa e sonoridade. “A música aqui não é pano de fundo, ela costura as histórias, impulsiona os personagens”, explica o diretor.
A encenação também aposta em elementos simbólicos: redes de pesca, tecidos ao sol, cantos da floresta e um igarapé cenográfico que se transforma em palco da memória oral amazônica. As vozes que ali ecoam, avadeiras, pescadores, crianças, encantados, são metáforas vivas da relação profunda entre ser humano e floresta.
No entanto, o espetáculo vai além da estética regionalista. Ele propõe um reposicionamento da Amazônia no imaginário coletivo. Ao dar protagonismo a narrativas locais, “Esse rio é minha rua” combate a imagem da floresta como território exótico e desabitado. “A Amazônia não é só o ‘pulmão do mundo’, é também um corpo vivo de culturas, histórias e povos que precisam ser ouvidos e respeitados”, reforça Viegas.
O espetáculo, portanto, não se limita ao entretenimento. Ele atua como ponte entre arte, política e educação ambiental. Ao humanizar a floresta e visibilizar seus habitantes, o teatro se torna espaço de diálogo e transformação. Uma experiência que, ao mesmo tempo em que emociona, também informa e convoca.
E neste momento em que Belém se prepara para receber lideranças globais na COP30, é simbólico que vozes amazônidas ocupem um dos palcos mais importantes da cidade. “Esse rio é minha rua” não fala apenas da Amazônia, fala da Amazônia, com a Amazônia, para o mundo.
Serviço:
Espetáculo: Esse Rio é Minha Rua
Direção: Erllon Viegas
Datas: 27 e 28 de setembro de 2025
Horário: 18h
Local: Theatro da Paz (Avenida da Paz, S/N)
Ingressos: À venda na bilheteria do teatro e no site Ticket Fácil
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