Reforma do Imposto de Renda pode causar perda de R$ 1 bilhão ao Pará
Por outro lado, proposta vai gerar redução da carga tributária, com corte da alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica
Na última semana, representantes de governos locais reagiram ao relatório da reforma tributária do Imposto de Renda das empresas, pessoas físicas e investimentos, cobrando a rejeição da proposta, apresentada na terça-feira (13). De acordo com o Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz), se aprovadas, as mudanças vão provocar perdas de R$ 27,4 bilhões aos estados e municípios em 2023, enquanto a Confederação Nacional de Municípios (CNM) calcula que a perda exata de receita somente dos municípios será de R$ 13,1 bilhões. Especialistas ouvidos por O Liberal disseram que, no Pará, os prejuízos totais estimados com a redução do Fundo de Participação dos Estado (FPE) e Fundo de Participação dos Municípios (FPM) chegam a R$ 1,1 bilhão, a partir de 2023.
Durante a entrega do documento, o relator da matéria, deputado Celso Sabino (PSDB/PA), falou sobre a redução da carga tributária que as alterações vão provocar, resultado esse que atende os anseios dos brasileiros. Sabino propõe a redução da alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica de 15% para 2,5% para todas as empresas ativas no Brasil com tributação do lucro real, presumido ou arbitrado com ganho final até R$ 20 mil. O corte será de dez pontos em 2022 e o restante em 2023. Para lucros acima de R$ 20 mil, o corte proposto é de 25% para 15%, e, em 2023, para R$ 12,5%. Em relação à tributação de dividendos, o relator afirmou que será cobrado uma alíquota de 20%.
Nos cálculos do deputado do Pará, avalizados pelo Ministério da Economia, a perda líquida de arrecadação com a reforma em 2022 seria de R$ 27 bilhões e, em 2023, de R$ 30 bilhões. No entanto, segundo Comsefaz e CNM, a união ficaria apenas com uma pequena parte do prejuízo (R$ 2,6 bilhões), enquanto o restante do prejuízo sobraria para os governos locais.
Em relação ao Pará, considerando valores de 2021, por exemplo, segundo dados obtidos pelo Jornal O Liberal, quase R$ 550 milhões dos cerca de R$ 5,5 bilhões de FPE deixariam de ser repassados ao Estado, assim como mais de R$ 360 milhões dos R$ 3,6 bilhões de FPM e mais de R$ 193 milhões em retenções do imposto de renda. Isso pode ocorrer porque a arrecadação do Imposto de Renda das empresas é compartilhada com gestões municipais e estaduais através do FPM e FPE, duas transferências constitucionais obrigatórias.
Para compensar as perdas com arrecadação, Sabino propõe o corte de benefícios a quatro setores específicos da economia: indústrias de perfumaria, cosméticos e produtos de higiene; de aeronaves e embarcações; de produtos químicos e farmacêuticos; e desconto no PIS/Cofins sobre compra de carvão e de gás natural por termelétricas. Outra fonte de compensação seria o fim dos supersalários no serviço público e a tributação dos auxílios para o funcionalismo, como auxílio-moradia e auxílio-transporte de agentes públicos, discutidos em projeto paralelo.
“Aquela compensação que tem aí, é somente de tributos não compartilhados. Por isso que a perda da União fica minimizada, muito pequena. Porque na tabela que o relator fez, ele colocou várias compensações com tributos não compartilhados (com estados e municípios)”, declarou o diretor institucional da Comsefaz, André Horta.
Segundo ele, após expressar sua discordância em relação a proposta, a entidade deve apresentar, nesta segunda-feira (19), sugestões de como as mudanças podem ser feitas, de modo que não venha a ferir o pacto federativo.
“Quem realiza o serviço na ponta são estados e municípios e tem acontecido continuamente da população cada vez mais exigir mais e melhores serviços. Por outro lado, diversas alterações que há no federalismo é no sentido de reduzir esse serviço”, observa. Ele destaca ainda pesquisa divulgada pelo Datafolha que aponta que 84% dos entrevistados querem que o Estado tribute os mais ricos, para ter recursos para estender os serviços prestados.
“É vontade da maioria expressiva da população brasileira, que é como se faz em todos os países desenvolvidos. Esse tipo de iniciativa de progressividade inclusive reduz a carga tributária, porque você faz a arrecadação em extratos mais altos e isso se transforma em serviços públicos e repercute no aumento da própria renda da família, porque com a escola melhor, ele direciona os recursos para outra coisa. Se você reduzir os impostos que incidem para a população que tem menos renda, a pessoa paga menos e transforma esse dinheiro em outra compra, faz a economia girar. Por isso, é saudável para a economia fazer a tributação progressiva”.
RELATOR
Considerando que estados e municípios são os entes federativos que mais enfrentam as demandas sociais diretamente e diariamente na ponta, o deputado federal Celso Sabino defende que é muito importante o sistema federativo prestigiá-los. Ele argumenta, contudo, que esses entes têm apresentado nos últimos meses recordes de arrecadação amplamente divulgados, bem como estão recebendo os maiores valores de repasses através do FPM e FPE, R$ 116,5 bilhões .
“Também deve ser considerado que as compensações pagas referentes à Lei Kandir atingiram o valor de R$ 4,5 bilhões e devidamente repassados diretamente aos estados, além de R$ 1,5 bilhões aos municípios. Além do mais, o FUNDEB, regulamentado em 2020, garantiu mais 54,5 bilhões em 2020 e R$ 36,5 bilhões em 2021”, diz Sabino. “Também levar em conta os valores da cessão onerosa, responsável pelo repasse R$ 11,7 bilhões, valores para estados e municípios. Além disso, ano passado houve um aporte de R$ 60,1 bilhões para ações de enfrentamento aos efeitos da pandemia e de outros R$ 15 bilhões, com a provisão de uma perspectiva de queda de arrecadação, o que não se confirmou, na verdade, a arrecadação desses entes cresceu”, completou.
Além disso, o relator entende que a perspectiva do crescimento econômico que o Programa de Ajuste no Imposto de Renda propõe vai trazer benefícios pra todos, com o crescimento da atividade econômica, das vendas, gerando mais empregos, novos projetos e fazendo com que cresça, consequentemente, a arrecadação de estados e municípios, com tributos como ICMS e ISS. “Por fim, conforme estabelecido na Lei de Responsabilidade Fiscal, trata-se de medida com repercussão geral, gerando benefícios a todos, tanto empresas, quantos pessoas físicas, e para isso é necessário que estados e municípios, assim como a União, façam o investimento no Brasil como um todo, para gerar o crescimento da atividade econômica e assim gerar mais empregos”, ressalta.
Ele destaca ainda a redução do imposto de renda das pessoas jurídicas de 15% para 2,5% e atualização da tabela de imposto de renda das pessoas físicas, de modo a deixar a metade dos contribuintes na faixa de isenção do tributo. “Os mais pobres não pagarão imposto de renda”, afirma. “Ninguém vai perder. A economia vai crescer e vamos ter é aumento de arrecadação federal. Com isso, aumentarão os repasses. E arrecadação estadual também, com a atividade econômica pujante”, concluiu.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA