Além das diferenças, fé, amor e caridade unem diferentes crenças religiosas no Natal

O Natal, celebrado de diferentes formas pelas tradições religiosas, ganha sentidos próprios em cada crença, mas também revela pontos comuns. Amor ao próximo, caridade, humildade e esperança aparecem como princípios que convergem nas leituras feitas por lideranças católicas, evangélicas e de matriz africana, mostrando que, apesar das diferenças teológicas, a mensagem do Natal dialoga com a construção de uma sociedade mais justa.

Para o padre Leonardo Monteiro, pároco da Paróquia Ascensão do Senhor e coordenador arquidiocesano da Pastoral de Comunicação, o Natal marca um dos momentos centrais da fé cristã. “O Natal visa recordar a primeira vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. É o Verbo que se fez carne, a Palavra de Deus que se encarnou, habitando aquela criança frágil, o Menino Jesus”, afirma.

Segundo ele, o nascimento de Jesus em condições de extrema pobreza não é um detalhe, mas um símbolo fundamental. “O Deus todo-poderoso assume a fragilidade de uma criança com um propósito que é a redenção da humanidade. Jesus nasce em meio à pobreza para mostrar o que realmente é essencial: não o luxo, nem os poderes terrenos ou econômicos, mas a simplicidade e a fé”, analisa o católico.

O padre destaca ainda que o Natal não deve ser visto como um momento isolado de boas ações. “O Natal não é o ponto final da caridade, mas o ponto de partida. É o pontapé inicial para que, ao longo de todo o ano, as pessoas sejam mais generosas, pratiquem o bem, partilhem com quem tem menos e apoiem causas humanitárias”.

Para o pastor Júnior dos Santos, da Assembleia de Deus, o Natal representa a expressão máxima do amor divino. “Para nós, evangélicos, o Natal não é apenas uma data comemorativa, mas a celebração do maior ato de amor de Deus pela humanidade”, explica, citando a passagem bíblica: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito”.

Aproximação de Deus

Na visão evangélica, o nascimento de Jesus simboliza a aproximação de Deus com a humanidade. “O nascimento de Jesus representa esperança, salvação e reconciliação. Ele nasce para transformar vidas, restaurar corações e oferecer um novo caminho baseado na graça e na verdade”, diz.

O pastor ressalta que esse período convida a uma mudança de atitude. “Nossa fé nos chama a olhar menos para o consumo e mais para o propósito do Natal. Somos estimulados a exercer compaixão, cuidar dos mais vulneráveis, fortalecer os laços familiares e viver, com palavras e ações, aquilo que Jesus ensinou.”

Já em algumas religiões de matriz africana, como é o caso do tambor de mina, o Natal é compreendido como um tempo de reflexão espiritual e compromisso com valores universais. “Para nós, o Natal é um tempo de reflexão profunda, voltado ao amor, à caridade e à fraternidade entre todos os seres”, afirma Mãe Eloísa de Badé, do Terreiro de Mina Dois Irmãos.

Ela destaca que a data também reforça a importância da convivência entre diferentes crenças. “Nossa religião ensina o respeito às diferenças e a convivência harmoniosa entre crenças. Por isso, o Natal nos lembra da tolerância religiosa e do diálogo entre os povos”, completa.

Sincretismo religioso

Pelo sincretismo religioso, Jesus é reconhecido como a divindade Oxalá, considerada o Orixá-Maior. “Compreendemos Jesus como Oxalá, o Orixá Maior, símbolo da criação, da paz, da fé e da união. O nascimento de Jesus representa a chegada dessa energia de amor e equilíbrio ao mundo”, explica.

Segundo Mãe Eloísa, as ações estimuladas nesse período vão além do simbolismo. “Somos chamados a agir com mais consciência, humildade e solidariedade. Cada gesto de amor, de acolhimento e de caridade é uma forma de honrar Oxalá”.

As tradições convergem no aspecto central de que o Natal não se limita a um ritual ou à data de 25 de dezembro. Ele se traduz em práticas contínuas de amor ao próximo, solidariedade, empatia e compromisso com a dignidade humana, valores pregados por Jesus Cristo, que simbolicamente nasce nesta noite.