Belém registra mais de um acidente de trânsito por hora
Bebida, estresse e imprudência são as principais causas, juntamente com a falta de fiscalização
Relatório da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) referente ao período de janeiro a agosto de 2020 mostra que a capital paraense registrou 6.926 acidentes envolvendo carros e motos. Desse total, 36,02% resultou em feridos e 1,16% em mortos “A maioria das vítimas são motociclistas, que respondem por 60,16% dos acidentes com feridos e 43,75% das ocorrências fatais”.
LEIA MAIS:
- Motorista do acidente da av. Nazaré segue entubado no Hospital Metropolitano de Ananindeua
- Mãe e filha de 2 anos morrem após 'racha' no bairro de Nazaré, em Belém
- Mãe e criança morrem em acidente de trânsito na rodovia BR-316
- Grávida e mais quatro pessoas ficam feridas em acidente na via expressa do BRT
- VÍDEO: Homem sofre acidente de moto e fica embaixo de carro na rotatória da Mário Covas
- Acidente grave entre ônibus e carro particular deixa uma pessoa ferida, na avenida Almirante Barroso
- Ciclista é atingido por ônibus em ciclofaixa na avenida Centenário
No levantamento do ano inteiro chega-se à marca de 10.283 acidentes, registrados no sistema do Departamento de Trânsito do Estado (Detran), sendo que destes, 3.622 deixaram feridos e 134 levaram à perdas de vidas humanas. A maioria, 11.385, envolveu condutores de veículos, e 3.380 tiveram motocicletas como vítimas ou causadores, levando a 64 mortes. Só em janeiro deste ano foram 894 acidentes na capital, com 371 pessoas feridas e oito mortas.
A análise dos dados reflete uma realidade preocupante: a cada hora, pelo menos um acidente é registrado na cidade, uma média de 856 por mês e 28 por dia. Na relação do percentual de vítimas por tipo de ocorrência, a colisão entre veículos é a mais frequente e responde por 86,70% dos casos. A maioria das vítimas são motociclistas, que respondem por 60,16% dos acidentes com feridos e 43,75% das ocorrências fatais
Embora os dados de acidentes referentes a 2021 ainda estejam sendo consolidados, de acordo com a SeMOB, o aumento e a gravidade desses números vem sendo confirmados com as ocorrências mais recentes, como as das últimas semanas, onde pelo menos dois acidentes resultaram em quatro mortes violentas. No dia 18 uma advogada e o filho dela, de apenas 2 meses, morreram após o carro de passeio da família ter sido atingido por uma carreta na rodovia BR-316.
No dia 26 mãe e filha de 2 anos morreram em um acidente, cujas circunstâncias ainda estão sendo investigadas pela polícia, envolvendo dois carros de passeio em plena avenida Nazaré, no centro da cidade. Entre tantas histórias de dor há o relato de quem “pulou a fogueira” e encontrou forças para dar a volta por cima.
O analista de sistemas Reinaldo Brasil, 38 anos, é uma dessas pessoas: “Eu sofri um acidente de moto em janeiro de 2004 na avenida Augusto Montenegro, próximo ao conjunto Tapajós, onde um caminhão foi fazer um retorno e atravessou a pista na minha frente. Para evitar o choque freei bruscamente e a moto caiu por cima de mim, dilacerando a minha perna”.
Reinaldo conta que o acidente o transformou. “O que me marcou foi a chance de recomeçar a vida, mesmo com a limitação da amputação”, afirma. Para ele, “a principal causa de acidentes na Grande Belém é a falta de educação da maioria dos condutores e de um trabalho intensivo de fiscalização”.
“Em 2014 recomecei a pedalar e a ter uma nova visão do trânsito e da cidade. A bicicleta é um modal muito utilizado e pouco respeitado. Eu me tornei um melhor motorista após adotar a bicicleta”, diz. Ele desenvolve trabalho voluntário - já atuou no projeto Bike Anjo e participa de outro, o Ponto de Apoio, com passeios de bicicleta para pessoas idosas, crianças especiais e pessoas com deficiência no Parque do Utinga.
Para Bento Gouveia, diretor técnico-operacional do Detran, “o estresse e a imprudência contribuem sobremaneira para os acidentes”. “Temos um cenário de mais investimento em sinalização viária, educação para o trânsito, melhorias na engenharia de tráfego, porém, contraditoriamente, as pessoas demonstram maior nível de estresse, possivelmente devido à pandemia. O aumento da combinação de álcool e direção é muito característico disso”, afirma.
As motocicletas lideram as estatísticas trágicas. “O não uso do capacete, o excesso de velocidade e o consumo de bebida alcoólica, muitas vezes os três ao mesmo tempo, são os fatores de risco mais recorrentes”, diz Bento. Ele destaca que ainda tem muita gente bebendo e dirigindo. “Os números de acidentes vêm caindo nos últimos anos, mas em ritmo lento. O combate à alcoolemia ainda é um desafio para os órgãos de trânsito no Brasil”.
Palavras-chave