Belém sob a fumaça: clima de queimada repercute em vários bairros

Baixa visibilidade pela manhã e forte cheiro chamam a atenção. Inmet e Semas explicam fenômeno

Redação integrada de O Liberal

20.08.20 10h14

Forte fumaça e cheiro de queimado foram sentidos em vários bairros de Belém esta manhã (Igor Mota / O LIberal)

Belém sente nesta quinta-feira (20) mais um dia com forte cheiro de fumaça e visibilidade reduzida no céu da capital. O fenômeno repercutiu nas redes. Várias postagens registraram reclamações. Os relatos se repertiram em diversos bairros.

No marco agora. Muita fumaça e cheiro de queimado. @belemtransito pic.twitter.com/3ccARG7n0W
— alexandra castro (@_alecastro) August 20, 2020

No Marco e no bairro do Curió-Utinga, o cheiro de fumaça se intensificou. Na Cremação e em outras vizinhanças os relatos já duram uma semana.

isso é neblina ou fumaça em Belém? Kkkkkkkkkk tomei um susto pic.twitter.com/tqRbawRFEd
— :) (@sonofwh0) August 20, 2020

Esta manhã, a fumaça também podia ser avistada no horizonte pelos motoristas que enfrentaram o trânsito na BR-316. O mesmo se repetiu logo cedo em corredores como a Almirante Barroso.

Muita fumaça pic.twitter.com/BTe2urxem4
— Bruno França 🇧🇷 🇱🇧 🇹🇷 (@bruno_fatcat) August 20, 2020

Inversão térmica motiva fenômeno

De acordo com o coordenador do Núcleo de Hidrometeorologia da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Saulo Carvalho, o fenômeno é comum nesta época do ano, por conta da escassez de chuvas e tempo seco. O meteorologista explicou que a fumaça densa, vista no começo da manhã nos últimos dias em Belém, é ocasionada pelo fenômeno da inversão térmica, muito comum nos centros urbanos com grande incidência de poluentes.

Esse processo ocorre quando o ar frio (mais denso) é impedido de circular por uma camada de ar quente (menos denso), provocando uma alteração na temperatura.

"Durante a noite e a madrugada, o ar que ficou próximo à superfície teria resfriado mais rapidamente. Como o ar frio é mais pesado do que o ar quente, ele não consegue subir. Ele fica 'estacionado' aqui. Então, qualquer partícula que a gente tenha no ambiente nesse momento, seja poeira, fuligem que sai dos carros, até fumaça, que são partículas mais leves que o ar, elas ficam aprisionadas junto ao ar frio", explicou o meteorologista.

De acordo com o especialista, o fenômeno tem abrangência local, isto é, estaria necessariamente ligado às ocorrências na região metropolitana e não teriam relação com queimadas no interior do Pará. "Não tem ligação com as queimadas no Estado, porque é um fenômeno extremamente local. Como essa situação de ar, que é pesado, impede a circulação dessas partículas de se dispersaram... em termos práticos, é como se tivesse um tampão em cima. Se durante o dia acontece alguma coisa, queima alguma coisa, à noite, quando esfria, esse ar fica aprisionado", detalhou.

Tá impossível hoje.
— Victor Gurjão (@gurjaovictor) August 20, 2020

Temporada de clima seco

Ainda nesta quarta-feira (19) o Inmet e a Semas já havia confirmado à reportagem que uma massa de ar seco (predominante no Oeste e Central do País) tem se situado de forma expressiva em todo o Estado e chamado a atenção dos técnicos do Inmet. De 22 de julho até esta quarta-feira (19), a Região Metropolitana de Belém teve apenas dois dias de chuva: dia 3 deste mês, com 5 ml, e no dia 8, com 0.9 ml. Há previsão de chuva também para essa quinta-feira.

Névoa pode ser avistada no horizonte até em Ananindeua (Lázaro Magalhães / O Liberal)

“Esse é um fato raro. Quase 30 dias sem chover na RMB”, afirmou José Raimundo Sousa. No Sul do Pará, já são 60 dias sem chover. A unidade relativa do ar na RMB é de 38%, ou seja, ar seco, quando o normal é na faixa de 50%. No Sul do Pará, a taxa é inferior a 20%, o que tem alarmado produtores rurais. O ar muito seco é prejudicial à saúde dos seres humanos.

A temperatura na Grande Belém tem variado de 23.5 ºC (mínima) a 36.8ºC (máxima). No Sul e Sudeste paraenses, já chegou a 39 ºC, o que aumenta o risco de fogo na vegetação. No final do mês, deverão retornar as chuvas no Estado.