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Aliando sustentabilidade, reciclagem gera renda e transforma a vida de famílias em Belém

Na Cootaral, cooperativa do bairro Maracangalha, centenas de famílias vivem da reciclagem e mostram que é possível gerar renda e cuidar do meio ambiente ao mesmo tempo

Gabriel Pires
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O que, para muitos, é apenas descarte, para os catadores de resíduos representa oportunidade. Na sede da Cooperativa de Trabalho dos Recicladores da Águas Lindas (Cootaral), no bairro do Maracangalha, em Belém, centenas de famílias encontram no local não somente uma atividade econômica, mas uma forma de promover, todos os dias, a sustentabilidade. “Transformamos o que seria lixo em reciclagem e geramos renda. É daqui, também, que sustento a minha família. Trabalho desde criança como catadora”, afirma a presidente da Cootaral, Sarah Reis, de 45 anos.

A história da cooperativa começou em 2005, quando um grupo de catadores decidiu se unir, ainda no bairro das Águas Lindas, em Ananindeua, com o objetivo de gerar renda por meio da coleta de recicláveis. Formalizada como cooperativa, a organização cresceu e hoje reúne cerca de 26 catadores, que atuam desde a coleta seletiva até a triagem e a comercialização dos materiais. O processo é feito em etapas e começa nas ruas da capital paraense, com o recolhimento dos itens pelos caminhões da cooperativa, como explica a presidente da associação, Sarah Reis, de 45 anos.

Os catadores percorrem bairros e condomínios, recolhendo resíduos que poderiam acabar em aterros sanitários ou sendo descartados de forma irregular nos canais da capital. De volta ao galpão da cooperativa, cada material é separado — passa por uma pré-triagem antes de chegar à cooperativa —, pesado e armazenado até ser vendido para empresas recicladoras, indústrias ou outros empreendimentos. “Algumas pessoas vêm deixar os materiais recicláveis, mas o nosso trabalho é indo para as ruas, é porta a porta. Há uma van que deixa a equipe nas rotas”, comenta Sarah.

Sarah Reis, presidente da Cootaral (Foto: Wagner Santana / O Liberal)

“No dia a dia, os cooperados são separados em três grupos de trabalho. Uma equipe faz a coleta seletiva nos bairros de Belém, como Pedreira, Marco e Marambaia. Outra parte vai até os grandes geradores, às empresas, condomínios e hospitais. Também há as equipes que ficam no galpão da sede, como o administrativo e o pessoal da triagem, que faz a separação de todo o material que é coletado nas ruas. Todo material coletado é pesado, segue para a triagem para ser preparado para a comercialização. Coletamos entre 40 e 60 toneladas de materiais por mês”, acrescenta Sarah.

Com processos já dominados pelos triadores da cooperativa, essa etapa é essencial antes de os materiais serem vendidos — seja para compradores de dentro ou fora do Pará. “Ainda nas ruas, as meninas separam plástico, papel, vidro e metal. Tudo é pesado, depois segue para ser padronizado e separado por tipo e por cor. E depois, ir para a prensa. Após isso, os materiais são direcionados para as empresas, indústrias ou para os grandes empresários, que são os atravessadores, ou seja, aquele que fica entre a cooperativa e a indústria”, diz a presidente.

O economista socioambientalista André Cutrim pontua que os catadores de recicláveis desempenham um papel importante na economia circular. “São eles que, muitas vezes de forma completamente invisibilizada, garantem que uma parcela significativa dos resíduos sólidos urbanos retorne ao ciclo produtivo. A atuação desses trabalhadores representa não apenas uma contribuição ambiental concreta, mas também uma alternativa estratégica de inclusão produtiva e justiça socioambiental”, analisa o especialista.

E André completa: “O conceito de economia circular é entendido como uma espécie de modelo que busca romper com a lógica linear de extração, produção, consumo e descarte. Trata-se de uma abordagem que propõe o reaproveitamento contínuo de recursos, a minimização de perdas e a reconfiguração dos processos produtivos para reduzir a pressão sobre os ecossistemas. Ao priorizar a reutilização, a reciclagem e o prolongamento da vida útil de materiais e produtos, a economia circular acaba por promover ganhos ambientais, econômicos e sociais”.

Trabalho gera renda para diversas famílias

Para muitos cooperados da Cootaral, a reciclagem significou a chance de conquistar uma renda regular. E os ganhos dos catadores variam conforme o que conseguem arrecadar. “São muitos desafios para aqueles que trabalham na área da reciclagem. Cada catador depende daquilo que coleta. Infelizmente, esses trabalhadores ainda não conseguem arrecadar um salário mínimo com o material que foi coletado. É um trabalho que ainda não é reconhecido pelo poder público, porque a cooperativa presta um serviço para a cidade, mas é um serviço que não é remunerado formalmente”, comenta Sarah.

A catadora de resíduos da Cootaral, Ângela Silva, de 47 anos, encontrou na atividade uma forma de geração de renda e de sustento para sua família. “Trabalho há dois anos na cooperativa. Sou analfabeta, não sei ler, não sei escrever, mas aqui na cooperativa isso não foi um problema. Eles me acolheram. É daqui que eu tiro o meu sustento. Me calço, me visto e me alimento daqui. Dá para me manter e sustentar meus filhos”, diz ela, emocionada, lembrando que trabalha diretamente na rua coletando os recicláveis.

“Com esse trabalho, também ajudamos a limpar as ruas. Isso é essencial para o meio ambiente também”, acrescenta Ângela. Quem também desempenha um papel importante no dia a dia da cooperativa é a triadora Roseli Araújo, 51 anos, que faz a seleção e separação do que chega ao local: “A cooperativa é a minha fonte de renda. Se não fosse aqui, eu não sei o que seria de nós.” “Quando o material chega até aqui, separamos o que é lixo e o que pode ser usado para poder ser comercializado”, comenta.

Roseli Araújo, triadora da Cootaral (Foto: Wagner Santana / O Liberal)

Impacto ambiental é destacado pela presidente da cooperativa

Além dos benefícios sociais, a presidente da cooperativa enfatiza que a atuação da Cootaral promove um impacto ambiental significativo. Por mês, são retiradas das ruas de Belém dezenas de toneladas de resíduos recicláveis, contribuindo para a redução da poluição e aliviando a pressão sobre os aterros sanitários. “Realizamos um serviço essencial, porque com a coleta fazemos educação ambiental com a sociedade. Fazemos a destinação correta dos materiais, tirando toneladas de resíduos que iriam impactar diretamente o meio ambiente”, observa Sarah.

“Encaminhamos tudo isso direto para a indústria, onde será formada uma nova matéria-prima e, depois, volta para o consumo, a partir de outros produtos”, pontua. “Já pensei em parar e desistir, mas parei e pensei que esse trabalho é o sustento de muitas pessoas, inclusive o meu, e que faz a diferença no dia a dia da sociedade, mesmo que pareça uma ação pequena. Tudo aquilo que parece ser lixo, para os catadores, é uma fonte de renda”, acrescenta.

Cooperativa

Sarah lembra que a expectativa, junto aos demais cooperados, é investir ainda mais na profissionalização dos membros da cooperativa. Nesse cenário, o projeto Pró-Catadores, promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Prefeitura de Belém e a Associação Nacional de Catadores (Ancat), promove a inclusão social e produtiva de 300 catadores e catadoras de resíduos e membros de 10 cooperativas de Belém, Santarém e Belterra. Na capital, a Cootaral é um dos grupos beneficiados.

Projeto leva reconhecimento à cooperativa

Ao longo deste ano, o Sebrae levará consultorias gratuitas em áreas como formalização de negócios, gestão e produtividade, além de apoiar as cooperativas na busca por parcerias com o setor público, oferecendo auxílio técnico para que prefeituras contratem formalmente os serviços prestados pelos catadores. Para Sarah, essa é uma oportunidade de desenvolvimento e de reconhecimento. “Isso significa que nosso trabalho vai ser reconhecido. Teremos formações necessárias para que a gente possa exercer a nossa atividade como verdadeiros profissionais. Caminhando junto com o Sebrae, teremos muitos avanços”, diz presidente.

“A maior parte desses catadores e catadoras autônomos trabalha sem formalização, sem acesso a direitos básicos como assistência social e previdenciária. Nossa atuação visa à capacitação desses profissionais, para que possam gerir o seu negócio de forma sustentável e se verem como empreendedoras e empreendedores da economia circular. Queremos que eles sejam vistos como empreendedores, que é o que eles são”, afirma o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno.

Magno completa: “Antes de tudo, eles mesmos precisam se enxergar como empreendedores, que geram riquezas para a economia e impactam positivamente o meio ambiente.” “O Sebrae no Pará atua fortemente no desenvolvimento de um ambiente favorável aos pequenos negócios em nosso Estado, bem como na formação e fortalecimento de empreendedores. E com os profissionais da economia circular não é diferente”, destaca Magno.

O especialista André Cutrim reforça que reconhecer e formalizar a atividade dos catadores dentro das políticas de gestão de resíduos é um passo crucial. Segundo ele, “promover justiça social e construir políticas públicas verdadeiramente inclusivas pressupõe, antes de tudo, o reconhecimento e a formalização da atividade dos catadores”. “Esse é um passo essencial para romper com a lógica histórica de invisibilidade e precarização que ainda marca essa categoria de trabalhadores. A formalização assegura melhores condições de trabalho, segurança jurídica, acesso a direitos sociais e previdenciários”, elenca.

Segundo Cutrim, tudo isso pode “conferir dignidade a uma ocupação tão importante para a gestão de resíduos no país”. E a organização dos trabalhadores em cooperativas influencia de forma decisiva tanto a eficiência operacional quanto a valorização do trabalho dos catadores. “No plano econômico, possibilita ganhos de escala, padronização de processos, acesso coletivo a equipamentos, melhoria da logística e maior poder de negociação com o mercado, resultando em melhores preços na comercialização dos recicláveis”, acredita.

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