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De resina que vira perfume à árvore dos desejos: conheça espécies curiosas do Parque do Utinga

Árvores são essenciais para abastecimento de água, medicamentos e regulação do clima na cidade

Andréia Santana* e Vito Gemaque
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O Dia da Árvore, celebrado em 21 de setembro, tem como objetivo promover a conscientização sobre a importância da preservação das árvores e das florestas. Em Belém, o Parque Estadual do Utinga é referência nesse cuidado e abriga espécies curiosas, como o breu-branco – árvore aromática cuja resina é utilizada na composição de perfumes –; a quaruba-papel, conhecida como a “árvore dos desejos” por meio de uma lenda indígena; e a samaúma, considerada a “árvore sagrada da Amazônia” por sua grandiosidade.

Diego Barros é arborista e guia de trilhas do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) no Parque do Utinga há 17 anos. Profundo conhecedor da Área de Proteção Ambiental do Parque do Utinga, localizado no centro da cidade — onde estão os dois principais lagos que abastecem a maior parte da população de Belém —, ele destaca:

“Dentro do parque, como unidade de conservação de proteção integral, temos muitas árvores de interesse e beleza cênica, flores muito bonitas e apelo também histórico. Nós temos a samaúma, que é a rainha da floresta, temos a seiva pentandra, breu branco, seringueiras, que tiveram importância histórica para a época da Belle Époque, e muitas outras árvores que têm grande importância, tanto cultural quanto histórica, para a nossa região.”

Durante as trilhas, Barros apresenta espécies com diferentes características. Um dos destaques é o breu-branco, que dá nome a um município da região sudeste do Pará. A planta medicinal é nativa da Amazônia.

“Ela produz uma resina. Quando é machucada por algum inseto ou animal, acaba soltando essa resina para a cicatrização. É como se fosse o nosso cascão. Isso aqui é a resina do breu-branco, é algo totalmente orgânico, totalmente natural, que tem poder medicinal absurdo para tratar problemas respiratórios: bronquite, sinusite, asma. Ela é um broncodilatador que funciona para liberar as vias aéreas e ajudar as pessoas a respirarem melhor. A Natura a deixou bem famosa por conta da criação de um perfume, na verdade uma colônia, chamada Breu Branco”, detalha.

As histórias são diversas. Há até uma “árvore dos desejos”, conhecida como quaruba. Essa espécie da madeira Vochysia spp. é usada na construção civil e naval, na fabricação de compensados e em projetos de alto padrão devido à sua cor e resistência. Povos indígenas acreditavam que a planta tinha a capacidade de realizar desejos.

“Estamos diante de uma árvore muito bacana e peculiar do Parque do Utinga. Ela tem essa característica de soltar lascas da casca, que é um processo natural. Esse processo acabou atraindo as pessoas e criando uma lenda na nossa região sobre a árvore dos desejos. Essa árvore quaruba é a protagonista. Como é que funciona? A pessoa vem aqui, pega um pedacinho dessa casca que já está solta e puxa. O tamanho que vem é o tamanho do seu desejo. A pessoa medita, faz o seu pedido, guarda em algum lugar — um livro ou um local seguro — e o seu desejo se realiza. Por isso acabou virando a árvore dos desejos”, explica.

As árvores do parque possuem múltiplas funções: são fonte para pesquisa científica, ajudam na regulação do microclima, servem de abrigo para aves, insetos e outras espécies da fauna e flora, além de impulsionarem o ecoturismo. “A importância delas é fundamental para a nossa sobrevivência mesmo”, enfatiza Barros. O Ideflor-Bio é responsável pela preservação, fiscalização e monitoramento da área, garantindo seu uso sustentável.

“O grande desafio é mantermos essas árvores de pé, com atividades de ecoturismo, que utiliza muito bem trilhas e outras atividades também. Outra atividade é de monitoramento mesmo. Como o parque é muito grande e está localizado no centro da cidade, sofre uma pressão muito grande das áreas externas, que vêm atrás de madeira de lei — como nós temos bastante aqui — e de outros tipos de árvores para uso pessoal. O nosso trabalho é proibir, prevenir e proteger essa unidade de conservação”, explica.

O Parque Estadual do Utinga mantém um programa de recepção para escolas, pesquisadores e universidades. A população também pode realizar visitas gratuitamente. Estudantes de escolas públicas participam de atividades de educação ambiental, nas quais aprendem sobre a importância do parque e das árvores para o abastecimento de água de Belém. “Durante todo o ano fazemos essa ação constante, em que as escolas nos procuram para fazer as atividades de educação ambiental e nós recebemos aqui com muito carinho”, pontua.

Atualmente, o parque não possui áreas desmatadas. Toda a extensão da unidade de conservação foi regenerada com plantio planejado pelo Ideflor-Bio. Agora, os especialistas realizam um processo de enriquecimento do solo. Há alguns anos, o parque sofria com invasores que entravam para cortar árvores para comercialização, mas a fiscalização conseguiu reduzir drasticamente esse tipo de crime.

Barros reforça que a preservação das árvores em áreas urbanas depende da colaboração da população.

“A população tem um papel muito fundamental na manutenção das árvores urbanas, que estão no centro da cidade, não pregando nada nelas, não jogando lixo no pé da planta — às vezes a pessoa pensa que está adubando, mas não é bem assim que funciona —, evitando cimentar a base da árvore, deixando uma parte de terra para a água da chuva infiltrar e para a fixação das raízes. A gente pode e deve cuidar das nossas árvores. A gente nota que os ambientes que têm árvores urbanas têm um clima diferente, um vento diferente. Quando a gente retira ou perde por falta de cuidados, todo mundo perde”, assegura.

Com os cuidados adequados, as árvores ajudam a embelezar a cidade por muitos anos.

(*) Especial para O Liberal

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