Cúpula do Clima, veja detalhes dos dois dias do encontro com a participação de 140 países em Belém
Evento político pavimentou os caminhos para a COP 30, nesta segunda-feira (10)
Em Belém, a Cúpula do Clima da ONU foi conduzida pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira (6) e sexta-feira (7), com a participação de mais de 40 chefes de Estado e representantes de cerca de 140 países. O encontro se materializou como um espaço político, de alto nível, com uma plenária geral e três sessões temáticas.
Todas as sessões foram presididas pelo presidente Lula. A primeira sessão abordou clima e natureza, floresta e oceanos; a segunda foi sobre transição energética e a terceira sobre os 10 anos do Acordo de Paris e financiamentos. No encontro os países também discutiram o lançamento do (TFFF) Fundo de Florestas Tropicais para Sempre.
Em síntese, as lideranças foram unânimes em afirmar que já passou a fase de negociação das regras para a implementação das metas de enfrentamento às mudanças climáticas. “A realidade impõe respostas mais fortes e rápidas", destacou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, abrindo grandes expectativas para a COP 30 (30ª Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas), a partir desta segunda-feira (10).
Fundo de Florestas Tropicais (TFFF) tem US$ 6 bilhões em aportes
Uma das principais entregas do Brasil na Cúpula do Clima, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) alcançou a marca de cerca de US$ 5,5 bilhões prometidos em investimentos, sendo US$ 1 bilhão do próprio governo federal. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou o avanço na operacionalização do Fundo.
Marina Silva reafirmou o compromisso do Brasil em liderar a transição energética global, e disse que o país quer “liderar pelo exemplo”, destinando parte dos recursos do petróleo à transição energética e à justiça climática. “O Brasil se dispôs até a COP 30 de ter esse fundo operacional e nós fomos positivamente surpreendidos, já temos 6 bilhões de dólares”, disse a ministra no último dia da Cúpula, na sexta-feira .
‘Não existe solução para o planeta fora do multilateralismo’, afirma presidente Lula
No encerramento do evento, na sexta-feira (7), o presidente Lula foi crítico ao avaliar que “o mundo ainda está distante de atingir o objetivo do Acordo de Paris“, disse. Lula pediu o alinhamento das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), compromisso assumido em Dubai.
Na prática, os NDCs, ou Contribuições Nacionalmente Determinadas, são os compromissos que cada país assume no âmbito do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar às mudanças climáticas.
Esses planos, que devem ser atualizados a cada cinco anos com metas mais ambiciosas, detalham as ações que cada nação implementa para ajudar a atingir o objetivo de limitar o aquecimento global "bem abaixo" de 2ºC, com esforços para 1,5ºC.
‘Cúpula superou as expectativas’, diz ambientalista do Observatório do Clima
Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, em Belém, sobre um balanço das discussões da Cúpula do Clima, o ambientalista Cláudio Ângelo, do Observatório do Clima, destacou que “o evento superou as expectativas”, afirmou. Ele citou a sinalização política clara do presidente Lula sobre a necessidade de um “mapa do caminho” para eliminar os combustíveis fósseis e zerar o desmatamento, temas centrais, e pouco discutidos nas conferências do clima anteriores.
“O fato de o Lula ter falado que a gente precisa desses mapas do caminho dá uma chance para os negociadores, que vão se reunir aqui, a partir de segunda-feira, colocar isso na agenda, tentar abrir um processo para discutir essas duas questões que são as coisas mais importantes que podem sair daqui de Belém”, disse Cláudio Ângelo.
A presidência brasileira destacou o Mapa do Caminho Baku-Belém, aprovado em 2024, como exemplo de “vontade política”. Esse instrumento estabelece US$ 1,3 trilhão anuais para mitigação e adaptação. “Sem meios de implementação adequados, exigir ambição dos países em desenvolvimento é injusto e irrealista“, afirmou o presidente Lula.
Conselho do Clima
O presidente Lula também propôs a criação de um Conselho do Clima, ideia que já apresentou ao G20 e à Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). “É uma forma de dar ao desafio da implementação a estatura política que ele merece“, afirmou.
Para o ambientalista Cláudio Ângelo, do Observatório do Clima, o discurso de Lula deu um tom estratégico às discussões e pode abrir espaço “em um ambiente menos conturbado” para que os negociadores, que se reúnem a partir de segunda-feira (10) em Belém, coloquem na agenda da COP 30 as principais causas da crise climática".
Para Cláudio Ângelo, os dois dias de evento cumpriram o papel de criar um ambiente político favorável para as discussões que se seguirão na COP. “Cúpula de Líderes é sempre um monte de discurso, uma fotografia e uma esperança de que uma sinalização política vai ser dada bem no alto nível para que os negociadores e os ministros tenham mais espaço para trabalhar nas duas semanas de COP. Eu acho que isso aconteceu”, avaliou.
A Cúpula do Clima movimentou o panorama ambiental mundial com boas perspectivas, e também registrou ausências. Não compareceram os presidentes dos Estados Unidos e da Argentina. O governo norte-americano se retirou do Acordo de Paris em janeiro de 2025, e o país é o 2º maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. A Argentina se retirou este ano, sob o governo de Javier Milei.
Acordo de Paris
O Acordo de Paris foi assinado em 12 de dezembro de 2015, durante a COP21, na França. É um dos maiores tratados climáticos globais da história, unindo quase todos os países em torno da meta de manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para limitá-lo a 1,5 °C. Atualmente, 195 países e a União Europeia fazem parte.
Belém apresenta compromisso por combustíveis sustentáveis
Durante a Cúpula, também foi apresentado o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, conhecido como “Belém 4x”, lançado na Pre-COP, no dia 14 de outubro. A iniciativa busca fomentar a cooperação internacional para, no mínimo, quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, por meio da implementação de políticas existentes ou anunciadas. Até o momento, o compromisso foi endossado por 19 países.
Até o momento, o "Belém 4X" foi endossado por 19 países: Armênia, Belarus, Brasil, Canadá, Chile, Guatemala, Guiné, Índia, Itália, Japão, Maldivas, México, Moçambique, Myanmar, Países Baixos, Panamá, República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Sudão e Zâmbia. A variedade e a ampla distribuição geográfica do grupo daqueles que já se associaram demonstram a relevância dos combustíveis sustentáveis para a transição energética e o combate à mudança do clima nas mais diversas partes do planeta. A iniciativa, co-patrocinada por Brasil, Itália e Japão, permanecerá aberta a novas adesões.
O embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e chefe da delegação negociadora brasileira, apontou a satisfação com o número de apoios recebidos até o momento ao Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis – Belém 4x. "Compromissos como este vão ganhando tração ao longo do tempo", afirmou.
"Por isso, 19 endossos até o momento são um excelente resultado. E a variedade, sobretudo, é o testemunho de que estamos no rumo certo e de que a causa reverbera no mundo inteiro: o grupo que já formalizou apoio ao compromisso 'Belém 4x' reúne países ricos, em desenvolvimento, pequenos, grandes, de todo o planeta. É, felizmente, um grupo diverso de países", disse o embaixador.
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