Boieiras têm reconhecimento nacional com festival que valoriza a riqueza culinária do Ver-o-Peso
Festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense retorna neste ano para a 16ª edição
O Ver-o-Peso é a essência da riqueza da culinária paraense. O cartão postal de Belém reúne desde os ingredientes naturais até a comida pronta vendida pelas famosas boieiras, cozinheiras que preparam as refeições no local. As cozinheiras ficaram conhecidas nacionalmente por meio do Festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, que trouxe chefs de cozinha consagrados para conhecê-las. O festival que uniu o popular e a chamada alta gastronomia retorna em 2025 para continuar difundindo a cultura paraense para o mundo.
O Festival Ver-o-Peso, legado do chef Paulo Martins, organizado pela família do chef, retorna oficialmente em setembro deste ano. O evento foi encerrado na pandemia, em 2020, deixando um vazio no coração das boieiras, dos chefs convidados e do público. O maior e mais antigo evento gastronômico do Norte do Brasil terá a 15ª edição realizada em Belém nos finais de semana de 5 a 7 e de 12 a 14, com o Grande Festival, no Shopping Bosque Grão-Pará.
“Para mim é uma glória muito grande, é uma alegria muito grande, uma satisfação muito grande. O Festival da Cozinha Paraense significa muito para a gente. Foi quando as boieiras começaram a aparecer. Hoje em dia, as boieiras são conhecidas no mundo todo. Antes ninguém conhecia, vivíamos escondidas”, conta a ‘boieira’ Osvaldina da Silva Ferreira, de 75 anos, há 53 anos trabalhando com alimentação no Ver-O-Peso, sempre como cozinheira.
Os conhecimentos de dona Osvaldina e dezenas de outras cozinheiras da maior feira aberta da América Latina estarão no festival no mesmo patamar que os grandes mestres da cozinha brasileira. Os chefs convidados aprenderão e compartilharão conhecimentos com quem mantém a cozinha paraense viva.
“Naquela época [quando começamos o festival] era tudo novo. Hoje, tudo já está muito bem divulgado. Nossos ingredientes estão todos nas ruas, pelo Brasil inteiro. Qual é a diferença? É trazer os chefes para Belém. É trazer os turistas para Belém, essa é a importância do Festival. Os ingredientes talvez não sejam tanto a novidade, mas a forma como a gente os usa, os nossos hábitos alimentares, a nossa cultura alimentar é o diferencial. Cada chefe que vem a Belém pela primeira vez e vê como nós trabalhamos, como nós manuseamos, manipulamos e comemos aqui vê que é completamente diferente do que a gente encontra fora”, enfatiza a organizadora chef Dani Martins, filha de Paulo Martins.
O evento tem realização do Instituto Paulo Martins em parceria com a produtora de eventos Origem Justa. Nos moldes dos principais festivais gastronômicos da atualidade, a programação incluirá degustações, aulas e uma série de atividades com a presença de chefs de todo o Brasil. Entre as atrações estará também o lançamento do livro "Memórias de um filho do fogão", biografia de Paulo Martins, assinada pela jornalista paraense Lorena Filgueiras, previsto para chegar ao público em 9 de setembro.
Dani revela que ao anunciar o retorno do Festival Ver-O-Peso da Cozinha Paraense trouxe uma enxurrada de pedidos dos próprios chefs de cozinha para participarem do evento. Referência da gastronomia brasileira já confirmaram presença como as chefs Janaína Torres, eleita a Melhor Chef Mulher do Mundo pelo The World's 50 Best Restaurants 2024 e detentora de uma série de prêmios nacionais e internacionais, e Carole Crema, conhecida pelos realities de TV 'Que Seja Doce!' e 'Bake Off'.
Outras chefs confirmadas foram a responsável pelo restaurante paulistano Aizomê, Telma Shimizu, que carrega o título de Embaixadora para Difusão da Cultura e Culinária Japonesa cedido pelo governo do Japão, a mineira Bruna Martins, premiada chef de Belo Horizonte conhecida pelo trabalho nos restaurantes Birosca S2, Florestal e Gata Gorda, e Saulo Jennings (Casa do Saulo Tapajós), um dos principais embaixadores da culinária amazônica no Brasil e no mundo.
Um dos diferenciais do festival paraense é a imersão que os visitantes terão na culinária local, visitando o Ver-O-Peso e conhecendo como se produzem os ingredientes. “Eu já participei de muito festivais no Brasil e no mundo. E a gente lembra como era a nossa estrutura, é algo que ninguém tinha, por isso muita gente quer vir. A gente recebe, acolhe as pessoas. Tem toda uma programação de passeios de conhecimento da cultura que temos aqui. É um passeio obrigatório! Qualquer outro festival você chega para fazer a comida e a programação é por sua conta. Aqui a gente cria uma programação cultural voltado para o festival”, reforça Dani Martins.
Ao longo de quase 20 anos, o evento impactou mais de 150 mil pessoas - e a expectativa é que a nova edição, que acontece no momento em que a capital paraense recebe a COP 30, atinja sozinha mais 150 mil. Um dos maiores destaques da programação é o tradicional Jantar das Boieiras, em que as grandes representantes da cozinha paraense farão os pratos principais e os chefs convidados criarão os acompanhamentos.
“Isso é de muita alegria. Há muitos anos atrás, vieram dois chefes comigo. Eu fui levar eles para fazerem compras e um prato de comida comigo. Quando eles chegaram aí na feira do Ver-O-Peso ficaram doidos, porque onde eles moram não tem o tempero que nós temos. É só em pó. E nós aqui temos tudo verdinho, tudo fresquinho, eles adoram a nossa comida e nosso tempero também”, conta Osvaldina.
Para a chef Dani Martins, as boieiras também praticam a alta gastronomia ao lidar com respeito ao alimento, com todos os cuidados necessários. “Queremos trazer de volta o que é a gastronomia, o que é o prazer de comer em Belém. Para mim alta gastronomia é fazer bem feito, seja numa feira, seja num grande restaurante, seja na barraquinha de tacacá, ser bem feito, ser bem atendido, é alta gastronomia”, enfatiza.
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