Bullying: especialistas apontam o risco da prática e necessidade de intervenção

Consequências podem levar à atitudes que coloquem em risco a vida

Camila Guimarães

O Dia Mundial de Combate ao Bullying é celebrado neste domingo, 20. A busca conscientizar sobre a importância de combater essa prática, cujas consequências podem ir desde perda da autoestima até atitudes e pensamentos que colocam a vida em risco. Especialistas alertam para a importância de identificar e tratar o problema, dando atenção tanto à criança que sofre quanto à que pratica o bullying.

Também existe o dia nacional de conscientização - 7 de abril, criado pela Lei nº 13.185/2015, relacionado à tragédia que ocorreu na Escola Municipal Tasso de Oliveira, no Rio de Janeiro, em 2011, quando um jovem de 24 anos invadiu o local e matou 11 crianças.

A própria lei define o bullying como uma intimidação sistemática: “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”.

A psicopedagoga Eliana Garcia Assunção, 48, detalha que o bullying provoca graves consequências: "entre as sequelas mais graves estão transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão, síndrome do pânico”. Em casos extremos, atitudes ou pensamentos que colocam a vida em risco também são possíveis, alerta Eliana.

Outras sequelas costumam ser mais sutis, como a sensação de insegurança, dificuldades em formar relacionamentos saudáveis e comportamento auto destrutivo: "Também há agressividade ou apatia", complementa Eliana.

image A psicopedagoga Eliana Garcia Assunção detalha as consequências do bullying. (Wagner Santana/ O Liberal)

A psicopedagoga explica as características de quem pratica o bullying: "exibe um comportamento agressivo, intimida colegas ou irmãos, tem falta de empatia ao ver alguém sofrendo, não aceita ser contrariada e recorre a ameaças ou à violência para obter o que quer”. Já a criança que está sofrendo bullying “tem uma mudança brusca de comportamento, vai se isolando e, frequentemente, apresenta lesões físicas, roupas ou objetos pessoais danificados, declínio no desempenho escolar ou perde o interesse pelas atividades diárias".

Tanto o agressor quanto o agredido necessitam de atenção especial. "A vítima de bullying deve buscar ajuda de um adulto confiável, como pais, professores e psicólogos. Deve evitar confrontar o agressor sozinho, o que pode aumentar o risco de novas agressões. É importante guardar as evidências, como mensagens, fotos ou vídeos para relatar às autoridades competentes", orienta a especialista.

Já ao praticante do bullying, "as ações incluem intervenção psicológica, entender a origem da agressividade, educação sobre empatia, desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro, compreender o impacto das suas ações, estabelecer consequências claras, mostrar que o comportamento não será tolerado e deve ser corrigido com ações reparadoras", afirma Eliana.

image Prática do bullying pode estar relacionada a transtornos mentais. (Freepik)

Bullying e transtorno mental

A psicóloga infantil Ana Jamile Cardoso comenta que a prática do bullying pode estar associada a transtornos mentais: “como o Transtorno de conduta, no qual padrões de comportamento apresentam características agressivas e desafiadoras; Transtorno de personalidade antissocial, que pode apresentar comportamentos impulsivos e picos de agressividade e irritabilidade”.

Entretanto, a especialista pontua que aspectos sociais e culturais, como as relações interpessoais que a criança adquire ao longo de seu desenvolvimento, também podem estar por trás do bullying.

Quanto às vítimas, a psicóloga avalia que existe um perfil recorrente: ”possuem um perfil retraído, e/ou são consideradas ‘frágeis’ diante o seu contexto, porque podem ser vistos como menos propensos a reagir, ou buscar ajuda. Podemos citar as crianças com necessidades especiais, por isso, o processo de inclusão se faz necessário, para que a criança obtenha uma visão de uma forma global acerca das diferenças e singularidades”, pondera.

Outras sequelas do bullying

  • Baixa autoestima: humilhação pode prejudicar a autoconfiança da vítima, o que afeta as suas relações pessoais e profissionais ao longo da vida.
  • Isolamento social: a vítima pode se afastar de amigos e familiares, aumentando o sentimento de solidão.
  • Dificuldades acadêmicas e profissionais o estresse emocional pode prejudicar o desempenho escolar, no trabalho, resultando em baixo rendimento e até mesmo abandono dos estudos.
  • Distúrbios alimentares e físicos: vítimas de bullying podem desenvolver distúrbios como anorexia, bulimia ou outros.

Fonte: Eliana Assunção

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