Cão terapeuta visita pacientes com câncer em hospital de Belém

A presença do animal, além de auxiliar no bem-estar dos pacientes, é vista como uma forma de humanizar o tratamento 

Kamila Murakami

O cão terapeuta "Alecrim", treinado no Batalhão de Ações com Cães (BAC), da Polícia Militar do Pará, fez uma visita aos pacientes em tratamento contra o câncer que estão internados no Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém. A “pet-terapia” tem por finalidade auxiliar no bem-estar dos pacientes e na redução do tempo de percepção das dores, além de servir como ferramenta na humanização do atendimento.

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Tratamento humanizado

A Terapia Assistida por Animais (TAA) promove o contato do paciente com um pet, na maioria cães, devidamente treinados para desenvolver a atividade. O recurso melhora a comunicação, socialização, memória, concentração e afetividade, dentre outros aspectos, e minimiza os efeitos negativos da hospitalização.

A terapeuta ocupacional Márcia Nunes explica que a visita traz benefícios tanto para a equipe como para os usuários. Segundo ela, a presença de um cão terapeuta “transforma o ambiente e cria uma atmosfera de calor e de amor”.

“A visita é excelente, pois altera completamente a rotina e aproxima a equipe dos pacientes. A criação de vínculos afetivos traz bem-estar e diminui a sensação de solidão que a hospitalização pode causar nos pacientes. O fato de poder tocar no animal também ajuda, pois essa parte sensorial auxilia na regulação da pressão e favorece a externalização de emoções. Quando uma paciente viu o Alecrim, ela o abraçou e começou a chorar. Ela estava muito triste e não queria falar, mas o pet tem essa facilidade de entrar em contato com nossas emoções. O choro tornou-se de alegria porque ela não se sentiu mais sozinha”, afirmou Márcia.

Internado no setor de hematologia do hospital, Deyvid Beckman, 19 anos, luta contra a leucemia e também com a saudade de casa e de seus animais de estimação. O jovem veio do município de Vigia para se tratar em Belém. Para ele, a visita de Alecrim foi muito especial. "Amo animais desde criança. Em casa, eu tenho o Rock e o Pirata, dois cachorros que amo demais. Eu nunca imaginei receber um cachorro no hospital, mas, gostei muito e senti uma felicidade imensa. Ontem eu estava meio triste, com saudade de casa e dos meus pets, mas, com a presença do Alecrim, me alegrei. Como ia começar os procedimentos de quimioterapia hoje, eu estava meio apreensivo, e a visita também me ajudou a relaxar", contou.

"A diretoria do hospital, em conjunto com a equipe multiprofissional, almejava promover esse encontro. Afinal, receber essa visita especial é motivador, principalmente para aqueles pacientes que estão internados há muito tempo. O HOL já estudava a implementação do projeto e, ao conversarmos com o paciente Deyvid, que ama os animais e sentia muita saudade de casa, entramos em contato com a PM e providenciamos as medidas necessárias para que a visita ocorresse com segurança para os usuários. O que vivenciamos aqui foi muito forte e emocionante para todos", completou a chefe do serviço de psicologia do HOL, Rivonilda Graim.

Responsável por acompanhar o cachorro Alecrim durante as visitas - que acontecem sob a supervisão de profissionais da saúde - a 1ª tenente Marina Coutinho, médica veterinária do BAC da PM, reforçou que diversos estudos comprovam os benefícios da terapia assistida por cães para pacientes hospitalizados.

"Há melhoras nos parâmetros físicos relacionados à pressão arterial e frequência cardíaca, e também dos parâmetros emocionais, no sentido de aceitação de algumas terapias. Pacientes resistentes a determinados tratamentos, quando recebem a terapia, conseguem aceitar melhor a conduta médica adotada. Quando ocorre a visita, há mudanças no ânimo, no ambiente e tudo fica mais tranquilo e leve para os pacientes, acompanhantes e equipe envolvida", afirmou.

Cuidados para a visita

Para garantir o acesso de um animal na unidade hospitalar é necessária a adoção de alguns cuidados, e o principal deles é a higienização completa do animal antes da visita aos pacientes. O cãozinho Alecrim também foi treinado para não urinar ou defecar nas dependências das instituições que visita, além de não reagir ao ser manipulado por outras pessoas.

"Nós visitamos de crianças a idosos, então, às vezes, não se tem o controle de quem está brincando com ele. Pode ser que puxem a orelha, pisem no rabo ou o apertem demais. E ele tem que aceitar sem esboçar reação, por mais que seja natural para os cães. Desde bebê ele foi condicionado a aceitar manipulação, a estar acompanhando e a fazer os truques que alegram os pacientes durante as visitas", explicou a tenente.

A médica veterinária conhece bem Alecrim, mistura de Golden Retriever e com Border Collie. Foi ela quem fez o pré-natal da cadela que gerou o animal. "Acompanhei toda a gestação e fiz o trabalho de parto. Quando soube que os filhotes seriam doados, pedi um ao tutor da mãe dele. Eles fizeram entrevistas com vários candidatos para adoção e no fim me concederam o privilégio de adotá-lo. Eu escolhi o Alecrim na sala de parto e depois dos primeiros 60 dias de vida ao lado da mãe e dos irmãos, ele foi para a minha casa", recordou.

Alecrim emocionou os pacientes 

A visita de Alecrim despertou memórias afetivas no aposentado Pedro Mesquita, de 80 anos. Assim que o animal adentrou a enfermaria, o idoso, que faz tratamento contra um câncer de próstata, não segurou a emoção. Ele lembrou da infância no município de Maracanã e do amor pelos animais, em especial pelos cachorros. “O meu amor pelos animais começou quando eu era criança. Sempre fui muito apegado aos cachorros. Colocava no colo e cuidava com todo amor. Sofria muito quando morriam de velhice”, afirmou.

O cãozinho terapeuta da PM também fez Pedro recordar de Lupi, uma cachorra sem raça definida (SRD) adotada por ele na década de 90. A visita inesperada de Alecrim surpreendeu positivamente o idoso. “Eu nem sonhava (receber visita de um cão no hospital), eu estava tirando um cochilo aqui quando a minha filha entrou e falou que estavam trazendo um cachorro para nos visitar. E quando eu vi o alecrim, eu lembrei logo da Lupi, uma cachorra que encontrei em São Miguel do Guamá. Ela sofria maus tratos e quando eu a vi naquela situação pedi para cuidar dela. Depois que ela veio para minha casa, dei todo amor e carinho possível”, recordou Pedro emocionado.

"A Polícia Militar do Pará acredita no projeto e permite que Alecrim e eu visitemos diversos hospitais, creches, escolas e abrigos. Esse foi nosso primeiro encontro com pacientes do Hospital Ophir Loyola, e é interessante observar como é singular a forma como os pacientes recebem a visita. A aceitação, a emoção de estar no HOL e ver os pacientes igualmente emocionados e gratos por estarmos no hospital é muito gratificante. Alecrim e eu estamos orgulhosos por fazer parte deste projeto e por espalhar carinho, esperança e amor", concluiu tenente Marina.

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