Embalagem biodegradável de açaí: laboratório da UFPA desenvolve tecnologias com produtos da Amazônia
Os pesquisadores miram em formas sustentáveis para desenvolver produtos, como temperos aprimorados e cosméticos naturais.
A Amazônia é rica em recursos naturais que oferecem inúmeros benefícios e alternativas sustentáveis à comunidade, embora muitos sejam desperdiçados. Nesse contexto, surge, em 2023, o Laboratório de Biossoluções e Bioplásticos da Amazônia (Laba) da Universidade Federal do Pará (UFPA), que atua na pesquisa de tecnologias inovadoras e sustentáveis, a fim de desenvolver biossoluções que levem ao desenvolvimento econômico e social de uma maneira ecologicamente responsável. O laboratório atua em projetos como embalagens biodegradáveis à base do açaí, cosméticos naturais e óleos amazônicos.
“Nosso laboratório sempre vai buscar inovações para conseguirmos ter um desenvolvimento sustentável efetivo na região amazônica. Todos os alunos, além de trabalharem a parte técnica, eles primam pela sustentabilidade”, relata o coordenador do Laba, Davi Brasil, acerca da missão do laboratório de trabalhar com respeito ao meio ambiente.
Localizado na faculdade de Engenharia Química da UFPA, o Laba reúne alunos de várias esferas acadêmicas, desde quem está na graduação até estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Além do meio universitário, o laboratório recebe alunos do ensino médio, por meio de projetos de iniciação científica, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-EM).
O contato dos estudantes com as pesquisas no laboratório possibilita um maior entendimento da teoria acadêmica. “É um divisor de águas na minha formação. Desde os primeiros momentos no laboratório, trabalhando com leito de jorro e secagem de materiais, percebi que a ciência vai muito além da sala de aula. É na pesquisa que a teoria ganha vida, que os conceitos se transformam em resultados que podem impactar a sociedade”, conta Nian Queiroz, doutorando em engenharia química.
Iniciativas do Laba
Embalagens biodegradáveis a partir do caroço de açaí
O processo de produção do açaí que chega às cuias dos paraenses resulta no descarte de grandes quantidades de caroços do fruto, que podem ser utilizados de várias formas. Pensando nisso, um dos projetos desenvolvidos pelo Laba utiliza o caroço do açaí para a produção de embalagens biodegradáveis.
O caroço é rico em tanino, uma substância que, ao incorporá-la com o amido de mandioca, resulta na produção de bioplásticos, uma alternativa sustentável ao plástico do petróleo presente na maioria dos produtos utilizados no cotidiano. “Estamos falando de um plástico (de petróleo) que dura na natureza até centenas de anos, que poderiam estar sendo substituídos por um material que, na natureza, em até 180 dias estaria degradado”, explica o professor José Rego, que coordena pesquisas no Laba.
Pimenta do reino aprimorada
Outro projeto do Laba envolve recobrir a semente da pimenta do reino com um filme comestível de amido de mandioca, o que aumenta a validade dela de dois para oito anos, em comparação com o produto não recoberto. Além de superar o tempo de vida útil, a película preserva as características da pimenta do reino, como o cheiro e o sabor.
“A semente tem uma capacidade de absorver água. Quando ela absorve água, fica uma condição propícia para o aparecimento de fungos. Então, quando eu isolo essa pimenta, diminui a capacidade desses fungos a atacarem. Dessa forma, eu aumento o tempo de vida útil e preservo as essências da pimenta”, detalha José Rego.
Cosméticos naturais e veganos
Os produtos de beleza e de cuidados com a pele também podem ser beneficiados a partir do uso de recursos naturais amazônicos, como óleos vegetais extraídos no laboratório (açaí, castanha-do-Pará, andiroba, buriti) e manteigas (de murumuru e cupuaçu).
O uso dos produtos amazônicos oferece benefícios aos cosméticos produzidos, como o combate aos radicais livres – que podem prejudicar células do corpo – por meio de antioxidantes. “O óleo de açaí é rico em atividade antioxidante. Então, fazemos a extração, analisamos o óleo e o implementamos em um cosmético para fazer um benefício à pele”, exemplifica Thayssa Abreu, graduanda de engenharia química que atua no Laba.
Óleos da Amazônia
Os pesquisadores do Laba reaproveitam recursos e resíduos, como folhas, amêndoas e sementes, que seriam descartadas com a finalidade de gerar novos produtos com novas funcionalidades.
Um desses produtos são os óleos da Amazônia, que têm potencial antibactericida, cicatrizantes, aromatizantes e outras aplicações. Os óleos são feitos a partir da andiroba, açaí, castanha-do-Pará, copaíba e outros recursos.
“Buscamos sempre avaliar a questão da biodiversidade e da bioeconomia. O que podemos fazer com o que antes era descartado pela população”, informa a doutoranda Nayara Silva, que atua com diversas etapas do processo de produtos naturais.
Desafios
Para produzir todos esses projetos, são necessários muitos equipamentos, pesquisadores e manutenção, o que gera um custo alto – sendo o maior desafio da pesquisa. “A manutenção do laboratório precisa de recursos financeiros para conseguirmos fazer manutenção, conseguir equipamentos, pagar bolsa para os alunos. Então, é importante que a iniciativa pública e privada enxergue os laboratórios dessa forma”, afirma o professor Davi Brasil.
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