PF investiga ligação de Castro com proteção ao Comando Vermelho na Alerj
Um despacho do governador do Rio entrou na mira da Polícia Federal
Um despacho do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), está na mira da Polícia Federal (PF) e é considerado a primeira evidência do chefe do Executivo fluminense na investigação sobre a influência do Comando Vermelho (CV) dentro do Palácio Guanabara.
O ato, assinado por Castro de última hora, forçou a publicação de uma edição extraordinária do Diário Oficial do Estado em 3 de setembro. Isso ocorreu no mesmo dia em que o ex-deputado TH Jóias, Thiego Raimundo dos Santos Silva, foi preso pela PF por suspeita de lavagem de dinheiro, compra de armas e drones, e relações com chefes da facção no Estado.
Na ocasião, o governador exonerava às pressas o então secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani (MDB). Essa ação é investigada no contexto das apurações que envolvem o cenário político do Rio de Janeiro.
Manobra Política em Destaque
A manobra, segundo fontes ligadas à investigação ouvidas pelo Estadão, tinha como objetivo forçar diplomaticamente a saída do cargo de TH Jóias. A intenção era evitar que a Alerj fosse obrigada a votar a manutenção ou relaxamento de sua prisão, conforme as regras estaduais.
A explicação é que TH Jóias era o segundo suplente do partido. Com a morte de um deputado, a vaga surgiu. O primeiro suplente, Rafael Picciani, optou por não assumir e foi para o secretariado de Castro, abrindo caminho para TH. Com a volta de Picciani, o deputado preso perderia seu assento, eliminando a necessidade de avaliar sua prisão.
O movimento, resultado de uma articulação relâmpago, é visto como uma tentativa de driblar um processo político. Tal processo poderia expor a Casa Legislativa de duas maneiras, dependendo do resultado da votação, que tinha 45 dias para ocorrer.
Duas Possíveis Exposições da Alerj
A primeira forma de exposição seria seguir com uma medida impopular: tirar da prisão um parlamentar que já havia sido preso por tráfico e era suspeito de ligação direta com a cúpula do Comando Vermelho. A segunda opção, caso a prisão fosse mantida, poderia ter impactos mais desastrosos.
Essa segunda opção resultaria no rompimento com o braço do Comando Vermelho dentro do Legislativo, transmitindo uma mensagem de destruição de pontes com os líderes do tráfico. No dia da movimentação, Cláudio Castro ainda foi às redes sociais falar sobre a manobra, hoje vista como suspeita pela PF.
Ele publicou que "por minha determinação, o deputado estadual Rafael Picciani está retomando seu mandato na Assembleia Legislativa. Ele substitui o deputado estadual TH Joias, preso hoje em ação conjunta das polícias Civil e Federal e do Ministério Público".
Ligações Eleitorais e Investigação do STF
Na decisão que determinou a prisão de Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sugere que todo o trâmite endossado e assinado por Castro tinha relação com a necessidade de garantir votos para as eleições de 2026.
O despacho do governador é classificado como uma "célere manobra regimental". Seu efeito imediato seria um "controle de danos", retirando o parlamentar do posto e visando desvincular a imagem da Alerj do investigado TH Jóias, conhecido aliado político de ambos os poderes.
Em um segundo momento, afirmam os investigadores, a estratégia com essa "ação obstrutiva" seria obter "a manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho". A facção é responsável pelo maior controle territorial do Rio de Janeiro, o que se traduziria em milhões de votos no pleito eleitoral que se aproxima.
Por fim, Moraes determinou ao governo do Rio o fornecimento de todas as informações de acesso aos sistemas online oficiais em que tramitaram documentos referentes à exoneração de Picciani do cargo de secretário. Isso inclui horário, usuário responsável e logs de acesso. O ministro do STF mandou ainda que a Imprensa Oficial do Estado forneça os dados e horários referentes ao pedido para a criação da edição extraordinária de 3 de setembro de 2024.
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