Vídeo revela suposto esquema entre rodoviários

Nas imagens, o presidente do Sintrebel, Altair Brandão, e o vice-presidente do Setransbel, Evandro Lima, falam sobre demissão de funcionários contrários a eles

Redação Integrada

Um vídeo gravado no dia 30 de janeiro deste ano, e que circula pela internet desde segunda-feira (2), revela um possível esquema de corrupção no setor do transporte público de Belém, com envolvimento de empresas de ônibus coletivos e sindicatos patronal e laboral da classe.

Nas imagens, onde constam a data e o horário da filmagem, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários em Empresas de Transportes Coletivos de Passageiros de Belém (Sintrebel), Altair Brandão, e o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel), Evandro Lima, aparecem em uma negociação para demitir trabalhadores dos sindicatos que provocam mobilizações entre os funcionários de empresas de transporte.

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Às 10h25 do dia 30 de janeiro de 2019, segundo informações expostas no vídeo, Brandão afirma que quer “a cabeça dos meus inimigos”, ou seja, quer que os opositores sejam demitidos. Cinco minutos depois, às 10h30, após um corte nas imagens, Lima se dirige a outra pessoa, não mostrada no vídeo, e responde “esse já não rodou?” e lembra: “ah, tu não me deste o nome dele. Quem é?”. Depois de informar o nome do rodoviário, o homem não identificado fala que “ele incentiva os trabalhadores a virem para cima do sindicato e a gente tem que fazer ação”.

Ainda no vídeo, momentos depois, às 10h48, após outro corte nas imagens, Lima destaca que a única saída para a solução do problema é a união entre os sindicatos, que ele chama de “fundamental”. Um minuto depois, às 10h49, Brandão orienta os colegas na reunião: “quem tiver assim, que corte a cabeça. Tu sabe (sic) que vem eleição por aí. É sobrevivência, meu filho”. Ele continua às 10h50: “porque o que a gente quer é eliminar esses caras da eleição”.

VERACIDADE

A reportagem entrou em contato por telefone com o presidente da Sintrebel, Altair Brandão, que também é vereador de Belém pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Ele negou a veracidade do vídeo, disse que não sabia que estava sendo filmado e justificou as declarações com uma suposta montagem das imagens. “Você pode ver que há um corte entre as falas, não temos como saber o que é verdade ou não”, destacou.

À reportagem, Brandão afirma que os representantes falavam no vídeo sobre os trabalhadores rodoviários da empresa de transporte Nova Marambaia, que atende cinco bairros da capital, com identificação “AT” nos veículos. O presidente do Sintrebel disse que Evandro Lima é o proprietário da empresa e que existe uma fiscalização contra ela, já que, de acordo com ele, em 60% das frotas, os trabalhadores trabalham cerca de 18h por dia, além dos veículos estarem “sucateados”.

“Esse empresário, o Evandro, se uniu com o dono da Belém-Rio, o Edgard (Edgard Romero Junior), e eles têm esquemas juntos. A Belém-Rio é a única empresa que implantou aquele sistema de não ter cobrador, e o motorista precisa fazer a contagem do dinheiro, colocando em risco a vida dos passageiros”, comentou Brandão. Ainda de acordo com o vereador, cerca de 180 ônibus da empresa foram paralisados após as denúncias, por conta do mau estado das linhas. Ele ainda disse que a diretoria descontava os salários de trabalhadores, alegando falta mesmo nos dias em que eles compareciam. “Ninguém faz nada contra a empresa, por isso estão armando esse esquema. Mas não adianta me intimidar, vamos continuar denunciando”, declarou Brandão. 

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Denúncia Sintrebel

No vídeo do dia 30 de janeiro de 2019, quem aparece na primeira cena é o secretário-geral do Sintrebel, Kiko Ribeiro, responsável pela denúncia. A reportagem não conseguiu localizá-lo, mas, de acordo com o presidente da entidade, Altair Brandão, Ribeiro também teria se unido ao esquema dos empresários. “Ele é oposição, e o Evandro (vice-presidente do Setransbel) é conhecido por sustentar a categoria dos opositores ao meu mandato. Eles vão ter que provar essa denúncia”, diz Brandão.

Ainda segundo Brandão, o Ministério Público do Trabalho (MPT) teria arquivado a acusação de Ribeiro, embora o órgão não tenha respondido à reportagem antes desta publicação. “Estou processando eles e não estou preocupado. Isso sempre acontece na época da eleição”, argumentou. Embora conste nas imagens o momento em que o presidente do Sintrebel pede a "cabeça dos meus inimigos", ele garante que nunca pediu isso, mas se contradiz ao afirmar que quis a demissão “desse pessoal porque sempre fazem alguma armação”. Brandão ainda chamou Ribeiro de "X9" (termo popular para designar informantes).

Em nota enviada à redação, o Setransbel informa que a gravação ocorreu durante uma reunião realizada a pedido do Sintrebel. “Na ocasião, os rodoviários da empresa Nova Marambaia estavam em iminência de paralisação e, para escutar a reivindicação dos mesmos, a reunião foi realizada. Esse tipo de reunião entre empresas e rodoviários acontece com frequência para dirimir assuntos inerentes à categoria”, diz a nota do Setransbel ao jornal. A entidade não se posicionou sobre a veracidade das imagens.

Sindicalista é apontado em desvio de R$ 300 mil

Outro vídeo, do dia 10 de janeiro deste ano, também divulgado ontem, traz uma segunda denúncia contra o presidente do Sintrebel, Altair Brandão. Em texto exposto no arquivo, consta que “o vereador Altair Brandão pegou dinheiro da categoria rodoviária para financiar a campanha dele em 2016 para presidente da entidade. Ele emprestou em nome do sindicato mais de R$ 300 mil no banco Guanabara, que é do dono da Belém-Rio, Sr. Jacob Barata”. Logo após o texto, aparece a imagem do sócio-proprietário da empresa Belém-Rio, Edgard Romero Junior, conversando com um homem não identificado, que está por trás da câmera.

O vídeo também mostra que, às 15h40, Romero afirma que “todo o dinheiro da mensalidade deles (...). Eles nunca botaram em banco, eles receberam em dinheiro”. Um minuto depois, o empresário diz que “eles não deram entrada nesse dinheiro no sindicato”. Poucos minutos depois, às 15h44, ele explica o funcionamento do esquema: “eu tenho que pagar para eles, por exemplo, 30 mil (reais). Eu pego 16 mil (reais) desse dinheiro, pago no banco. Quando chegar para pagar os 30 mil (reais), eu te dou 14 (mil reais) e te dou o recibo de 16 (mil reais)”, diz.

As imagens mostram ainda que, na sequência, às 15h47, Romero afirma que o dinheiro “não entra na contabilidade do sindicato” e, sim, na campanha política “dele” – se referindo a Brandão –, e completa dizendo: “só se eu fosse trouxa para achar que foi para o sindicato”. Um minuto depois, às 15h48, o empresário afirma: “como o dinheiro do Setransbel não entra, esse dinheiro não entra lá (...). Está sendo desviado para o bolso deles ou para algum lugar”. Às 15h50, a pessoa não identificada pergunta se “os dois” assinaram o recibo, ao que Romero responde que “foram três ou quatro assinaturas”, incluindo “Ewerton, Marinaldo, Altair”, disse.

À reportagem, o vice-presidente do Sintrebel, Ewerton Paixão, mencionado por Romero, retrucou que o vídeo é uma “politicagem” e está ligado à oposição. Ele garantiu que o sindicato já fez Boletim de Ocorrência para responsabilizar quem tenta prejudicar Brandão. Paixão também disse que Ribeiro, responsável pelas denúncias “tenta denegrir nossa imagem”. O presidente da entidade, por sua vez, disse que não tem conhecimento sobre o dinheiro citado no vídeo.

Denúncia Sintrebel 2

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